sexta-feira, outubro 27, 2006

8 anos depois

Passaram 8 anos desde o último referendo ao aborto.
Em 98, lembro-me de ouvir argumentos de defesa do "NÃO", tão brilhantes como:
- Se for aprovado, as mulheres começam a usá-lo como contraceptivo!
- Se não querem engravidar, não tenham relações sexuais!
- Só Deus pode tirar uma vida!
...e parvoíces do género.
Passou para a opinião pública a imagem da mulher a entrar na pastelaria, pedir uma bica e um aborto com manteiga, como se fosse a coisa mais trivial do mundo.
Os azares, os fetos condenados a uma vida de sofrimento, a decisão que a mulher tem que tomar, o risco físico que corre, o drama que em última análise tem que enfrentar e tudo mais, foi simplesmente posto de lado.
Paulinhos Portas e amélias do género usaram a ignorância do povo como vitória política, com slogans de "defesa da vida".
Defesa da vida é garantir educação, segurança e estabilidade aos vivos e proporcionar condições para que a população tenha condições de se rejuvenescer.
Defesa da vida não é obrigar uma mulher a atirar-se duma escada ou a recorrer a uma parteira manhosa, só porque o marido chegou embriagado e os 300 eur por mês não chegam para ter o quinto filho.
Depois, há o clássico "não é nada comigo" de alguns homens e o "eu já nem posso ter filhos" de mulheres mais idosas. Tudo somado resultou naquele "Não" que enquanto Português me envergonhou.
8 anos depois os mesmo argumentos defendem o "Não".
Já não sinto vergonha. Constato apenas que o meu País parou no tempo e assim quer ficar.

4 comentários:

Anónimo disse...

Até tou arrepiada, não poderia estar mais de acordo contigo.
É uma hipocrisia, a vida é cá fora, com qualidade, um filho desejado para ser amado.
Não deve haver uma única mulher no mundo que faça um aborto e não sofra com isoo.
Só quem não vê isso é porque é insensível e desumano.

angelaloura disse...

E já voltam a aparecer outdoors "em defesa da vida" por Lisboa... Daqueles que têm dinheiro para ir a Espanha resolver os seus problemas... ;)

Anónimo disse...

E de longe é muito mais agradável ser esquartejada do que tomar o belo do comprimido todos os dias. Daí o tal “método contraceptivo” que os protectores da vida / condenadores do pecado apelam a que seja evitado. É a verdadeira inquisição, tapada com um véu de slogan século XXI.

Rui Silva disse...

Mas ou muito me engano, ou o Não! vai ganhar de novo. Espero estar enganado, mas tenho pouca esperança. Espanha é já ali ai lado, em vez de ir comprar caramelos a Badajoz, vai-se fazer um abortozito.