sexta-feira, setembro 13, 2013
Sorri, quando percebes que nada mais funciona
A imagem é já um clássico. Em cada escritório, em cada parede. Há sempre alguém que resolve ilustrar a diferenca entre o que se sonha e o que se concretiza.
Embora perceba o "boneco", a verdade é que nunca me tocou algo do género. Em 7 anos que levo deste lado a "virar frangos", considerando o número de pessoas com que trabalhei, acho que já posso formar uma opinião. Competência e organizacão. É esta a imagem que guardo das pessoas e dos sítios por onde passei. E já foram muitos.
Até hoje. Até este exacto momento.
Há 3 semanas comecei um projecto novo que encaixa como uma luva no desenho, mas ao contrário.
Em vez de ser eu a vender um sonho ao cliente, foi ele que me contou a história da carochinha.
Há sempre uma primeira vez para tudo.
A história é simples. Vou passá-la para cimento e talochas. Toda gente sabe o que é uma talocha e eu gosto de escrever a palavra "talocha" pelo menos 3 vezes por mês.
Chamaram-me para construir as paredes de uma casa. Antes de assinar o papel perguntei: "as fundicões já estão feitas?". "Sim, sim. É chegar lá e fazer só as paredes", disseram. Cheirou-me a trabalhinho tranquilo.
Quando lá cheguei perguntei: "posso ver o chão da casa?". Mostraram-me um papel com bonecos em power point. "Não, não...quero mesmo ver a coisa real, o cimento e tal...". "Cimento? O que é cimento?", perguntaram. Bom...aqui comecei a ficar preocupado. Contrataram-me para levantar paredes mas não sabiam que uma casa devia ter chão. Ninguém sabia. Numa equipa de 4 especialistas em casas, nenhum sabia que uma casa tem um chão.
Muito bem. Tenho que fazer o chão também. Que seja.
Expliquei o que era cimento e perguntei se servia para a casa deles. Olharam para uns papéis, trocaram alguns olhares e convictos disseram: "Claro que serve!"
Muito bem. Peguei na pá, no cimento em pó, na areia e comecei a misturar. Ao fim de uma semana passa um gajo que eu nunca tinha visto na vida e pergunta: "o que estás a fazer?". "O chão da casa", respondo. "Com cimento não funciona, tem que ser com madeira!", diz ele assustado. Perguntei-lhe de que planeta vinha e depois de perceber que ele era o único que sabia o que estava a dizer naquele edifício, fui falar com a equipa de especialistas em casas. "Não pode ser cimento, tem que ser madeira. Podem ir comprar madeira, sff?". "Madeira? O que é madeira?", perguntaram.
Um deles, com alguma alegria, disse: "Isto está a correr bem. Sabemos cada vez mais sobre casas."
Por esta altura tenho a sensacão que vi algum fumo na minha orelha esquerda. Mas sim, é positivo, estamos todos a aprender. Eu por exemplo aprendi que para a próxima tenho que ver a fruta antes de meter o X.
Passei 3 semanas a perceber que aquilo para que me contrataram não é possível de executar e eles, uma vez compreendido o erro, atiram um: "então olha...e se em vez de uma casa fizéssemos apenas uma cubículo para arrumacões?". "Por mim tudo bem, com ou sem janela?", perguntei.
"Janela? O que é uma janela?", ouvi.
Mas sempre com um sorriso. Sempre.
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