terça-feira, abril 13, 2010

Um saquito de cimento sff

Como diz uma querida amiga, ”aprecio apreciar” uma boa notícia logo pela fresquinha.
Daquelas que me fazem ter orgulho em ser português, povo heróico que resistiu aos espanhóis (esquecamos aqueles 60 anos de má fama) e a Napoleão (esquecamos novamente os espanhóis que nos tentaram entalar…”nuestros hermanos” my ass!!!), que descobriu novos continentes e caminhos marítimos (a descoberta mais importante foi claramente as Seychelles…como é que perdemos aquilo???), que espalhou a cultura portuguesa pelos 4 cantos, que há 150 anos tem a melhor receita de pastéis de nata e por aí fora.
O que ouvi eu?
Diz-me o camarada da radio, aqui bem perto do meu ouvido que, e passo a citar, “foi aprovado um novo plano turístico que prevê a construcão de hotéis em zonas protegidas da Costa Vicentina”.
Bom…por onde comecar? Acho que a frase que o locutor usou de imediato serve na perfeicão: “ou seja, vão dar cabo daquilo”.
Tal e qual.
A Costa Vicentina, um dos últimos cantos de Portugal que ainda não está destruído pela massificacão turística, passou a ter os dias contados.
Imagino que um pouco daquele espectáculo arquitectónico que podemos ver entre Lagos e Vila Real de Santo António, esteja dentro de uns anos também disponível numa zona cheia de verde, praias fabulosas, encostas selvagens e alguns recantos com pequenas praias desertas. Isto de ter a natureza tal como ela nasceu é uma chatice.
Há que escavacar, construir hotéis nas arribas e arranjar mais uns milhares de camas para trazer operários ingleses maravilhados com o preco da cerveja, com a quantidade de pubs que transmitem os jogos do United, com o verde vivo dos campos de golfe e com a bela calcada portuguesa optima para plantar papéis e paus de gelado. Tudo a preco da chuva claro. O espaco não é muito mas é melhor apostar em turismo de massa. Precos baixos em hotéis horrorosos, campos de golfe em zonas secas como o Sahara, tudo o que for necessário para atrair ingleses dos subúrbios e pés-de-chinelo. Turismo de qualidade é que não. Venham as massas para estes 650x200km de terra.
Os anos 80 não nos ensinaram nada. Venham umas luvas para os autarcas e para os secretários de estado, e tudo se resolve.
Eu sugeria, depois de bem escavacado o sudoeste alentejano, uma incursão na serra do Gerês.
É muito verde para o meu gosto. Até me enerva. Um toquezinho de cimento e ficava um mimo.

1 comentário:

Helena Barreta disse...

Que crime. Ainda estou aparvalhada, não sabia disto. Mas até estava admirada como é que ainda não se tinham lembrado de tal façanha.

Conheço bem muitas das praias do litoral alentejano, aliás, as minhas preferidas de há muito, se se concretizar o que diz, vou chorar de saudades.

P.S.: há poucos dias fui à praia da Fonte da Telha, horror, lixo por todo o lado, restos de casas demolidas e por demolir e outras em construção em cima de destroços. Já para não falar do caos no estacionamento e dos muitos cães vadios de volta do lixo.

Um abraço