terça-feira, agosto 14, 2012

Se uma gaivota viesse...



Estava a ler um blogue aqui ao lado quando esbarrei na preocupacao, de quem escrevia entenda-se, de não ser o alvo no tiro da gaivota.
Devo dizer que mal ouco gaivota lembro-me desta cancao. "Ah e tal mas tu nem conhecias a versão da Amália Rodrigues". Falso. Tenho quase 50 anos, passei a minha meninice a ouvir a Amália e o Marceneiro. A cassette dos ministars apareceu muito depois.
Será que a Sónia dos Gift fala com este vozeirão em casa? "FERNANDOOOO, PASSA-ME O SAAAAAL!!" Nunca saberemos. Agora...que esta versão da menina que comecou a vender limões em Alfama é fantástica, acho que estamos todos de acordo.
Ahn? Não foi em Alfama? Whatever. Era só para meter um pouco de wiki.
Mas, dizia eu, a gaivota e o tiro ao alvo.
O edificio onde trabalho está em cima do rio que "corta" Gotemburgo em duas partes. O número de gaivotas naquela zona é mais ou menos o mesmo das piadolas sobre o Relvas. Entre 1275 e 1367. Perco-me sempre a contar.
Fazem um barulho irritante. E não são assim um bicho propriamente bonito pois não? Caaaaaalma malta da Quercus!! Eu também não gosto de touradas!! Por mim, podiam usar cada uma das arenas para pisar uva e os forcados para alombar com as cestas.
No meu último dia de trabalho, em Julho, saí do edificio da Ericsson e, como sempre, entre as nuvens ouvi aquele estridente barulho de gaivota. Não liguei e comecei a pensar nas férias que se tinham iniciado há 30 segundos.
Já estava algures entre o Atlântico e uma acorda, quando algo molhado aterra na minha cabeca. E pesado. Notei que era pesado.
Não chove. O meu primeiro pensamento: "Quem foi o sacana que mandou água pela janela??". Não. As janelas nem sequer abrem e esta malta não se dá a essas debochadas.
Meto a mão no cabelo e repito as palavras mágicas: "Nao posso crer que uma gaivota me cagou em cima!!!!F*#%&!!!"
No mundo dos pássaros de cidade, uma gaivota é uma espécie de B-52. Aquele bombardeiro que os americanos usaram para aborrecer os japoneses depois de Pearl Harbour. Não, o nome não foi criado para aquele shot de absinto.
Um pombo defeca suavemente. Uma gaivota nem tanto. Nunca me tinha acontecido. Podia ter sido no ombro, nos sapatos, olha...no chão por exemplo! Mas não...no alto da tola. Não se percebe.
Ao fim de 4 minutos em liberdade e depois de ter recordado algumas das expressões mais carismáticas da Lisboa castica, voltei a entrar no edifício para lavar a cabeca.
Volto um mês depois. Já tinha apagado esta cena da minha memória, reservando o espaco necessário para as coisas importantes da vida como o onze inicial do Glorioso. Só para dar um exemplo.
O edifício onde trabalho é este. Tem mais janelas que o Palácio de Cristal. Subo e cumprimento quem vai aparecendo. Sento-me e tento contemplar o rio. Não vejo. O rio desapareceu.
Há uma diarreia de gaivota barrada em metade da minha janela. As da esquerda estão limpas. As da direita também. As 500 janelas da torre à minha frente estão imaculadas. Só a minha está borrada.
E agora? Tenho que gramar esta paisagem todos os dias? Como é que limpo a obra se a janela está selada? Não, não é aquilo que acompanha o peixe. Vou imprimir uma fotografia com uma praia do Alentejo e meto-a a tapar o dilúvio da gaivota.
Está melhor. Mas não consigo tapar tudo. A areia termina em cor de barro.
O que terá esta gaivota contra mim? E como terá ela descoberto a minha janela? Também conseguem ver a cores?
Logo eu que nunca fui aos melros com zagalotes.

1 comentário:

Inês disse...

Como te compreendo! Fui contemplada há pouco tempo mas foi só de raspão. Menos mau...

Estou-me sempre a questionar porque é que os portugueses em vez de elegerem o bacalhau não se lembraram das 1001 receitas para cozinhar gaivota. Nem era preciso ir buscá-las à Noruega.