Esta semana volto a mudar de casa. Se a matemática do Gaspar não me engana, faco-o
pela vigésima quarta vez. Já conheci mais paredes do que o Sporting títulos de
campeão.
É a
história do costume. O caixote dos livros, o dos filmes e a mala com 3
t-shirts. Já nem a PS2 que me acompanhou nas últimas 3 mudancas resistiu. Não
nasci para guardar entulho ou memórias que não estejam em forma de palavra ou
fotografia.
O Diogo ainda
enche uns quantos caixotes, mas, com o tempo chega lá.
A diferenca
desta para as 10 anteriores está no facto de, pela primeira vez desde 2003,
mudar para uma casa que é minha. Ao fim de 7 anos a comer colheradas de neve,
resolvi comprar um armário sem rodas e com janelas.
Esta manhã,
a caminho do trabalho, passei no banco que me concedeu o empréstimo para deixar
uma resma de papel assinada. Não percebo metade do que lá
está escrito (e se fosse em Português seria a mesma coisa) mas, se eu assinar o meu nome 10 vezes eles dão-me dinheiro. Nestas coisas do facilitismo, respondo sempre como o Pinto da Costa quando lhe perguntam pelo Proenca: "por mim tudo bem".
Cheguei ao
banco e não encontrei a caixa do correio. Olhei em volta e, por sorte, chegou
um funcionário que abriu o estaminé e que me fez a gentileza de receber os papéis.
Não cheguei a pisar 1 cm da carpete e voltei para o carro.
Enquanto
atravessava o rio que todos os dias me conduz à prisão, constatei que aquela conversa
de um minuto com o funcionário, foi o mais próximo que estive de entrar no
banco. Não sei quem me enviou aqueles papéis, onde se senta ou sequer como se
chama. Falámos por mail e por telefone. Imagino que o nome do camarada esteja
algures naquela resma. Com o meu BI e cruzamento de dados, ele conseguiu saber
tudo a meu respeito. Se tenho dívidas, créditos mal parados ou se sou amigo do
Dias Loureiro. Que carro tenho, onde vivo, quem me emprega e quanto me pagam. Se
já soprei no balão ou se gosto dos Abba. Se como o salmão fumado ou se prefiro
a molhanga com as ervas verdes.
Não sou um
grande fã deste Big Brother organizado mas devo confessar que poupa muitas
horas de ”Qual papel? O papel!”
Da última
vez que me candidatei a um emprego em Portugal pediram-me o CV, morada, cartão
do cidadão, carta de conducão, certidão de teor com as notas por disciplina,
certificado de conclusão do curso. Para comprar uma casa deste lado, tive que
enviar os 10 dígitos que me identificam como contribuinte. Ponto final.
Nem tudo são
almôndegas, há que reconhecer.
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