sexta-feira, julho 14, 2006

Hasta Siempre


Andava a vaguear por uns blogues que aos poucos vou conhecendo (nomeadamente o http://semolinapill.blogspot.com/) quando certas recordações, ideias e convicções me cruzaram o pensamento.
Talvez por setembro se aproximar, lembrei-me da festa do Avante. Do espírito, da camaradagem, das emoções que ali normalmente se encontram. O cartaz publicitário não mente quando diz que "Não há festa como esta!". De facto não há.
Claro que uma opinião não passa disso mesmo e certamente nem todos se reveêm nestas palavras, mas para quem sente a festa e percebe que ela vai muito para além de um conjunto de concertos, não consegue deixar de associar setembro ao Avante.
O voluntariado na preparação da festa, a disponibilidade dos intervenientes e o ambiente em que esta se realiza, não podem deixar de ser bons exemplos, numa sociedade cada vez mais desprovida de ideais, solidariedade e entre-ajuda. Naqueles 3 dias, conseguimos reduzir o mundo a conceitos simples, ideias fraternas e de possível execução. Numa palavra, cria-se: Esperança !
É óbviamente uma festa com cariz político e não há que o esconder. Criada inicialmente para suportar o jornal "Avante", não é no entanto um sítio que os simpatizantes de outras forças políticas devam evitar. Bem pelo contrário ! Eu compreendo que um simpatizante de direita, não tenha grande interesse em ouvir o Jerónimo discursar, mas ao contrário do que alguns seres (pouco pensantes) assumem, não há um corpo de intervenção vestido com camisolas do Estaline, a obrigar os visitantes a aplaudir!! Podem simplemente passear no recinto, provar gastronomia de todo o país, ver exposições, ouvir boa música e tudo isto, sem terem que andar vestidos de vermelho. Tolerância e respeito, são as palavras de ordem.
Algumas das minhas boas recordações estão implicitamente ligadas ao evento. Sinto que ali fortaleci amizades, descobri um pouco mais sobre o mundo e comecei a criar as minhas próprias opiniões.
Lembro-me de perguntar quem era Che Guevara, o que se passava na Palestina, quem era aquele senhor de sobrancelhas carregadas...posso não concordar com todas as visões que ali são defendidas, mas foram elas que me permitiram criar as que me regem.
Depois há também o aspecto lúdico, de pura diversão e crescimento. Foi ali, em conjunto com um grande amigo (já lá vão 15 anos...estou a ficar velho!!!), que "descobri" que o moscatel de setúbal, apesar de doce, não era sumo. Lembro-me também de, refastelado na relva, debaixo de um luar fantástico ouvir pela primeira vez a voz cristalina da Teresa Salgueiro. Recordo igualmente a imagem do meu pai (sempre com a sua máquina fotográfica a tiracolo) a oferecer-me uma Cuba Libre e eu a pensar: "será que já sou adulto??"
Lembro-me de conversas, olhares e promessas...palavras que ficaram, amigos que não esqueci.
Estou-me a imaginar agora na zona internacional, perto do pavilhão de Cabo Verde. Em boa companhia, provando aquela cachupa fantástica e trocando horas de palavras, que por norma nos ensinam algo. Depois, já mais próximos do pavilhão da Galiza, uma pequena espera enquanto se prepara a "queimada". Há que bebê-la sentado pois o o nome não vem do acaso. Óptima desculpa para mais um momento de convívio e descontracção. Ao longe, de um palco improvisado chega um som familiar por estas paragens. Nunca lhe consigo ficar indiferente... http://www.youtube.com/watch?v=PeVldqblIRE&search=carlos%20puebla

Hasta Siempre
Tiago Franco

5 comentários:

Anónimo disse...

