domingo, agosto 23, 2009

O herói de Lockerbie


É sempre um erro, talvez até um exercício de ignorância, tentar perceber outra cultura partindo dos princípios que regem a nossa. Quando penso no mundo muculmano tento sempre não usar em demasia os meus "olhos ocidentais", o que nem sempre consigo, admito.
Tento perceber o que motiva esta gente e a sua guerra santa. Tento perceber o atraso em que vivem e tento até perceber por que razão insistem nesta divisão de um mundo em duas partes. Há paises mais brandos e há outros que seguem o corão de forma mais radical. Acho que não corro um risco muito grande se disser que não há nenhum país de maioria muculmana que seja desenvolvido. Parecendo que não esta é uma boa base para início de raciocínio.
Vem esta reflexão a propósito de Abdelbaset Ali Mohmed Al Megrahi, bombista de Lockerbie que as autoridades escocesas libertaram, num gesto de caridade, para que este pudesse morrer em casa. Lembro que este Abdelbaset foi condenado pelo atentado de Lockerbie, uma matanca de civis inocentes nos céus da Escócia, de forma cobarde (como todos os atentados terroristas) e injusta. Civis inocentes. Esta parte é importante. Gente que nada tinha a ver com as "causas" que supostamente defendia este bombista e demais envolvidos (incluindo o nunca condenado khadaffi). A obra que este homem deixou foi uma cobarde chacina de incocentes. Tão somente.
A atitude das autoridades escocesas tem que ser encarada como um gesto humanitário para alguém que vive os seus últimos dias. Pessoalmente acho que ele deveria ter ficado na prisão até o coracão parar de bater mas respeito a decisão. O que não consigo perceber de forma alguma é a recepcão de herói de que foi alvo em Tripoli. O que pensaria aquele mar de gente? Que um cobarde que mete bombas num avião e mata centenas de inocentes ganha um lugar no céu por investir contra os "infiéis"? Que a guerra santa justifica qualquer morte desde que não seja a de um muculmano? Eu até compreendo que a divisão do mundo actual exista. Palestina, Afeganistão e Iraque (com o atrasado do W. Bush na linha da frente) contribuíram para extremar os ódios e "validar guerras santas" por todo o lado. Mas era este o cenário em 88? Não.
Sinto-me tentado a alinhar no pensamento comum que defende que para um radical islâmico, dentro da miséria em que vive, nada mais justifica o seu dia-a-dia para além de uma guerra.
É bom fazer esta distincão. Refiro-me a um radical. E acho que não preciso de explicar que não vejo todos os muculmanos como radicais. O seu a seu lugar...
Vivem sem água, luz ou empregos e concentram todos os esforcos de uma vida (normalmente curta) em guerras religiosas. Para um ocidental seria apenas o voltar ao tempo dos bárbaros. Procuro, ainda assim, encontrar motivacões culturais que originem tamanha diferenca de pensamento. Confesso a minha dificuldade. Não percebo como a vergonha de partilhar a nacionalidade com alguém como Al Megrahi se pode tranformar num orgulho e num motivo de exaltacão patriótica.
Sinto apenas uma revolta, nada mais.

2 comentários:

Rita. disse...

Em 88 o Afeganistão ainda se debatia com a invasão soviética, estava melhor? não. Um país que nunca teve nada e que nunca foi uma nação e cuja guerra civil matou mais afegãos do que a invasão soviética e a invasão americana (se quisermos considerar como tal e simplificando as coisas), juntas. Todas estas questões são extremamente complexas e não têm a ver só com pobreza e é perigoso extender o mesmo raciocínio ao Iraque,à Palestina, ao Afeganistão ou a Líbia (se bem que há factores comuns). De qqr forma concordo com a generalidade do que esta escrito neste post e o que assusta é que esse homem tenha sido recebido como um herói. Assusta-nos a todos e faz-nos pensar para onde o nosso mundo caminha.
boa semana e cumprimentos de jalalabad,
rita.

Anónimo disse...

Uma leitora em Jalalabad :) Que pinta!

Rita,
eu não acho que a situacão na Libia, Iraque, Palestina ou Afeganistão seja a mesma. Hoje ou no passado. Quando os meti no mesmo saco referia-me a maiorias e a situacões de conflito, comuns a pelo menos 3 deles. Se bem me recordo este atentado foi uma forma de retaliacão por causa da Palestina (mas n tenho a certeza). Certo é que a solidariedade com a Palestina tem servido de justificacão para muitos atentados, até no séc.XXI.
Em 88 o Afeganistão tinha outra invasão é verdade, mas o mundo não estava dividido em "muculmanos e os outros" criada principalmente pelo W. Bush. A invasão do Afeganistão e do Iraque, e o arrastar da situacão na Palestina criaram justificacões e divisões que não existiam em 88. A invasão russa aconteceu durante a guerra fria e motivou o apoio dos EUA aos guerrilheiros afegãos. O iraque acabava de sair de uma guerra com o Irão. Ou seja, havia divisões internas entre árabes e outras entre povos do chamado primeiro mundo (gerado pela guerra fria). O mapa político era diferente e a rede de apoios tb. No fundo, encontro menos justificacões para os "fieis" se orgulharem de um atentado em 88 que matou centenas de inocentes. Isto partindo do absurdo de que algum atentado tem justificacão. Procurava apenas perceber o que motivava aquela gente no aeroporto, nada mais. Longe de mim sugerir que a situacão nos paises muculmanos era uma mar de rosas em 88 :)

Cumps

Tiago

Ps - Em jalalabad?? Bolas...não havia vaga em Lhasa?