quinta-feira, setembro 11, 2008

Se tens o tacho ao lume não te sentes, que isto vai demorar.






















































































































Aqui há um bom par de anos, um suico farto da vida perfeita que levava resolveu salvar o mundo.
Pediu licenca de um ano na fábrica de chocolates, meteu um saco às costas e de espeto na mão comecou a correr as estradas da europa em busca de lixo. Doido para uns, ecologista para outros, muito tempo livre para os demais, a verdade é que este Maomé da ecologia chamou a atencão para o facto de usarmos as nossas estradas como caixotes de lixo.
Dirigiu-se a sul passando por Alemanha, Franca e Espanha. A cada passagem recolhia o lixo dos beirais das estradas. O saco que trazia nas costas chegou para as encomendas até entrar em Portugal. Nem um camião TIR o safava de tão árdua tarefa. Desiludido desistiu. Lembro-me de ver nos jornais de então o comentário sobre os limites laterais das nossas estradas: "são autênticas lixeiras", dizia o suico enquanto olhava para o saquito cheio ao fim de 500m de alcatrão.
O sentimento com que este jovem voltou a embalar chocolates não é muito diferente daquele que trouxe na bagagem, nesta última passagem por Portugal. A diferenca é que eu nasci aí e por isso, custa-me um pouco mais a engolir.
A pergunta que eu queria fazer é:
Porque é que somos tão porcos?
A natureza deu-nos recantos magníficos e nós, como terceiro-mundistas que somos, destruimos tudo com betão ou lixo.
Não há desculpa para a falta de civismo que ainda reina em Portugal. Há caixotes do lixo espalhados por todo o lado, há pontos de reciclagem ao pontapé e com legendas que qualquer analfabeto consegue perceber. O que acontece?
Deitam lixo ao calhas para dentro de qualquer ponto de reciclagem e na rua, usam o chão como caixote.
É que nem olham para o lado com um pequeno sentimento de culpa. Tudo acontece de forma natural.
Como podemos ser tão fechados no nosso pequeno mundo, na nossa ignorância?
Há uns dias, deslocava-me na Luisa Todi em Setúbal, quando vi um homem mandar o papel do gelado para o chão. De imediato, a mulher e os dois filhos fizeram o mesmo. Tudo muito calmo e tranquilo.
Todos o fazem sem qualquer complexo de culpa. Ninguém pede que salvem o mundo e cumpram os 10 mandamentos que os gajos da Quercus guardam no bolso. É só não mandar lixo para o chão. Será pedir muito?
Resolvi, estas férias, procurar recantos na costa vicentina até aqui desconhecidos para mim. As paisagens que vi inspiravam qualquer postal.
Um mar lindíssimo, fechado aqui e ali numa enseada perdida. Tudo perfeito enquanto olhava a direito para o mar. Se por acaso me lembrava de baixar a cabeca e olhar para a encosta o cenário era bem diferente. Garrafas de plástico e sacos de lixo bem fechadinhos entre os arbustos. Normalmente com caixotes do lixo a 10m…
Acho piada a estes animais que fecham religiosamente o saco com os restos do frango e o deixam no meio do mato. Por alguma razão, ficam convencidos que estão a fazer uma grande merda ao fechar o saco. Até devem dizer lá na rua que são muito ecologistas porque não espalham lixo.
Numa dessas voltas, dei com uma praia quase deserta (se não contarmos com os hippies!!) entre Lagos e Sagres (Barranco). Estava impecavelmente limpa e os estrangeiros que lá estavam, apesar do acampamento montado, não deixavam qualquer rasto de sujidade. Convém dizer que mesmo naquele fim de mundo, existiam caixotes do lixo. As autarquias tentam, isso ninguém pode negar. Noutra praia ali da zona (Figueira), também impecavelmente limpa, vi uma gorda largar dois sacos de lixo ao fim do dia. Dada a naturalidade com que o fazia e à distância a que me encontrava, assumi que atirava os sacos para um caixote. Mais tarde, passei pelo sítio e vi que ela os tinha atirado pura e simplesmente para o meio dos arbustos. Não havia um único papel no chão. Nada que a pudesse incentivar. Peguei nos dois sacos e transportei-os para fora da praia. 5 kg de restos, garrafas de vidro, etc. O que passará na cabeca desta gente? Querem pequenos paraísos mas apenas por um dia? Porque é que somos tão estúpidamente diferentes?
Em Lagos, enquanto esperava por uma refeicão, observava um autocarro de turistas. Um entrou pela porta da frente, comprou o bilhete e deitou-o para o chão pela porta de trás. Levantei-me, apanhei o bilhete e perante o olhar daquele saloio coloquei-o no caixote que distava uns longínquos 2 metros. Sentei-me. Passado pouco tempo, outro turista entrou e fez o mesmo. Já não me levantei.
Há que reconhecer o óbvio. Nós somos javardos qb e achamos que o chão é um caixote comum, os turistas que invadem o Algarve, são os trolhas de Inglaterra e Alemanha. É o preco a pagar pelo turismo pé-de-chinelo que ali criámos.
As praias estão cheias de campanhas, com distribuicão de latas, para os fumadores não largarem beatas na areia. Reconheco o mérito de quem tem estas iniciativas. Enquanto povo, devíamos ter vergonha de todas as formas que usam para nos explicar o que é ser civilizado. Até o macaco Adriano aprendeu mais depressa.
É lutar contra moinhos de vento. Não vale a pena.
Admitindo o nosso crónico atraso relativamente à europa evoluída, quem sabe daqui a 50 anos conseguimos perceber a diferenca entre o chão e um caixote. Quem sabe.
Até lá, a cada regresso, é preferível olhar para o mar e nunca baixar a cabeca.

1 comentário:

Sandrinha disse...

A foto das cadeiras está magnifica!