quarta-feira, junho 02, 2010

Perdido nas avenidas e achado nas vielas




















Há quem diga que a escrita é um espelho da alma. No meu caso é mais o tubo de escape. Não é tão poético eu sei. Dificilmente a palavra "tubo de escape" poderia figurar numa daquelas linhas que Jorge Nuno tanto gosta de declamar, mas é mesmo disso que se trata.
Meter umas letras a jeito e esperar que formem palavras. Veremos.
Comecemos pela última fotografia: "James Bond é gay". Esta capa prova que a espera na fila da bomba de gasolina é igual em Gotemburgo, Odivelas ou, digo eu, Asmara. É tirar o "TV Guia"
e meter "TV Guiden", "Caras" por "Faces" ou "Lux" por "Lax" e estamos lá. O mexerico é sempre o mesmo.
Desta vez, Daniel Craig, o actor, beijou um feiriseu qualquer e a manchete "James Bond é gay" surgiu num ápice. Quem terá sido o criativo jornalista que se lembrou de meter a personagem de ficção ao barulho? Isto é jornalismo de primeira. Correio da manhã e 24 horas, não desperdicem este talento!
Falando em talento, lembrei-me de construtores civis. Dei por mim a pensar no jeito que dava um pouco mais de corrupção e malta do betão nesta cidade. Mas nada. Não se constrói uma palhota que seja. A consequência é óbvia. Há muito mais procura do que oferta. No mercado de casas para arrendar então...é a loucura. Se as contas não me falham concorri a mais de 100 e só 5 responderam. O processo é mais ou menos este:
1 - escreves um mail a descrever-te como pessoa, a tua familia, o que fazes nos tempos livres, se fumas, se tens animais de estimação, o teu emprego, o teu salário, os teus créditos, porque razão queres alugar uma casa e por aí fora.
2 - o dono do apartamento recebe umas dezenas largas de contactos e escolhe meia-dúzia que podem visitar o apartamento. Nesta altura é feita uma nova entrevista, verificam se tens piolhos e se cumpres todos os requisitos exigidos.
3 - desse último lote sai o felizardo que terá o previlégio de pagar um balúrdio por 30 m2.
A experiência até aqui ensinou-me que, como emigrante, as possibilidades que tenho de estar entre os finalistas são:
- escolher uma casa tão cara que ninguém lhe pegue
- o dono da casa ser ele próprio um emigrante
A última pessoa que me ligou perguntando se queria ver um apartamento, retirou-me da lista assim que ouviu o Diogo a falar. Disse-me "uma vez que vivo no andar de cima, acho que é altura de não ter que ouvir barulhos de crianças por isso...".
Muito bem, adeus e obrigado.
Esta casa foi conseguida já em desespero e por uma feliz coincidência. A irmã do senhorio (ou a cunhada...whatever...) é minha colega de trabalho e isso serviu de referência. Por estes lados não há melhor publicidade do que a palavra de outro alguém. Mesmo que não te conheça de lado nenhum...sinceramente não percebi bem como, mas adiante, é mais uma daquelas que ao trambolhão e sem saber, já estou cá dentro. Siga o baile.
Mal entrei mostrei a minha gratidão pegando fogo à varanda. Não estou a ajudar na publicidade, é um facto...
Mal larguei os caixotes fui a uma entrevista de trabalho (na Semcon aqui em Gotemburgo). Trabalhar por projectos tem a vantagem de não cair na rotina mas tem a enorme desvantagem da concorrência. A cada novo projecto lá tenho eu que ir tocar violino para ser o escolhido. É sempre aquele sentimento de muitos cães a um osso. Desta vez levei a arma secreta e parece-me que resultou. Foi só largar o miudo nos corredores e vê-lo a destilar charme. Já cá canta.
Como a semana foi de loucura no termómetro....alguns 20 graus e céu azul, resolvi perder-me no "chiado" cá da terra. Entre cervejolas e galinha do caribe, DJs improvisados e peditórios para Gaza (há que reconhecer que esta malta se organiza rapidamente sempre que há uma crise internacional), foi engraçado ver a rua cheia de alegria e vida. Parecia um comício do BE ou um mini-avante, cheio daquela malta, carinhosamente apelidada por um amigo meu como "faz lá isso".
Aqui em casa descobri duas preciosidades que o senhorio gentilmente incluiu na renda: uma máquina de fazer café expresso e uma arca cheia de LPs.
Até pareço gente...perna estendida, bica no braço do sofá e o vinil a rodar. O homem tem os clássicos todos naquela arca do tesouro.
E visto desse lado...faz algum sentido?
Imagino que não.


1 comentário:

Vasco disse...

O Communiqué! Já não via (nem ouvia) isso há muito tempo.
Agora estou com "Lady Writer" a tocar no meu cérebro...