segunda-feira, julho 13, 2009

Sim, por acaso está de chuva

Foi com algum desagrado que vi Sócrates apoiar a candidatura de Elisa Ferreira à C.M.P. Percebo que o faca. A asneira política foi colocá-la em duas listas (não imaginando o barulho que iria causar). Agora resta assumir o erro e esperar pelo melhor.
O significado político é bastante simples de interpretar. Dificilmente R. Rio perderia a C.M.P mas neste caso, atrevo-me a dizer, corre sozinho. Fico também com a sensacão que os portuenses não ficam a perder com a continuidade de Rui Rio.
Em Lisboa o cenário é bem diferente já que recentes sondagens colocam o "menino guerreiro" quase a vencer. Isto é o mais próximo do que me consigo lembrar de uma calamidade pública. Mais uma frota nova de carros, mais não sei quantos acessores, mais um túnel, mais bares e luzes, mais uns milhões para o P. Mayer. É este o programa de Santana Lopes. António Costa que tem andado a apagar fogos (e a fazer umas asneiras em nome próprio como a do porto de Lisboa) corre o risco de pagar também por erros do governo. Espero que não. Lisboa não pode ser mais massacrada.
Há uma possibilidade forte do PSD vencer as próximas eleicões e de procurar um aliado à direita para um governo de maioria. Portas já se disponibilizou. Para MFL ou para Sócrates. Tanto faz desde que chegue a ministro. As ideologias ficam para mais tarde.
O cenário que se avizinha não é muito diferente daquele que existia quando Durão fugiu para Bruxelas. A grande diferenca é que vivemos hoje um crise mundial.
Sim, é mesmo mundial apesar de Portas, Rangel e companhia culparem Sócrates pela mesma...
Imagino o nosso país e a sua capital, governados por gente como Ferreira Leite, Portas e Santana, no meio de uma devastadora crise que ainda não bateu com forca em Portugal. Sim, esta é que é a parte preocupante. O pior da crise ainda está para vir e Portugal tem usado uma almofada governamental que outros países não tiveram.
Um exemplo prático: há quem critique o endividamento do Estado. Sou o primeiro a concordar quando esse dinheiro é aplicado em estradas ou bancos "gestores de fortunas". Aqui pouco me interessa o risco de epidemia da banca. Não podem os contribuintes pagar asneiras privadas. Isso estou certo.
Mas, quando esse endividamento é feito para salvaguardar postos de trabalho, acho que é de louvar. Veja-se o caso da indústria automóvel em Portugal. O governo ofereceu um pacote de incentivos que incluiu pagamento de salários durante períodos sem producão. Esta indústria em Portugal não é apenas a autoeuropa, convém lembrar. Políticas como esta aumentam o endividamento do país. Certo. Mas seguram os postos de trabalho e permitem o consumo (circulacão de dinheiro) durante um período de crise. São medidas temporárias e que perdem efeito se a crise durar muito, mas algo está a ser feito. É bom também recordar que este endividamento coloca o défice um pouco acima daquele que Santana/Durão nos deixaram, o que não deixa de ser um espanto. A grande diferenca, e aqui digo-o com conhecimento de causa, é que em Portugal uma almofada segura alguns empregos (na esperanca que a crise desapareca) enquanto que na Suécia (entre outros membros da UE), o governo não corre a segurar empresas ou empregos. Os que não se aguentam sozinhos, são riscados do mapa. Atrevo-me a dizer que nesta região (costa oeste) há mais despedimentos do que no nosso país inteiro e isso acontece, essencialmente, porque o governo não protege qualquer empresa. É por isso que digo que o pior da crise está ainda por chegar a esse lado. O governo não poderá manter esta política muito mais tempo.
Imaginem contudo que as pessoas que conduziam os destinos da nacão eram os artistas já referidos. Estaríamos certamente pior. Lembro-me de ver MFL recuar numa política quando taxistas ameacaram bloquear Lisboa. Taxistas...
Lembro-me de ouvir Paulo Portas, a plenos pulmões no parlamento, dividir os 116 milhões de derrapagem da Expo pelos velhos e combatentes do Ultramar. O mesmo Portas que deixou um ministério com uma dívida enorme por causa de 2 inúteis submarinos que o país tem agora que pagar e com 24 milhões parados em bolso incerto. É gente que usa e abusa da demagogia na oposicão e falha sempre que tem o poder. Não estamos a falar de surpresas ou desconhecidos. Já foram governo e falharam. O que pode ser diferente agora?
Além desta súbita amnésia que parece afectar os portugueses, Sócrates (segundo Soares o político mais atacado na história da democracia portuguesa) tem ainda que lidar com a mais eficaz das oposicões: o poeta Alegre. Ainda Pinho estava quente e lá veio Alegre espetar mais umas farpas através do Expresso. Xico Loucã, em pré-campanha, aproveitou as palavras do camarada para mais umas patadas. Sócrates sorriu e disse que o PS é um espaco onde impera a liberdade de opinião. Certo. Com amigos destes...
Os reformistas criticam Sócrates por ter mexido pouco, os conservadores criticam por ter mexido qualquer coisa.
Mantenho a opinião. Erraram na banca, erraram nas estradas, erraram na justica.
Travaram uma luta inglória com os professores, completamente sozinhos e vendo a oposicão em peso apoiar um sindicato que se orgulha de fazer greve antes sequer de negociar. Não tiveram na Fenprof um parceiro social nem na oposicão uma voz de interesse nacional. Este caso vai custar-lhes pelo menos a maioria (se não for mais) e é a prova de que em Portugal todos os meios demagógicos servem para fazer oposicão. O interesse do país pouco importa.
A segunda metade da legislatura é feita de erros e confusões. Alguma desorientacão e preparacão de eleicões.
Foi aqui que comecaram os grandes erros deste governo. Foi também aqui que se viu pela primeira vez a oposicão. Não para propor alternativas mas sim para aproveitar a confusão, fosse qual fosse, e à boleia criticar o governo.
Diziam-me em pequeno: na dúvida de qual caminho seguir, escolhe primeiro aquele que tens a certeza de não quereres seguir.
Para as próximas eleicões o cenério é mais ou menos o mesmo. Não estou certo que Sócrates seja o melhor para o país, mas tenho a certeza que MFL e Paulo Portas não são.

