terça-feira, março 18, 2008

Baseado em factos verídicos e com Silva no meio para disfarcar


O jovem aí ao lado chama-se Eliot Spitzer e nos intervalos do golfe é governador do estado de Nova Iorque. Ao que parece é competente e não se encolhe muito perante lobbys.
Num destes dias, depois de uma derrota dos Knicks no imponente Madison Square Garden, dispensou o motorista e resolveu caminhar sozinho para casa, afogando as mágoas em pensamentos remotos.
Estava frio e sentia-se desolado. "Como é que perderam os ressaltos todos?" dizia olhando para uns sapatos italianos.
Alguns blocos à frente, já em Little Italy procurou um restaurante com bolonhesa e chianti para descontrair. Não se safou. Era tarde.
Pensou em deslizar até Chinatown, mas o óleo do Chop-Suey dava-lhe cabo do colestrol.
Aborrecido ligou para Silva, o seu motorista.
Silva lia a ABola e comentava com os seus botões: "Ó Vieira e se fosses mas era ...." quando atendeu o telefone da limousine num transmontano "Yéx"?
"Silva, take me to the airport..." ouviu.
Sem perder tempo o valoroso motorista cumpriu.
Lá chegado procurou o último low cost da noite. Washington estava em promocão. Ofereciam uma cola de litro a bordo.
Não resitiu e foi desanuviar para DC.
"Take care sir...", disse Silva com um ar paternalista.
Em Washington, Eliot não sabia o que fazer. Era a primeira vez que saía da "Grande Macã".
Sentia-se só.
Entrou no primeiro sítio que viu com luzes.
Perguntou: "Têm bolonhesa??"
"Ói??", foi a resposta.
"Chama a qui fála ingléis!!" disse Lucineide a Marinela.
Eis quando chega uma jovem universitária que juntava algum para as propinas.
Eliot esqueceu por uns momentos os Knicks, trocou a bolonhesa por um repasto de malte on the rocks e filosofou sobre o mundo.
De manhã, acordou numa penthouse e percebeu que scotch em jejum é uma chatice.
Ao regressar a Nova Iorque, o chefe chamou-o para lhe dizer que iria ser despedido.
"Despedido? Mas se fui eleito pelo povo? Como? Como? "
Questionava um surpreso Eliot.
"A sociedade perfeita e de elevado padrão moral em que vivemos não permite que um funcionário público coma bolonhesa fora de casa"... alertava o chefe de Eliot.
"Mas o que importa aos demais o que faco com a minha vida privada? Como é que isso interfere nas responsabilidades para as quais fui eleito?" continuava um insatisfeito Eliot.
"Conta Eliot, conta. Pouco importa se és competente e sério na tua profissão. Se comes bolonhesa, estás acabado. A bolonhesa é que molda a opinião pública..."
"Mas chefe, e aquele gajo que já matou 4500 americanos em apenas duas decisões erradas?"
"Ah...esse foi reeleito. Mas repara Eliot...não comeu bolonhesa."

1 comentário:

Inês disse...

Tiago... Contigo aquela coisa do "Post Catita", que eu decidi eleger todos os dias no meu blog, fica com estatuto de concorrência desleal :P
Excelente post ;)