Corria o meu dia entre um problema e outro, quando me chegou este "artigo" às mãos.
Eu ainda sou do tempo em que a pena nos jornais era manejada por quem tinha algo para dizer, experiência de vida para partilhar, alguma sabedoria, visão global e um cérebro.
Público, DN e Expresso são para mim, ainda, jornais de referência. Depois de ler um artigo como aquele que está ali em cima, pergunto-me, como é que deixam publicar uma barbaridade destas, cheia de generalizacões e banalidades de café, num insulto ignorante a milhões de portugueses.
Gustavo Sande qualquer coisa é o autor das asneiras. Como ele se sentiu confortável para generalizar e banalizar uma realidade que desconhece, acho que posso fazer semelhante exercício.
Gustavo dos 3 nomes é um betinho. Tirou um curso no ano passado daqueles para especialistas de power point. O cv do menino é o que está na foto, disponível no linkedin.
Por onde comecar?
Gustavo fala, com algum desprezo, de quem sai do país. Porque falam mal de Portugal, porque culpam o governo, porque dizem que não há oportunidades, porque "lá fora é que é" e sujeitam-se a trabalhos que não fariam em Portugal. Desculpas e mais desculpas de quem não teve forca de vontade, arte e engenho, para vingar em terras lusas.
Gustavo alerta que também foi um de nós. Também ele emigrou para experimentar viver fora de Portugal. Não por necessidade, por aventura.
Não Gustavo, tu não és um de nós. És um merdas a quem foi dado um espaco para espalhar ofensas gratuitas, como provam os comentários, quase todos melhores do que a merda que alinhavaste no Público.
Diz Gustavo:
"Antes de mais, começo por revelar que também passei pela experiência de viver no estrangeiro. Trabalhei cerca de um ano na minha área de formação e tive que construir sozinho uma base sócio-profissional suficiente para ocupar o meu dia-a-dia. Não fui por falta de oportunidades em Portugal, mas sim pelo desafio de viver num país que não o meu. É, e sempre será, difícil começar tudo do zero (seja em que país for). O nosso não é exceção."
Não Gustavo....estar 10 meses a fazer power points e tirar cafés para o chefe não é a mesma coisa que emigrar. É uma espécie de Erasmus para betos que depois voltam e contam nas férias de Vilamoura como foi. É só isso.
O teu cv, a miséria que apresentas como cv - uma mão cheia de experiências de meses polvilhadas com lugares comuns do "doing nothing with a cool name" - obrigar-te-ia, só por si, a estares calado.
Mas não. Querias espalhar um pouco mais de sapiência.
"A ilusão que a vida no estrangeiro é mais fácil leva muitos a arriscar esta mudança. Uns arrependem-se e outros teimam em afirmar que fizeram a melhor escolha possível. Não digo que não tenham feito, mas não me venham dizer que em Portugal era mais difícil. Se calhar a força de vontade em fazer qualquer coisa num país diferente do nosso foi maior. Depois de saírem de Portugal, seria triste se também não conseguissem vingar noutro local"
Não Gustavo, também não é isso. Não é a ilusão meu idiota, é mesmo a falta de emprego, contas para pagar, filhos para sustentar e vidas que se vão desfazendo nas filas do desemprego. É chegar ao fim do mês e não ter como meter comida na mesa. É entrar na pobreza envergonhada, é fazer parte dos 20% que entraram na classe social POBRE depois da austeridade.
E sim...em Portugal é mesmo mais difícil. Não há um gajo qualquer aí no Público que te explique o que é o INE? Que te explique o que é uma simples estatística? Vamos lá os dois então...com calma. Se Portugal tem das mais altas taxas de desemprego, então Portugal é um dos países onde é mais difícil. Topas? Assim...na base da matemática. Muito simples. Mas não se ensina em cursos de power point e business management on the rocks.
E quando dizes que culpar o governo é um absurdo já entras no domínio da ignorância. Mas eu estou cá para ajudar. Vamos lá de novo. Vários países entram em crise. Uns prendem banqueiros corruptos e despedem governos, outros metem dinheiro na seguranca social e deixam os bancos a arder. Outros, mais espertalhões, metem dinheiro nos bancos (que provocaram a crise) e rebentam com a seguranca social e sistema de saúde. Adivinha lá que países saíram primeiro da crise? Muito bem Gustavo. E adivinha lá quem é que tomou as opcões políticas? Issooooo....os governos! Queijo amarelo para ti.
Numa coisa tens razão. Quando se sai do país e, acrescento eu, se leva uma tristeza enorme na bagagem, seria ainda mais triste não conseguir vingar no país de acolhimento. Ora, vendo este ódio que tens aos emigrantes e o tempo curto que aguentaste a servir cafés ao chefe em Londres, tenho o palpite, aqui entre nós, que sei quem é que não vingou...
Mas dizes mais. Segues com as pérolas.