5 comentários:

catarina disse...

tenho uma novidade para ti: há alternativas, pá:)
sim, eu sei: o PM vai ser socialista ou social-democrata, disso não há grandes dúvidas. mas depois há aqueles mecos que se sentam à direita e à esquerda dele no hemiciclo, alguns dos quais efectivamente estão lá para fazer alguma coisa. independentemente do facto de muito provavelmente acabarmos com um governo de maioria absoluta (porque sim, o Portas é uma prostituta, olha para a esquerda e coliga-coliga, olha para a direita e coliga-coliga), a oposição está lá, mói, chateia, escarafuncha. e não me venhas com a demagogia do voto útil: eu sou claramente de esquerda (até tenho um gato incontinente chamado Trotsky que tem medo de picaretas) mas NUNCA votaria PS para impedir uma vitória PSD. simplesmente não faz sentido - isso é Portazices, meu amigo. é afinar pelo mesmo diapasão, só que a um nível ligeiramente diferente. pensa nisso (durante o próximo fika!:)).

catarina disse...

nah, nah, nah, eu sei o que tu estás a pensar, e é que nem te atrevas:) nem toda a oposição existe para aproveitar os fracassos do governo e lançar a confusão! diacho: ele também os há com iniciativa própria. claro que faz parte da profissão um certo cinismo, e se o Sócras puser a pata na poça, os outros vão todos para lá chapinhar, mas ei: isso é só a parte mais visível da história. há quem trabalhe naqueles bastidores. e não é só a fulana da tradução para linguagem gestual.

