terça-feira, fevereiro 05, 2013

Venham mais 7, de uma assentada que eu pago já...



Não gosto particularmente de fazer grandes balancos mas talvez seja altura de olhar um pouco para trás.


Passam hoje exactamente 7 anos, desde o dia em que aterrei em Gotemburgo com um contrato de trabalho numa mão e uma antena na outra.

Exacto. Estava a mudar a minha vida radicalmente e nem sabia o que me esperava, mas o grande medo era perder os jogos do Benfica. Enfim, são doencas. Hoje estou muito melhor. Já nem ligo a futebol.

Os meus primeiros tempos na Suécia foram efectivamente os melhores. A novidade da neve, as paisagens verdejantes, a costa, os lagos, os espacos públicos, as casas quentes, as ciclovias, as pessoas simpáticas que nao se engasgavam com o inglês. O primeiro clube onde joguei futebol composto maioritariamente por Kosovares. O carro com 20 anos comprado com o primeiro salário e que nunca falhou. O verão mais quente, segundo as estatísticas, dos últimos 50 anos e que me fazia acreditar que o Sol conseguia atravessar a barreira dos Pirinéus.

Enfim, uma vida boa e fácil. Era feliz e não sabia.

Portugal estava mesmo ali. A crise ainda não enchia jornais embora existisse. Quando é que vivemos sem crise, sem empréstimo, sem dívida? Nunca.

Mais 2 ou 3 anos e estaria de volta com um CV melhor. Era esse o plano.

Mas não, parece que não.

Portugal comecou a marcar passo e a entrar numa espiral doida de recessão. Empregos que desaparecem, salários que se reduzem, empresas que fecham, multinacionais que se vão embora. De repente estamos a pagar 40% de impostos sobre o rendimento para abater juros contraídos ao longo de 20 anos. Safamos banqueiros e boys e deixamos PMEs à deriva, abrindo a porta a outros como eu.

O encanto escandinavo desapareceu ao fim de um ano. Fui enganado pelo meu primeiro empregador. Os sorrisos e simpatia dos locais foram-se desvanecendo em bocejos de interesse. Uma coisa é ser simpático e sorrir no local de trabalho, outra coisa é beber uma café lá em casa ou um copo informal na tasca do Zé. Passam anos até se derrubar o muro da confianca e mesmo assim, sobra sempre qualquer coisa que não te deixa tocar e aproximar. Em resumo, uma coisa é ser latino e espontâneo, outra é ser escandinavo e previsível. Somos diferentes. Há que respeitar a diferenca cultural.

Aprendi à minha custa. A vida seguiu.

Fiz N entrevistas para regressar a Portugal. Sinceramente já não vos consigo perceber. Já não falamos a mesma lingua…

Continuamos nos 1000 euro, 10 anos depois? Ai, mas o projecto, o projecto. Não, não. O projecto e o trabalho interessante e mais não sei quantos chavões não pagam creche, casa e carro. Quanto sobra? Dez euro para um cinema e McDonalds? Não, já nao quero essa vida.

Comprei uma casaco mais quente.

O meu filho nasceu. A Escandinávia passou a fazer mais sentido. Por ele e para ele.

Profissionalmente, aprendi tudo o que sei deste lado. Passei por empresas de referência. Tive pela primeira vez um chefe que se importava de facto com as pessoas e que me segurou durante 5 despedimentos colectivos. Uma espécie de anjo da guarda a quem devo toda a minha evolucão no mercado de trabalho em Gotemburgo. Construi CV e quadripliquei o meu salário. Em Portugal passei 4 anos a olhar para relatórios com palavras chave em alemão e a fazer engenharia do papel. Estava no entanto rodeado pelos melhores colegas que alguma vez conheci em 11 anos de lavoura. Que jeito me dariam alguns deles aqui…

7 anos depois criei uma série de rotinas. Há o campeonato de verão e o outro de inverno. A bola das tercas e dos sábados só para tirar o pó. As partidas de squash, as aulas de danca. As viagens e a escrita. Há um copo aqui e outro ali. Menos hoje em dia, porque já não tenho paciência. Os encontros por essa Europa fora com quem faz o favor de me vir visitar.

Chegam todos os dias à cidade novos Portugueses que, com histórias diferentes perseguem um objectivo comum, uma vida melhor. Vejo-os em campo, ao almoco e ao jantar. Ninguém está sozinho.

E o puto? O puto que já fala as duas línguas e que, seguro de si, afirma que eu não percebo nada porque já sou velhote. Provavelmente tem razão. Fico todo dorido ao fim de 3 ou 4 jogos, portanto, deve ser isso. A barba que comeca a aparecer branca também é uma boa dica.

Se estaria aqui se não fosse ele? Não, claro que não. Mas também não estaria aí. Esse tipo de vida já não faz sentido. Andar enfiado em filas de trânsito a toda a hora, pagar mais impostos que os Noruegueses ou aceitar que um gestor do BPN entre no governo, são coisas que já não me permitem viver em paz. Revoltam-me. Enervam-me.

Quero o céu azul. Quero o Atlântico. Quero o chaparro. Quero o Chiado. Mas não quero o Passos, o Borges, os Xicos, o Cacém ou Albufeira.

Qual é o balanco então? Positivo, diria. O que se perde em Sol e nos improvisos do contacto, ganha-se na qualidade de vida e no mundo de oportunidades.

Bem sei que um Sueco nunca responderá outra coisa que não “Mas agora, assim sem combinar???” a um convite para ir beber café, mas pelo menos, o meu filho terá oportunidade de ser o que quiser e viver bem, sem precisar de conhecer ou depender de outro que não ele próprio.

Só por isso, venham mais sete.

1 comentário:

Vasco disse...

Nao sei quem e' a mae do Diogo - esta' "presa" a Gotemburgo, ou consideram mudarem-se todos para algures mais quente?