Sempre que vou a uma entrevista de atribuicão de novos projectos a pergunta repete-se: "está a pensar voltar para Portugal?"
Nessa altura interrompo o concerto em Lá Maior e comeco a voar. Imagino uma casa caiada, um alpendre, o som do Atlântico, um bom livro, uma boa música. Vejo a noite estrelada. Já repararam como a noite é estrelada no Alentejo? Depois chega o Diogo. Vem visitar-me com o filho. O miudo é a cara dele.
Preparo borrego no forno e digo que é a receita da minha mãe. Acompanhamos com um bom "4 castas" do Esporão.
Volto a acordar e digo o que o camarada à minha frente quer ouvir. Não, não penso voltar e deixo porta aberta para a desgraca "a não ser que haja uma fatalidade qualquer".
Ele não fica contente com a resposta e pergunta porquê. E agora? Como explicar o porquê? Como explicar que o meu país, apesar de ser o sítio onde estão familiares e amigos mais próximos, não é, ainda assim, o mais indicado para criar o meu filho?
Por ser um tema que particularmente me custa, tento sempre em 3 palavras resumir o estado do país e justificar a opcão de ficar aqui. Mas faco-o sempre de forma ligeira sem nunca dizer o que realmente me vai na alma. Detesto que estrangeiros fiquem com uma má impressão do nosso cantinho e aproveito sempre para promover o país como destino de eleicão. Não, nunca refiro palavras como "Albufeira" ou "Armacão de Pêra". Acho até que o Zé me devia dar um subsídio como adido de qualquer coisa para o turismo sustentado da Costa Vicentina.
De qualquer forma, para as contas do camarada que ali se senta, basta que eu aqui esteja para iniciar, executar e entregar um projecto...quer lá ele saber de submarinos, blindados e lusopontes.
Acho que o concerto lhe agradou e o futuro, para já, parece estar garantido.
Volto sempre com a sensacão de que devia ter falado em migas ou em pastéis de belém.
É por estas alturas que a saudade aperta e a vontade de estar desse lado aumenta.
Depois há o dia seguinte. O maldito dia seguinte e o estúpido hábito de ler jornais.
Tudo na mesma. Dinheiro público que desaparece, o buraco que aumenta, as responsabilidades que não se exigem.
Just play it again Sam.
3 comentários:
Camarada Tiago, acredite que eu sei o que queres dizer.
Nao sabes o quanto quero estar na minha ilha, descansado, tenho muitas saudades, mas sabes, talvez, Portugal seria melhor que os States. Os EUA nao sao os mesmos de 15 anos atras..........
O meu pai mora na Alemanha desde que eu nasci; a minha irmã mais velha vive na Suíça, filho já está criado. A resposta é toda igual “voltar para Portugal para quê?”
O meu senhorio reparte a vida entre visitas aqui ao prédio onde resido e a França onde vivem os filhos, filhas e netos.
Por que nao:)
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