Diogo, 4 anos

Não sei se já repararam mas o Diogo é um miudo diferente. Podem ser os meus olhos, admito. Ou então a vossa falta de atencão.

Talvez diferente não seja a palavra certa. Único então. Mas…todos somos únicos, certo? E os gémeos? Não percebo muito das BioCenas.

Então…especial. É isso! É um miudo especial. Huuum…não, não é suficiente. Não consigo adjectivar. Não tenho arte nem engenho para tal tarefa.

Direi apenas, para simplificar, o Diogo é o meu filho.

E pronto...a partir daqui tudo deixa de ser racional, lógico ou estruturado. Tudo ganha um novo sentido, uma proporcão gigantesca, uma importância desmedida. Só com um sorriso. Desde o primeiro minuto que é assim. Com um simples sorriso.

E é o tempo que normalmente estraga tudo. Tempo que foge sem avisar e que, de repente, nos deixa num debate sobre os meninos de África. África? Mas como? Eu lembro-me como se fosse ontem...a enfermeira apareceu e com muito jeito colocou-te nos meus bracos. Foi ontem pá! Como é que podemos estar a falar de África hoje?

Não me conformo. São muitas despedidas. Muitos minutos a pensar nos que passaram e a contar os que faltam para o próximo encontro. Com ele. O puto que eu já conhecia antes mesmo de ter nascido. Sem tirar nem pôr. Dos meus sonhos para o chão da sala. Era este.

Primeiro, em esforco, com as maos num comboio de CDs. Fez forca, levantou-se. Estava em pé pela primeira vez. Viu mais além. E hoje...interrompe o sermão com um “Pai, agora é a minha vez de falar”. Assim...num ápice. Sem me perguntar se eu queria que o tempo passasse.

As histórias contadas enquanto se move em circulos. A dificuldade de estar quieto 5 minutos. A preferência por calcas “macias”. A preocupacão no carro com a gasolina disponivel. Os maus e os bons. A fuga da cama. O iogurte. O Zorro. O Lucky Luke. O Asterix. Os porquês. Os porquês meus amigos! Ele não sabe e eu não percebo, mas já alguém fez aquilo 30 anos antes. Genética dizem eles.

Há cerca de 3 anos que registo quase tudo em papel. Uma espécie de diário que, acompanhado de imagens, explicará ao Diogo como foram os seus primeiros anos de vida. É um dos meus hobbies. Sim, o Inverno é longo…

Quando gasta a pilha senta-se com um puzzle. Lá fora neva e dentro de casa a lareira reflecte as bochechas luzidias. Eu aproveito o momento e observo. Vale ouro. É o meu filho que está ali.

Imagino que chegará um pedido de ajuda…não, ele não quer. Resolve sozinho as 50 ou 100 pecas. Há esperanca, o cérebro é o da mãe! E a cara também. Bonita, se me permitem.

Hoje o Diogo faz 4 anos.

Observo a primeira fotografia que lhe tirei. Tinha nascido há poucos minutos. A mãe estava exausta e dormia. Eu contava dedos, orelhas e pernas. Sim, estava lá tudo.

Hoje, como noutros dias, lembro-me bastante de uma senhora que se aproximou de mim na rua, aqui em Gotemburgo, e olhando para o Diogo disse: ”aproveite cada dia, os 12 anos chegam sem que você dê por isso”. Estava amargurada, percebia-se na voz. Desabafou com um estranho.

Lembro-me disto quase todos os dias em que estamos juntos e, mais ainda, quando não nos podemos ver.

Eu estou aqui, ele está ali. Quase que o vejo da janela.

A vida dá-nos licões que a razão não entende e que o coracao dificilmente suporta. Quem me dera ter respostas para uns quantos porquês.

Eu amo o meu filho. Por mais que tente descrever este sentimento, perco-me nas palavras. Não tenho manifestamente talento para juntar algo com sentido. A única coisa que me ocorre é o batimento do coracão no momento em que o vejo. O sorriso. O abraco. Sentir isso é viver.

Obrigado Sofia.

Parabéns Filho!