quarta-feira, setembro 23, 2009

Em St. Kitts a chapinhar com o puto é que eu estava bem!


Posso ser eu o azarado ou uma série de infelizes coincidências mas, por esta altura do campeonato, sou obrigado a concluir o seguinte: em Portugal, não responder ao e-mail torna uma pessoa mais importante.
Porque é que me lembrei de isto hoje?
Porque sim.
Porque escrevo sobre isso?
Porque me enerva.
E como é que cheguei a esta conclusão?
Bom…tudo comecou em 1923, a lei seca ditava regras e…
Não, estou a brincar.
Tudo comecou no início do século, mais ou menos quando comecei a vergar a mola e quando comecei a usar o e-mail para fins profissionais.
A primeira experiência foi durante o processo de enviar CVs. Em qualquer país da UE, por muito beira-de-esquina que seja uma empresa, tem sempre aquela resposta automática activada. Mal envias o CV, recebes aquela lenga-lenga do "recebemos o seu CV e vamos agora analisá-lo, se for o maior da sua rua contacta-lo-emos dentro de 2 semanas, se não for adeus e um queijo da serra". Pode ser standard a até a única resposta que recebemos, mas há qualquer coisa. Em Portugal é rara a empresa que acusa sequer a recepcão do CV. Há a hipótese de dizer qualquer coisa se o CV for interessante e existir a hipótese real de contratacão. Fora isso…é um silêncio absoluto.
Lembro-me de em 2007 (já aqui na Suécia), receber um telefonema da Vulcano (em aveiro) a perguntar se estava interessado numa vaga qualquer (já não me lembro qual). Fiquei um pouco espantado e perguntei à senhora: "Mas eu concorri a algum emprego aí?" ao que ela respondeu: "Sim, em 2002, não se lembra?"
Durante o meu processo de candidatura, enviei CVs para os quatro cantos do mundo. Acho que tirando Afeganistão e Iraque, corri tudo. Lembro-me de ter recebido uma carta, escrita à mão (mesmo com aquela letra da primária) proveniente de uma empresa numa ilha das Caraíbas, St. Kitts se não me engano, a responder à minha candidatura.
Recebi N cartas e e-mails dos pontos mais dispersos do mundo, só de Portugal é que a resposta era feita de silêncio.
Aliás…acho que é por isso que estou aqui. Mais depressa recebi respostas do estrangeiro (negativas ou positivas) do que de empresas que estavam a 5km da minha casa. Eu bem tentei...
Mais tarde, já no mundo do trabalho constatei o mesmo. Se enviasse um e-mail para o CEO de uma empresa alemã ele respondia, se enviasse um e-mail para um chefe de 4a linha de uma empresa de Vila do Conde, ele nem se dignava a responder. Parece que em Portugal as pessoas acham que responder a e-mails ou telefonemas não é um acto de competência mas sim um sinal de importância. Seguindo aquele raciocínio: chefe = muito ocupado = importante = sem tempo para ler mails ou atender telefones.
Tudo bem. Segui caminho.
Durante a minha estadia na Suécia tenho trabalhado essencialmente com americanos e alemães, para além dos locais, claro. Não há quem não devolva uma chamada ou não responda a um e-mail. Seja qual for a sua posicão hierárquica.
Ocasionalmente tenho que trabalhar com Portugal e lá volta tudo à estaca zero. Qualquer importantola que tenha uma secretária (não de madeira…uma pessoa mesmo) raramente devolve uma chamada.
Para além daquele pequeno detalhe de eu, enquanto português, ficar envergonhado perante os meus colegas, quando eles percebem que a forma típica de trabalhar em Portugal é o desprezo e o silêncio.
Repito, posso ser eu a ter muito azar ou a tropecar em coincidências infelizes, mas a licão está aprendida.

1 comentário:

Viagens Lacoste disse...

Fantástica descrição do que é ser português. Tenho diversos amigos portugueses a trabalhar no estrangeiro que me dizem tal e qual isso que descreveu.
1 abraço