Vamos lá
por partes para evitar a clássica inclusão de todos os farináceos no mesmo
saco.
Apesar de votar
sempre em partidos de esquerda (e às vezes no PS), não sofro de esquerdite
aguda, ou seja, não acho que todos os betos do PP/PPD/PSD sejam bons para abrir valas
no Alentejo ou que os EUA sejam o grande satã. E sim, a Coreia do Norte do
gordinho que ia sempre à baliza, é uma ditadura.
Dito isto…vamos para Boston.
Devo
confessar que, como qualquer pessoa decente neste planeta, considero um acto de
terrorismo como a forma mais vil, cobarde e lamacenta de reclamar ou lutar por
uma causa. Não há perdão, desculpa ou atenuante para quem, às escondidas, mata
inocentes.
Nenhum
acontecimento politico modificou tanto a minha vida como os atentados das
torres gémeas. Não consigo esquecer aquelas imagens, aqueles saltos
desesperados, o pânico da morte. Ainda hoje decido alguns aspectos da minha
vida influenciado por esse trágico acontecimento.
O que
aconteceu em Boston foi mais um ataque cobarde. Não sei de quem nem me
interessa. Morreram 3 inocentes.
Mas é aqui
que acaba a minha simpatia e comocão.
No dia em que
tudo aconteceu, estava, por acaso, a ver a sic noticias. Comecou o show…
Interrupcões
de 5 em 5 minutos com “mais informacão”. Seguranca reforcada em Nova Iorque e
Washington. Obama na casa branca a “coordenar” tudo. 200 pistas seguidas pela
CIA. A treinadora de Dulce Félix contou, pelo menos 5 vezes, que não sabia se
ia apanhar o avião porque ninguém podia sair do hotel. A comitiva portuguesa
estava bem. A Fed. De Atletismo acrescentou 10 minutos depois que “a comitiva
portuguesa estava bem”. 15 minutos depois nova “informacão extra” para dizer
que afinal parecia que a comitiva portuguesa estava bem.O Air Force One está no ar. O presidente
está em seguranca. Nenhum estilhaco chegou a Washington. Sameiro Araújo, treinadora
de Dulce Félix, já estava no aeroporto. Afinal ia embarcar. A PSP ficou em
alerta junto à Assembleia da República. Uma emigrante portuguesa entra em
directo para dizer que “está tudo normal mas ouvem-se helicópteros”.
Obama fala ao país: ”eles vão pagar!”. Alguém, logo se vê quem. A imagem do rebentamento já passou 500 vezes. A
CIA está em Langley a refazer a bomba. Já há uma simulacão na CNN de como tudo
aconteceu. Olha, mais um ferido. Não são 20 mas 30. Talvez 100. Três dias
depois a Dulce Félix aterra em Lisboa. Parece que a comitiva portuguesa está
bem.
Uma vida é
uma vida. Nada pode ter maior valor e eu lamento profundamente qualquer morte,
especialmente se for arrancada cobardemente a gente inocente. Mas…no mesmo dia
morreram mais 30 no Iraque num atentado. Alguns dias antes a forca aérea síria
limpou mais 16. Na semana anterior uma exploracão mineira qualquer na China
enterrou mais 40. As eleicões na Venezuela já fizeram 10 mortos. Afeganistão,
alguém? A luta pelo controlo das fontes de água mata uns quantos todos os dias
no centro de África. Ouviram falar? Eu não ouvi. Mas li nos cantos dos jornais.
São números, bem sei, mais ainda assim, bem mais do que 3.
1 comentário:
Olá Tiago, infelizmente tens razão.
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