Qual é o problema de envelhecer? Não é um, são vários.
Desde logo ver que os miúdos de 20 anos correm muito e uma pessoa tem que usar a experiência, também conhecida como "rasteira", para os acalmar. A barba, para além de existir e de continuar a dar trabalho, vai mudando a sua tonalidade aproximando-nos do Pai Natal.
Aquela musica de discoteca a partir os tímpanos a noite toda afinal não é tão engracada e a ressaca já não dura 2 horas mas sim, 2 dias. Acampar é óptimo quando não há um Hilton por perto e sentar no cinema ao lado do gajo com um balde de 5kg de pipocas deixou de ser suportável.
E vantagens? Há?
Muito poucas. A proximidade da reforma e a capacidade de ver entre as linhas. Moderacão.
O morte de Chavez e a forma como as diferentes forcas políticas a viveram, é o típico caso de olhar sem desviar as palas.
Pensava eu que deixávamos a análise apaixonada para o futebol. O Porto compra árbitros há 20 anos, o Sporting esteve 5 anos sem sofrer um penalti e depositou 2000 euro na conta de um fiscal. O Benfica é o único grande clube Português que prima pelo rigor e honestidade. Pronto. Uma análise ponderada, quicá ligeiramente apaixonada.
Na política não pode ser assim. Há vidas em jogo.
Chávez não foi um tirano mas também não foi um democrata. A esquerda portuguesa tenta transformá-lo num Bolívar (vá lá, já perceberam que o Che também cometeu umas argoladas pelo caminho...), a direita, chora lágrimas de crocodilo porque há não sei quantas paletes de Magalhães encomendadas.
Ver Paulo Portas, em nome da Real Politik, a falar de Chávez, é de comer bolachas e chorar por mais, como diria uma amiga de outras paragens. "Cash is king", ponto final. Se o Ghaddafi tinha direito a tenda em São Julião, o Chávez tem direito a cafuné do Paulinho, desde que mande alguns "petrodólares" para cá.
A nossa esquerda tem o infeliz hábito de contar apenas a parte feliz da história e eu, sendo uma pessoa de esquerda, fico ligeiramente envergonhado com isso. É verdade que Chávez desviou dinheiro do petróleo, que estava perdido entre empresas e algumas famílias ricas, para o Estado e dessa forma financiou políticas sociais. Desde o aumento do salário mínimo ao investimento na escolaridade da populacão. A diminuicão das diferencas sociais são incontestáveis. Passou por várias eleicões, perdeu referendos, aumentou o número de votantes, sobreviveu a um golpe de estado. Usou a riqueza Venezuelana para chatear Bush e amigos (embora não tenha deixado de fazer negócio) e isso é sempre simpático. Tendo em conta a influência que os EUA tentam ter naquela zona, os golpes de estado feitos nas últimas 4 décadas e os capachos locais (Chile e principalmente, Colômbia), é bom ter uma espécie de contra-poder, mesmo que venha em versão revolucionário do séc.XXI.
Agora...há também o outro lado da mesma moeda, que BE e PCP não querem ver e Paulo Portas não pode. Chávez mudou a constituicão para aumentar o número de mandatos. Dizia ele que tinha um projecto até 2022. Ora...que democrata faz isto? Por outro lado, bem sabemos que a riqueza não foi distribuída apenas em políticas sociais. Os generais, camaradas de partido e a base militar que aguentavam Chávez não o faziam em nome da causa. Sim, estamos na América Latina.
E o que dizer do culto de personalidade, das intermináveis manhãs de Domingo em directo e dos canais de comunicacão controlados? Ahhh mas o Relvas também faz isso!! Tudo bem, mas é isso um sinal de democracia? Claro que não.
Eu não acho que Chávez seja um Bolivar mas também não o vejo como um Kim Jong de Caracas. Acho que os milhares que encheram as ruas o fizeram de livre vontade e isso, como diria Cavaco, é uma imagem que os olhos não podem deixar de ver.
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