"Eu até concordo que existam profissões que sejam difíceis de exercer em Portugal. Enfermagem, por exemplo, está limitada em termos de vagas em relação ao total de enfermeiros formados todos os anos. Com cerca de 3000 novos enfermeiros disponíveis para trabalhar todos os anos é óbvio que alguém ficará de fora. Retirando estes casos em que a formação está destinada a expatriar parte dos formandos, os restantes casos de emigração poderão estar associados à falta de esforço e flexibilidade por parte do trabalhador."
Há falta de enfermeiros no país, pá! Com tantos exemplos que podias usar, tipo power point manager, vais logo usar os enfermeiros?? Não é falta de flexibilidade ou esforco, é mesmo não querer ser explorado. Sabias que pessoas que tiram cursos a sério, daqueles que fazem pontes ou desenvolvem iPhones para tirares as fotos do jacuzzi que tens no facebook, recebem em Portugal 1000 euros ou menos? Sabias que o salário médio em Portugal são cerca de 700 eur e já levamos mais de 2 décadas de UE. Percebes em termos de desenvolvimento social o atraso que isto representa? Compreendes que pagamos impostos da Suécia mas recebemos salários da Polónia? Não é falta de esforco, é simplesmente perceber que metade do mundo acolhe os académicos portugueses e lhes proporciona maior qualidade de vida.
Rematas a tua diarreia com perplexidade.
"Outro evento que também me deixa perplexo é a diferente perceção relativamente às carreiras profissionais. Trabalhos que nunca estariam dispostos a ter em Portugal, lá fora parecem ser carreiras de luxo. É incrível a imensidão de casos de emigrantes que acabam por trabalhar em restaurantes "fast food" ou em trabalhos secundários noutros países e que em Portugal nunca assumiram essa hipótese. Atenção, que não tenho nada contra a "fast food". Eu próprio já trabalhei num restaurante deste calibre. Apenas acho peculiar o fato de assumirem como hipótese trabalhar nestas posições noutro local que não Portugal.
Sejam estágios do IEFP, uma baixa remuneração, um trabalho fora da formação, tudo é uma razão para não aceitar o trabalho. Mas lá fora, tudo se torna numa razão completamente credível e razoável para aceitar o trabalho. Lá fora sim, em Portugal não. Para esta falta de vontade, não precisamos cá de vocês. Adeus e boa sorte lá fora. Aqui, nós conseguimos cuidar de nós próprios, não precisamos de vocês para crescer."
Facamos pois o último esforco Sande, que isto de usar a cabeca não é para todos. Imagina que te oferecem 300 eur para limpar sanitas. Tu, em principio e com o teu curso de power point, não queres. Passas anos neste rengo-rengo e não consegues nada melhor. Percebes que 300 eur não chegam sequer para comer. O que fazes? Vais para Londres limpar as mesmíssimas sanitas. Merda inglesa é melhor? Não. Mas o salário permite-te viver. Percebes a diferenca? Chama-se a isto socialismo puro. Uma espécie de sociedade onde os degraus entre classes são mais suaves. Todos, comecando pelo primeiro degrau, conseguem ter um mínimo para uma vida decente. Quem limpa sanitas, quem conduz um autocarro, quem faz power points cheios de oxigénio ou quem inventa um painel solar de bolso. Isto em Portugal não existe porque as decisões tomadas pelo Governo rebentaram com a classe média e passámos a ter saltos enormes entre todos.
Por fim meu jumento, deixo-te uma nota. A última coisa que vocês aí conseguem é tomar conta de vocês próprios. Se assim fosse não viviam de uma linha de crédito, o PM não ia a Berlim pedir autorizacão para mijar e os toscos como tu, de 4 em 4 anos, não votariam nos mesmos que há 41 anos roubam o meu país em total impunidade.
Em 2013 batemos o recorde de saídas do país. Quase 120 000 pessoas, muitos deles formados em áreas técnicas. A última vez que isso aconteceu corria o ano de 66, estávamos em plena guerra colonial. Consegues perceber a calamidade que isto é?
Muitos dos melhores alunos que as escolas e universidades portuguesas preparam, estão hoje a ser aproveitados pelos países de primeiro mundo ou pelos que estão em franco desenvolvimento.
E se dúvidas tiveres...basta veres quem ficou desse lado, sem cv, sem nada para dizer, sem qualquer experiência relevante de vida, a verbalizar asneiras e banalidades num jornal que já foi de referência.
4 comentários:
Desde o rapaz das gelatinas de morango que o P3 deu mostras de deixar escrever qualquer um. O que ele se esqueceu de referir foi que vocês, emigrantes, têm muito tempo livre para se darem ao trabalho de ler e comentar esta - não há outra forma de o dizer - bosta. Raça da produtividade que só atrapalha!
Eu acho este texto absolutamente ofensivo e grotesto. Como é que o Público publica uma merda destas?
Toma lá para te entreteres, Calimero:
http://p3.publico.pt/actualidade/sociedade/10526/ja-nao-ha-pachorra-para-os-calimeros
Acho q n me enquadro na crítica...saí do sol antes da crise comecar. Tipo o Sande, só pela aventura.
Ainda assim, ao pé do outro, este morangos é um poeta!
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