Um colega meu que trabalha no Porto ficou horrorizado quando soube que outro colega do dito local tinha ido à Festa do Avante. Como era possível um jovem nascido depois do 25 de Abril apreciar tal evento? Porque não? (perguntou alguém) Porque só quem lá vai são os comunistas!!! Respondeu indignado o tal colega.
Isto passou-se há um ano e os intervenientes têm idades de 54 e 31 anos. Este é apenas um exemplo que eu conheço, mas devem haver milhares de situações idênticas, pois continuamos a ter pessoas que se deixaram embalar pela acção psicológica que durante anos o regime salazarento foi divulgando. Apesar de tudo, não há registo de que os comunistas tenham comido criancinhas ao pequeno-almoço.
A realização da festa do Avante sempre foi de uma ou de outra forma, vista de esguelha por que domina o poder. Mesmo assim, contra ventos e marés nunca conseguiram evitar que ela se efectuasse Quanto mais dificuldades, melhor.
Esta Festa começou nas antigas instalações da FIL, passou depois para o Alto da Ajuda, onde hoje estão as instalações universitárias de Arquitectura, de seguida foi para Loures, para finalmente se instalar na Atalaia, Seixal, em terreno adquirido para o efeito.
A minha ida à Festa do Avante passa obrigatoriamente por ouvir alguns concertos, para além dum grupo coral alentejano, comer ensopado de borrego acompanhado por um bom tinto alentejano, comprar livros, e no Domingo à tarde ouvir os discursos de encerramento que, funcionam um pouco, para mim, como um elixir da esperança. Todos os anos, quando chega o momento de cantar a Internacional, convenço-me que nem tudo está perdido, que ainda há uma esperança, que isto vai mudar, que não estou só, que afinal talvez não seja uma Utopia.
Foi lá que há um bom par de anos ouvi pela primeira vez o Chico Buarque com o MPB4, denunciando as atrocidades cometidas pelo regime militar instalado no Brasil. Fui lá que também tomei consciência dos conflitos dos Bascos e dos Irlandeses. Guardo com enorme saudade o concerto dado pelos cantores de intervenção que antes do 25 de Abril tiveram a coragem de se opor ao regime utilizando a cantiga de protesto como arma: Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Padre Fanhais, Fausto, José Jorge Letria, Sérgio Godinho, José Mário Branco, Paulo de Carvalho, Fernando Tordo, Carlos do Carmo, e outros que agora não me ocorre.
Ary dos Santos, outro nome que era presença constante e que sempre me arrepiava quando declamava, tal era a força das suas palavras.
A Festa do Avante é um local de convívio onde sempre encontro alguém que já não via há algum tempo.
Se quiser encontrar amigos açorianos, basta, a partir do fim de tarde, aparecer no pavilhão dos Açores na mudança de cada hora. Se não houver ninguém na primeira hora, é uma questão de insistir, porque vai aparecer alguém. Nunca falhou. Depois, matam-se saudades, comem-se umas sopas de império e bebe-se um vinho de cheiro.
Este ano lá estarei mais uma vez a cumprir o ritual.
Está aberta a todos, anda-se com segurança, divertimo-nos, tem bons espectáculos, os livros são acessíveis, a comida regional é agradável, o ambiente é descontraído e não dão injecções atrás da orelha.
Ninguém faz uma festa assim.

angelaloura disse...

Pois é. E então com a lei de financiamento dos partidos, dirigida unicamente a quem faz esta festa, as coisas apertam-se um pouco. Mas é difícil impedir que milhares e milhares de pessoas construam uma festa que, apesar de tão criticada por muitos, é querida por muitos mais e frequentada por gente que não passa pela cabeça de ninguém.
Infelismente, ainda só pude ir à Festa três vezes (a insularidade, e não só, não ajudou muito). Da primeira vez inscrevi-me na JCP, e a partir das outras duas vezes passei a trabalhar lá, quer na implantação, quer com delegações estrangeiras, quer em turnos de vendas. E realmente é encher o orgulho a qualquer um que ajude nem que seja um bocadinho, por se saber se está ali um tubo nosso, que pintámos aquela parede, que fizemos novas (e tantas) amizades... E como já disseram aqui, por muito grande que a Festa seja, há sempre o ponto de encontro, que já serve tanto para mim como para os meus novos amigos, quando os convenço a ir ao stand dos Açores provar um licor ou aguardente de amora, as sopas de império...
Não conheço ninguém que tenha posto os pés na Festa e que não tenha gostado.
Resumindo, baralhando e concluindo:
A vida são dois dias, a Festa do «Avante!» são três!
Não há Festa como esta!
"Todo o mundo na Festa!"

Beijinhos

Ângela

angelaloura disse...

Ah! É verdade Tiago. Obrigada por teres passado pelo Nameless.
De facto aquela música é daquelas que me causam arrepios. Essa, e tantas outras, incluindo as do Luís Gil Bettencourt (aquelas que ele cantava em inglês). Tenho essa música e outras num CD, "20 Anos de Música", acho. Tanto posso enviae pela net (se estiver no formato certo, que não percebo nada disto), ou gravo um CD, atravesso a Calçada e deixo no sítio que me é mais perto agora, se o teu pai cá (Lx) estiver. As do Luís Bettencourt só tenho uma ou duas, e tanto uma ou outra hipótese serve.
A minha imagem é um pôr-do-sol da Praia Formosa sim.

Beijinhos

Ângela

angelaloura disse...

Enganei-me =/, "Sete Anos de Música". São 21 músicas. "Cantiga da Terra", "Vapor da Madrugada", "Os Piratas" (lembras-te desta??), "Ilhas de Bruma", "Chamateia", "Boi do Mar"... São músicas que poderás eventualmente reconhecer.
É verdade! Já compraram as vossas EP's? Aproveitem enquanto são mais baratas (25€ nos dias, 17,50€ antes).
Beijinhos

Ângela Loura

Tiago Franco disse...

Olá Ângela,
se pudesses atravessar a calçada e deixar isso em casa do meu pai seria óptimo :) Tenho mesmo saudades de ouvir essa música :)
Ainda não comprei a EP...este ano estou bastante longe e não sei se estarei em Portugal nessa altura.
Gostava, mas ainda não sei...