Anónimo disse...

Nunca disse que não há gente válida na oposicão. Também era melhor se todos os que se sentam na AR ou nas autarquias fossem uns monos...
Nada disso. Claro que há gente válida em todas as cores políticas (estou certo que se me esforcar muito até encontro um no PP). Mas a questão n é essa (como diria P.Pereira). A parte da oposicão que tomará os destinos da nacão já está alinhada e esses, na minha opinião, não servem. Não se trata tb de qq voto útil. Eu acho mesmo que o Sócrates é melhor para o país, mesmo em crise, do que Manuela e Paulinho. Ainda hoje tive mais um exemplo das reformas na funcão pública deste governo. Os consulados foram apetrechados com sistemas informáticos que permitem o cruzamento de dados para coisas tão simples como o recenseamento. Para poder votar fora de Portugal, era necessário uma troca de papelada entre o consulado e a embaixada no país de residência (caso não vivesses na capital) que por sua vez seguia para Lisboa, a "metrópole". Semanas, papel, árvores e burocracia a mais. Agora, 5 minutos e alguns toques de rato e já está. Em termos práticos: menos burocracia, menos meios humanos, menos consulados a rebentar o orcamento de estado. Ora, isto parece-me um bom exemplo de reforma na administracão pública. Pq é q este teve efeito? Porque não há sindicatos na rua a levar a oposicão em ombros. Quem é que ganhou? Eu como utilizador e tu como contribuinte. É por isso que acho que o Sócrates é melhor opcão. E, maravilhas da informática, já vou poder votar :)

tf

cat disse...

toda a gente acerta, de vez em quando. diacho. até o teu menino guerreiro fez um belo trabalho em Monsanto.
isso não indica que tenham substracto (como é que isto se escreve agora?!) para o cargo que desempenham. o Sócras foi um bom ministro do ambiente. mas desde que assumiu a pasta principal, tem revelado uma assustadora falta de tomates (desculpa o shift para linguagem portuense, mas às vezes, é mesmo a melhor forma de dizer as coisas:)). independentemente das ideologias e boas intenções, o homem não tem consistência para este cargo. jogou para o show-off, como salvaguarda da imagem, e isso eu não lhe perdôo: a forma como usou dinheiro público destinado à ciência para literalmente comprar colaborações com universidades de renome foi ridícula. podemos ter muitos pequeninos habitantes do retângulo com atitudes derrotistas e a dizer "lá fora é sempre melhor". não posso aceitar isso da nossa figura máxima do governo. simplesmente não posso.

PS: vais votar informaticamente? quer isso dizer que uma ameaça de bomba da embaixada não arruma de vez com o teu voto? diacho... e eu que já tinha tudo resolvido;)

Anónimo disse...

Nunca disse que Sócrates era perfeito para a funcão. Só disse que era o melhor disponível o que, parecendo que não, faz a sua diferenca. Existem razões de queixa deste governo. Óbvio que sim. Parece-me que tens uma razão muita própria o que certamente afectará a tua opinião. Ainda assim, sabias que pela primeira vez Portugal tem a balanca da tecnologia a cair para o seu lado? Ou seja, exportamos mais tecnologia do que aquela que importamos. Isto é um sinal contrário a "lá fora é que se faz bem" e parece-me também uma aposta na ciência. A aposta na educacão (que inclui a ciência) tem sido uma das bandeiras. Foi uma guerra perdida, sem melhorias ou alternativas, mas pareceu-me que em todo o processo foi o governo o único a tentar remar para o lado do desenvolvimento.
Por favor...com Monsanto ou sem Monsanto, o Santana arrasou a CML e voltará a fazer o mesmo. É o maior inutil da politica portuguesa e prepara-se para governar a maior cidade? É mau demais para ser verdade. Por muito zangados que estejam com o governo, que mal fez Lisboa?

tf