Digo, não digo.
Digo, não digo.
Digo, não digo.
Ahh...que se lixe, digo.
Já estou há algum tempo com vontade de falar sobre o que aconteceu na Madeira.
É um assunto sensível, um drama e um momento de solidariedade nacional. Sem dúvida.
Sobre isso já tudo foi dito e a parte que me traz aqui é a do "politicamente incorrecto".
Eu sei que na desgraca somos todos amigos e a memória não existe, mas há limites para a hipocrisia.
De repente Alberto João Jardim passou a ser uma estadista e o povo da Madeira uma quantidade de mártires. Não quero ser indelicado. Uma morte é uma morte e um drama é um drama, independentemente da quantidade de pessoas afectadas. Eu acho que a Madeira sofreu uma calamidade, mas não se pode analisar este tipo de situacões com a emocão, pelo menos por quem governa. Nem vale a pena referir que o tipo de construcão, a tal dos patos-bravos, também não ajudou a prevenir. Claro que o tempo é de solidariedade mas convém usar o cérebro ainda assim.
Fiquei com a pulga atrás da orelha quando Sócrates, no programa do Sousa Tavares, respondeu N vezes "este é o momento de sermos solidários com o povo da Madeira" à pergunta "que fundos vai o governo central enviar para a Madeira?".
O que Sócrates admitiu foi que o saco deixou de ter fundo para cobrir os prejuízos das cheias.
Fiquei ainda mais preocupado quando li o mesmo Sousa Tavares no Expresso. Escreveu ele:
"E, estava o PEC quase concluído, quando a enxurrada na Madeira veio baralhar todas as contas. O mesmo Governo que estava em vias de abrir uma crise levada ao extremo para não consentir que a Madeira se pudesse endividar mais uns míseros 50 milhões neste ano orçamental, agora, por entre sorrisos, lágrimas, solidariedade patriótica e 'sentido de Estado', está pronto a abrir mão de 1300 milhões - que é quanto o dr. Jardim estima necessário para reparar os prejuízos de uma catástrofe que, conforme amplamente já demonstrado, foi agravada em grande parte pela especulação urbanística, erros de ordenamento e modelo de desenvolvimento que o seu governo quis para a Madeira. E os 1300 milhões destina-os a obras públicas e "relançamento da economia" local: ou seja, mais do mesmo.
E a oposição toda, sem excepção, cala-se muito bem calada, porque todos temem a acusação de antipatriotismo, se se puserem a fazer contas ou perguntas. 1300 milhões? Para se ter uma ideia, representa quase um terço do que a Grécia se propõe poupar através de medidas draconianas, para reduzir o seu défice neste ano de 12,5% do PIB a 9%. E pouco menos de metade do que a África do Sul gastou com a renovação de cinco aeroportos e a construção de um totalmente novo, em Durban, para acolher o Mundial de Futebol. Onde estarão os 1300 milhões de danos públicos ocorridos na Madeira?
Entregue a si próprio, o desastre da Madeira teria custado a cabeça a Alberto João Jardim. Escudado na solidariedade pátria e nos inesgotáveis dinheiros dos "cubanos", o desastre garante-lhe mais cinco anos de poder. E que se lixe o PEC e as contas públicas! "Uma flor para a Madeira" é o que está a dar. Cá e lá. "
Eu parto do princípio que o MST confirmou estes valores e, se o que escreve é verdade, estamos perante aquele tipo de chico-espertismo que valida a verdade universal "na miséria há sempre quem enriqueca".
Convenhamos...se 30 chineses morrerem numa mina, nem notícia é, se o mesmo acontecer em território nacional perde-se a razão.
A chuva trouxe a Alberto João o dinheiro que tanto reclamava para o orcamento regional. Estando o valor dos estragos, ao que parece, óbviamente "puxadote", resta perguntar se alguém esteve no terreno a ver o que a água estragou ou bastou o Alberto João dizer um número ao telefone?
Gostava agora de saber quantas empresas privadas, nomeadamente do nr 2 do PSD-Madeira (Jaime Silva acho que é o nome), vão estar envolvidas na reparacão da ilha. Seria também interessante ver uma tabela com a distribuicão do dinheiro, as necessidades cobertas e o nome das empresas que o vão receber. Ou muito me engano, ou ficará tudo "em casa".
3 comentários:
Ai, comento, não comento, comento, não comento...
Bem... Só para dizer que sim, foi mesmo uma tragédia vista por estes olhinhos que a terra há-de comer e que já não pregam (olho) durante a noite quando chove mais um bocadinho que o normal.
Mas tu e o MSF têm razão, 1300 milhões de euros é mesmo muito dinheiro e há quem esteja a esfregar as mãos de contentamento no meio da desgraça. E eu que até estou dentro do assunto sem querer estar, vou tentando não acreditar nas coisas que vejo e ouço...
São 350 mil euros por dia em máquinas.
PS: Jaime Ramos.
Mais uma vez de acordo contigo, Tiago.
Inês, 350.000€? Porquê, todos os dias deitam fora as que têm e compram novas? :)
Ai Tiago... Finalmente alguém escreve o que eu tenho vindo a comentar entre os meus amigos... Óbvio que foi uma tragédia (e sim, estamos solidários) e é necessário reconstruir, mas... 1300 milhões?!?! Nós até comentamos se o 'grande' Sr. Jardim não vai pegar nesse dinheiro todo e construir uma Madeira nova ao lado desta... Uma ilha artificial, já agora! Há coisas que não dá para acreditar.
TQ
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