quarta-feira, setembro 11, 2013

Maria, a desatar nós desde 1927


Tenho com os lacos familiares uma relacão muito própria. Não deve ser original, admito.
Para mim, a família não é quem partilha o sangue, o espaco ou o momento. É quem fica. Tão simples quanto isso.
Olho em redor, vejo quem está e quem sempre esteve. Fica a fotografia de família tirada e emoldurada. Se temos o mesmo sangue ou não, como diria Catroga, são pêlos.
O Sebastião andava de quatro e foi parte da família. Há quem ande em apenas duas patas, tenha o mesmo sangue e eu nem o nome consiga reconhecer. Deve acontecer um pouco por todo o lado, assumo.
A senhora da imagem é um desses raros casos. Entre ventos e tempestades, nunca arredou pé.
E eu agradeco-lhe por isso. Não tanto como deveria, é certo.
Neste dia que as forcas políticas usam para relembrar Allende ou as torres gémeas (consoante o lado da barricada), eu fico sempre entretido a rever o percurso de vida da minha avó.
Não o vou passar para texto (já o fiz noutras ocasiões) mas confesso a minha profunda admiracão por quem nunca virou a cara à luta e por quem nunca desistiu de trilhar o seu caminho.
Uma espécie de asa gigante que ao longo do anos foi abrigando diversas pessoas.
É assim que a vejo...
Desde que me mudei para a Suécia que me vai seguindo com as limitacões da distância. "E lá? Está tudo bem?". A minha avó não sabe onde estou. Qualquer sítio para lá do seu Alentejo, é "lá".
"Toma vitaminas e anda de casaco, lá é muito frio!", diz-me. Casaco já arranjei, faltam as vitaminas.
Confessa-se cada vez mais velhota. Mas não. Não, não e não Maria. Pura ilusão.
Estás na mesma desde que nasci. Tu avó, eu neto. Eu a crescer e tu sempre igual. É isso. Não vamos alterar a harmonia da Natureza agora.
Desde 1927, a contar onzes de Setembro.
Parabéns.





Sem comentários: