terça-feira, outubro 26, 2010

A ruminar

Ainda estou aqui a ruminar as exportações e as parcerias publico-privadas...
Vou ter que me armar em imigrante e fazer umas comparações que me enervam um pouco.
Portugal e Suécia têm mais ou menos a mesma população. Saíram ambos da IIGG com o país inteiro e dinheiro nos cofres. Esqueçamos por agora a moral da coisa e de como é que os suecos saíram da guerra com dinheiro.
Em 60 anos, deixaram de ser um país de esfomeados perdido no meio do gelo e passaram a ser um potência económica. A razão para isso é simples: educação e empreendedorismo.
Há, historicamente (já muito antes da guerra), uma aposta constante na educação. Pessoas formadas têm conhecimento e ideias. Com algum empreendedorismo e coragem, essas ideias geram outras ideias. Criam bases de negócio, emprego, exportações e voilá, crescimento económico. Neste processo todo o Estado teve sempre um papel de regulador. Vigia, garante justiça e transparência, exige o cumprimento de regras, mas não cria clientela nem se deixa mergulhar nas malhas da corrupção (pelo menos ao mesmo nível). São inúmeras as multinacionais suecas de grande dimensão...H & M, Atlas Copco, Ericsson, IKEA, Scania, Securitas, Tetra Pak, Volvo, ABB, Astra Zeneca, Sandvik, SKF, Sony Ericsson, Electrolux, Saab...só para dizer as que me lembro agora. Esta malta faz roupa, telefones, móveis, carros, comboios, aviões, armas, barcos, medicamentos, máquinas para indústria e mais não sei o quê. São como os chineses, mas com qualidade.
Qual é o efeito prático de um país com pessoas formadas e empresas exportadoras? É que quando a crise mundial passou, eles voltaram ao business as usual e nós, que nada produzimos, voltamos a mendigar por crédito.
Há dois anos os despedimentos em Gotemburgo atingiram milhares de pessoas, hoje em dia, na minha área não há gente que chegue para tantas propostas de trabalho.
E agora pergunto...estes gajos são todos filhos do Einstein? É assim tão difícil perceber que um país que nada produz num mercado global está condenado à pobreza?
As parcerias público-privadas são um bom exemplo da nossa república dos últimos 30 anos. Um conjunto de patos-bravos que se encheram de dinheiro à custa dos contribuintes. Ao estilo "From Luanda with love".
A empresa para a qual trabalho, que é uma consultora que presta serviços ao sector privado ou público, é um bom termo de comparação com as inúmeras consultoras que sugam o nosso Estado. Por culpa deste claro...
O projecto onde estou a trabalhar tem um preço fixo. Ou seja, todos os atrasos ou incumprimentos são assumidos pela empresa que presta o serviço. O que é que isto significa na prática? Risco.
Se tudo correr bem, a minha empresa tem o lucro previsto. Se eu e os meus colegas fizermos asneira, todos os custos (para além do que estava previsto) são suportado por nós. A margem de lucro reduz-se e, quando a pata na poça vai até ao joelho, chega mesmo a desaparecer. Escusado será dizer que durante o período de execução do projecto, os chefes andam em cima de nós como falcões. Há uma cultura de risco e de responsabilidade assumida. Sem asneira todos ganham, com asneira o cliente não perde.
Este conceito é complicado? Não me parece.
Ora...o que se faz em Portugal é o contrário. O risco de quem presta o serviço é nulo. As derrapagens são assumidas pelo Estado. Se a empresa que presta o serviço (Lusoponte por exemplo) não tiver o lucro previsto, o Estado chega-se à frente, se a consultora pedir um balúrdio por um parecer, está tudo bem porque o dono da consultora é um dos boys.
Tudo muito giro, mas há um pequeno problema...o ESTADO NÃO PRODUZ RIQUEZA!! O que o Estado faz é distribuir (mal) o dinheiro que arrecada com os nossos impostos ou com a torneira de Bruxelas.
Isto não é uma economia aberta, isto não é transparência. É um assalto organizado ao dinheiro público.
E a razão pela qual assim continua (e vai continuar) é porque há favores a pagar e teias de interesses com 30 anos. São muitos nós para desatar enquanto o comboio do desenvolvimento vai passando sem parar.
Sinceramente, não consigo perceber como é que vamos sair desta teia, mas espero que as gerações seguintes venham menos recheadas de patos-bravos...




































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