quarta-feira, maio 07, 2008

Bitoque sem óleo



Para vocês é apenas mais um dia.
Aposto que já bebericaram um galão.
Duvido um pouco da bola de berlim, afinal o verão está à porta e devem querer passear a silhueta em frente ao Barbas.
Talvez o pastel de nata.
Sim, aposto que quem fugiu do "chefe, é um galão e sandes mista" caiu no "amigo, uma bica e um nata, ó faxavor".
No almoco alguém vai engolir um bitoque.
Certo como o destino.
O avião que me trouxe de Portugal aterrou numa sala cheia de suecos, alemães e chineses.
Tiro areia da Figueirinha dos sapatos e o polvo à lagareiro ainda me escorre na beica (sempre gostei desta palavra…) enquanto à minha volta se discutem questões técnicas cheias de siglas.
É incrivel como a nossa vida se resume a um conjunto de códigos.
VCC, SRS, VP, E2, SWRS, FDJ e por aí fora numa lista que termina depois de 100.
E fazem uma conversa inteira com isto…
FDJ? Que raio…
"Final Data Judgement" diz um gajo acordado.
"Falam com o Schwarzenegger nesse dia?", pergunto eu.
Saberá esta gente que eu memorizo o código do multibanco, do cartão de crédito, do telemóvel, da porta de casa, do acesso ao banco pela internet, do bilhete de identidade, do cartão de contribuinte, do miles & more, do skype, dos sistemas da volvo, do outlook, de uma dúzia de servidores pirata para ver a bola, dos cartões de acesso no trabalho, dos telefones dos parentes próximos e amigos mais chegados, dos telefones das casas onde vivi até aos 20 anos e do numero de identificacão sueco?
Tenho mesmo que ler documentos onde, tirando o "and" tudo é uma sigla?
Tudo na vida é um número ou uma sigla?
Não me parece.
Detalhes sem fim para rebentar o balão no momento certo. Que esfrega monumental, ainda por cima quando se está a pensar numa sardinhada.
Entre siglas vejo "further discussion to be taken" e salto logo para o meu mundo.
Se mais tarde discutimos, tudo bem.
Posso agora pensar no bitoque.
É incrivel a falta que faz um bitoque.
Para vocês será óleo e batata. Para mim é mais um estado de alma.
Gente a gritar nos cafés, taxistas a buzinar na rua, espanhóis à cotoveleda em Belém, o céu azul como só nós temos.
A confusão familiar.
A nossa confusão.
E a distância traz-me a saudade.
Quase sempre.
Sempre que esqueco a raiva que senti ao ver o verde da Luisa Todi destrúido por um novo parque de estacionamento. Saltam árvores e aparece mais betão, esse desígnio nacional.
Entristece só de pensar. Enraivece quando se percebe que estamos sós nesta destruicão de património.
Procuro o Tejo em Lisboa e não o vejo.
Qualquer cidade europeia que tenha a sorte de ter um rio por perto aproveita-o em beneficio dos seus habitantes e visitantes.
Aproveitar é um sinónimo de espacos verdes, esplanadas, ciclovias.
Deve ser dificil encontrar outra cidade europeia com 14 Km de costa onde pouco mais do que 3 podem ser usados por quem paga impostos.
Os 2Km da expo e mais umas migalhas em Belém. Tudo o resto são contentores, tapumes e atentados urbanísticos.
Pergunto-me como podemos ser tão estúpidos ao ponto de vermos passivamente a destruicão da beleza natural do nosso país.
Tudo é permitido, ninguém se queixa.
Os bons exemplos que a velha europa nos traz, no que a urbanismo diz respeito, são totalmente ignorados.
Agora como há 40 anos, orgulhosamente sós.
Enerva.
Bastante.
Principalmente quando se gosta.
Será possível ficar emocionado a olhar para uma fotografia de um bitoque?
É. Por incrivel que pareca é.
Aquilo somos nós. Tudo ao monte, sem ordem, cheio de ingredientes indesejados, mas com um sabor dificil de igualar.
Sinto aquela comichão de quem olha pela janela e vê outra realidade.
Vejo a Mariana (bolas, que a miúda está gira!), vejo a minha família, vejo alguns amigos e quase consigo sentir o calor do churrasco na pele.
Ainda por cima hoje faz anos um daqueles que faz falta.
Como o bitoque, mas sem óleo (parabéns Rui!).
Agosto está já aí.
Sim, no vosso calendário não, mas no meu é um pequeno salto.





































3 comentários:

Sandrinha disse...

Que lindo bitoque!!!
Até salivei...

Anónimo disse...

Deve ser dificil estar longe.Os que mais amo estão todos por perto, não sei o que isso custa.
Mas sei, que é muito bom voltar para perto dos que mais gostamos, e daqui até Agosto é um instante.

Anónimo disse...

Ainda dizes tu que não queres voltar. Pois não...o texto é muito claro nesse sentido.Sim, sim! ;-)