Os jornais disparam desgraça e miséria em cada página. Há dias em que leio tudo com preocupação e tento perceber os porquês. Outros dias, como o de hoje, ignoro.
A perspectiva de futuro em Portugal é um pequeno pesadelo. Começando pelas medidas em si...
Um ataque directo (o mais fácil) ao salários que destruirá qualquer hipótese de consumo e circulação de dinheiro. Novos despedimentos, novas falências. Num país que nada produz ou exporta. Num país que já tem os salários mais baixos da UE (se esquecermos os novos e ainda mais miseráveis membros) e um custo de vida de primeiro mundo. O preço de uma casa no centro de Lisboa deixa Estocolmo a corar de vergonha.
E tudo isto para quê? Para limpar a dívida do país? Para modernizar empresas? Para formar pessoas? Para eliminar esta subsidio-dependência? Para conseguir crescer mais do que 0,2% ao ano? Não. Tudo isto para que o BCE nos continue a emprestar dinheiro. Ou seja, tudo isto para que o país continue a viver a crédito. Não o do FMI, o do BCE. No fundo, somos apenas um pedaço de terra que segue as ordens de quem manda o dinheiro. Quem paga é quem decide. Faz sentido. Mas é isto autonomia? Qual é a diferença para os últimos anos da monarquia? Não passávamos de um protectorado de Inglaterra com um rei fantoche. Agora é a República que se verga a Bruxelas. Não há outra hipótese. Precisamos do crédito como de oxigénio.
Cavaco Silva, que segue calmamente a sua agenda política, é o primeiro responsável desta crise. Quem o ouve parece que não é nada com ele...
Foi o senhor de Boliqueime que durante 10 anos esbanjou dinheiro como ninguém, inaugurou este conceito de "corta a fita agora e depois logo se vê quem paga", alimentou um sem número de parcerias publico-privadas ruinosas, instituiu uma clientela que nada mais faz do que viver à sombra do Estado e fez correr dinheiro em subsídios a fundo perdido, sem supervisão ou qualquer garantia de produtividade. Acreditámos que seria possível viver toda a vida a crédito. Recebendo dinheiro só porque sim, sem nada ter que devolver, provar ou produzir. E agora acabou.
Sem tempo para medidas suaves. Há que cortar a direito para reduzir o défice, caso contrário, os nossos donos secam a fonte de crédito.
Ainda pensei que este bater no fundo nos levasse a começar de novo. Com uma nova mentalidade, uma nova atitude. Todos sabemos onde estão os problemas.
Mas não. Claramente não vamos mudar nada. Aqui e ali vamos lendo que as medidas de corte na despesa não vão apanhar os funcionários do banco de Portugal porque "os salários estão dependentes do BCE", que os economistas e políticos que decidem onde cortar têm reformas acumuladas do Estado, que votos nas comissões de inquérito são trocados por posições em conselhos de administração, que o aumento miserável nos impostos da banca vai ser pago pelos clientes, que o corte nos luxos (sim, um carro topo de gama, um motorista e não sei quantos assessores são luxos) dos governantes é quase nulo e que as empresas públicas de típico buraco sem fundo continuarão a servir de prateleira para boys sem curriculum.
Já se fizeram revoluções por menos.
É tempo de ir para a rua exigir uma limpeza.
E se alguém pensava que Passos Coelho era uma alternativa, bastou vê-lo de braço dado com Alberto João para perceber que não. A Madeira é o melhor exemplo de despesismo público que existe. Assobiar para o lado para garantir votos mostra apenas que ele vem ao mesmo.
Centrão, centrão e mais centrão.
36 anos desta merda e continuamos pobres, atrasados e corruptos.
Até quando?
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