Na minha primeira aula no ISEL (inst. Sup. Eng. Lisboa), na
década de 90 do século passado, um professor, depois de se apresentar em checo,
contou-nos a história da ponte.
Uma espécie de ”entram um Português, um Inglês e um Francês”
em versão escolas de engenharia.
Duas pontes
foram construídas. Uma por um aluno do Técnico, outra por um aluno do ISEL.
Tinham
ambas bom aspecto. E pareciam robustas.
Muitos anos
depois a ponte do camarada do Técnico ficou feita em pó. Desmoronou-se. Ele,
aflito com a situacão, desenvolveu uma série de teorias e explicou ao detalhe,
com equacões e influências climatéricas, o porquê da ponte ter caído naquele
dia.
Ele sabia
exactamente que a ponte não poderia ter ficado em pé por A+B+C. Era óbvio para
ele os porquês teóricos de todo aquele monte de entulho.
O outro
ficou espantado com tamanha teoria desenvolvida sobre uma ponte que já não o
era. A sua ponte, construida como lhe haviam ensinado, nunca caiu mas ele
também não sabia explicar porquê.
O que ele
queria dizer é que por ali se valoriza o ensino de “saber fazer”. Ninguém vai
perder 5 aulas a desenvolver as equações de Maxwell. O próprio já o fez…mas vão
ensinar-nos de que forma as devemos usar para perceber a teoria do Electromagnetismo.
Também não vamos perder semanas com power points que explicam a história do
primeiro transistor. A teoria chega em forma de ser aplicada. Ainda nem sabia o
que era uma disquete e já estava a montar circuitos integrados ou a desenvolver
software. E não era algo que me agradasse particularmente.
Na altura
tudo isto me parecia idiota e a carga de trabalho imensa para quem estava a
sair do ensino secundário.
Fartei-me
de receber folhas A4 com enunciados de trabalhos onde, invariavelmente, dizia a
mim proprio: “como é que se faz esta merda??”
E espumava
quando ouvia professores repetirem o “desenrasca-te” em versão escolar: “Não
sabes? Lê o manual!”
Mas…quase
18 anos depois desse professor me contar a história da ponte, a verdade é que
nunca tive um desafio profissional mais complicado do que aqueles que me “ofereceram”
em Chelas. Ou pelo menos, o meu terror quando olho para a descricão dos
projectos onde trabalho, é infinitamente menor do que aquela que tinha nos
tempos de aluno.
Depois de
ser apertado ali, não há rigorosamente nada no mundo de trabalho que me
assuste.
Sempre que me perguntam: “Achas que consegues
bla, bla, bla?”, digo sempre que sim, seja qual for o final da frase e mesmo
que nao faca a menor ideia do que me estão a pedir. Algures existirá um manual.
Hoje
apareceu aqui um colega Chinês que me pediu ajuda. “Nao consigo meter o
simulador de radio a funcionar”, disse ele.
Sentei-me e
tentei N solucoes. Ao fim de algum tempo aquilo lá arrancou.
Ele
agradeceu e pediu-me para explicar o que tinha feito. “Nao consigo. Mas
posso-te contar uma história com pontes”, respondi.
1 comentário:
Olá Tiago, gostei da historia.
Conseguimos sempre :)
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