Em gaiato (grande início de prosa) detestava o mês de Setembro.
Aquela deprimente campanha do "Regresso as aulas é no Continente" sempre me fez pensar.
Miudos correndo, sorrisos estampados, euforia reflectida em canetas e borrachas. Onde arranjava o Belmiro estas criancas? Quem é que, no seu perfeito juizo, queria trocar as tardes de bola e de praia por um estojo com a estampa do "Italia 90"? Eu não.
Nunca me perguntaram se eu queria ir para a escola. Disseram-me que tinha que ir. Primeiro para saber ler, escrever e contar, depois para aprender que Índios foram chacinados nos Descobrimentos e mais tarde, reza a lenda, para arranjar um emprego.
Ora...não há nada mais aborrecido do que fazer qualquer coisa só porque sim. "Tem que ser", "é bom para ti", "o futuro" e por aí fora.
Portanto, o mês de Setembro, para mim, estava sempre ligado à obrigacão de...qualquer coisa.
Entretanto chegou o Avante, entre os 13 e os 14 anos. Setembro passou a ter cor. Ninguém me obrigava a ir, era eu que implorava.
Hoje em dia olho para as mesmas campanhas com o mesmo pensamento. Que puto de 10 anos é que fica feliz com o caderno pautado? Mas admito que sim.
Observo com mais atencão as trapalhadas do Crato e dos amigos. Os atrasos, as colocacões dos professores, livros novos todos os anos. Isso sim, é que é o regresso às aulas sem sorrisos.
Mas, andava eu neste considerandos lectivos quando, entre conversas e sugestões, me apeteceu voltar a estudar. Agora, depois de velho, sem tempo e sem quem me obrigue, apetece-me voltar para a escola para aprender algo que goste. Pelo simples prazer de aprender, já que em termos profissionais nada mudaria.
Mais umas voltas e descubro que o ISEG, aí em Lisboa, tem uma pós-graduacão que me interessa. Desenvolvimento das sociedades, politica internacional e coisas do género. No fundo, aquilo que fazemos todos os dias no café mas com propinas.
Apetece-me.
O problema de sonhar acordado é, quase sempre, a realidade do detalhe. Por exemplo: o dia tem 24h. Mariquices.
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