quarta-feira, abril 17, 2013

Maratona de Damasco


Vamos lá por partes para evitar a clássica inclusão de todos os farináceos no mesmo saco.
Apesar de votar sempre em partidos de esquerda (e às vezes no PS), não sofro de esquerdite aguda, ou seja, não acho que todos os betos do PP/PPD/PSD sejam bons para abrir valas no Alentejo ou que os EUA sejam o grande satã. E sim, a Coreia do Norte do gordinho que ia sempre à baliza, é uma ditadura.
Dito isto…vamos para Boston.
Devo confessar que, como qualquer pessoa decente neste planeta, considero um acto de terrorismo como a forma mais vil, cobarde e lamacenta de reclamar ou lutar por uma causa. Não há perdão, desculpa ou atenuante para quem, às escondidas, mata inocentes.
Nenhum acontecimento politico modificou tanto a minha vida como os atentados das torres gémeas. Não consigo esquecer aquelas imagens, aqueles saltos desesperados, o pânico da morte. Ainda hoje decido alguns aspectos da minha vida influenciado por esse trágico acontecimento.
O que aconteceu em Boston foi mais um ataque cobarde. Não sei de quem nem me interessa. Morreram 3 inocentes.
Mas é aqui que acaba a minha simpatia e comocão.
No dia em que tudo aconteceu, estava, por acaso, a ver a sic noticias. Comecou o show…
Interrupcões de 5 em 5 minutos com “mais informacão”. Seguranca reforcada em Nova Iorque e Washington. Obama na casa branca a “coordenar” tudo. 200 pistas seguidas pela CIA. A treinadora de Dulce Félix contou, pelo menos 5 vezes, que não sabia se ia apanhar o avião porque ninguém podia sair do hotel. A comitiva portuguesa estava bem. A Fed. De Atletismo acrescentou 10 minutos depois que “a comitiva portuguesa estava bem”. 15 minutos depois nova “informacão extra” para dizer que afinal parecia que a comitiva portuguesa  estava bem.O Air Force One está no ar. O presidente está em seguranca. Nenhum estilhaco chegou a Washington. Sameiro Araújo, treinadora de Dulce Félix, já estava no aeroporto. Afinal ia embarcar. A PSP ficou em alerta junto à Assembleia da República. Uma emigrante portuguesa entra em directo para dizer que “está tudo normal mas ouvem-se helicópteros”. Obama fala ao país: ”eles vão pagar!”. Alguém, logo se vê quem. A imagem do rebentamento já passou 500 vezes. A CIA está em Langley a refazer a bomba. Já há uma simulacão na CNN de como tudo aconteceu. Olha, mais um ferido. Não são 20 mas 30. Talvez 100. Três dias depois a Dulce Félix aterra em Lisboa. Parece que a comitiva portuguesa está bem.
Uma vida é uma vida. Nada pode ter maior valor e eu lamento profundamente qualquer morte, especialmente se for arrancada cobardemente a gente inocente. Mas…no mesmo dia morreram mais 30 no Iraque num atentado. Alguns dias antes a forca aérea síria limpou mais 16. Na semana anterior uma exploracão mineira qualquer na China enterrou mais 40. As eleicões na Venezuela já fizeram 10 mortos. Afeganistão, alguém? A luta pelo controlo das fontes de água mata uns quantos todos os dias no centro de África. Ouviram falar? Eu não ouvi. Mas li nos cantos dos jornais. São números, bem sei, mais ainda assim, bem mais do que 3.


1 comentário:

s disse...

Olá Tiago, infelizmente tens razão.