Fico sempre pensativo quando se aproxima o 25 de Abril.
Não que o tenha vivido, o que tenho pena, mas o significado da data sempre exerceu em mim um certo fascínio.
Fascínio pelo desconhecido. Por esse mundo que me relatam onde tudo parece retirado de um conto de histórias sórdidas e sombrias.
Eu não sei o que significa estar na rua a escolher as palavras. Não faco ideia o que é estar numa frente de batalha a defender uma causa inexistente. A maior tortura que já apanhei foi a segunda circular com 35 graus e sem ar condicionado no carro. Parecendo que não ainda está um pouco longe do "forno" no Tarrafal.
Como toda a geracão dos filhos de Abril sou um previligiado. E por isso penso.
Qual terá sido a sensacão depois daquele cerco ao quartel do Carmo? Que terão pensado no momento em que perceberam que a Ditadura ia finalmente cair? Como terá sido o sorriso daqueles que em África descobriram que tinham ganho um passaporte para a vida?
Tenho sempre a sensacão que a geracão que viveu Abril compreende e valoriza melhor o mundo em que vivemos. Há um claro termo de comparacão que a minha geracão desconhece. Há um conjunto de valores que nos passam ao lado. Há uma solidariedade que não nos diz nada. Parecemos desconhecer a sorte que o ano de nascimento nos trouxe.
Há algo de especial na nossa revolucão. Sem tiros. Sem sangue. A revolucão dos cravos.
À ditadura do "Botas" e do Marcelo, seguiu-se um período de novos exageros (PREC) e de êxtase colectivo, onde as energias nem sempre foram bem canalizadas. As 3 décadas de Democracia não nos deram o que queríamos e sobretudo deveríamos ter atingido enquanto país, mas trouxe-nos a liberdade.
É apenas disso que me lembro nesta altura. Não das asneiras cometidas em Democracia (isso ocupa-me o resto do ano) ou do saudosimo Salazarista dos últimos tempos. Penso apenas nas dificuldades que outros passaram para que eu pudesse falar livremente. Penso em tantos nomes sem rosto que pagaram com a vida o previlégio que hoje nos assiste de ver, ouvir e falar.
Já alguém dizia (acho que era aquele rapaz de cartola e charuto): "A Democracia não é perfeita, mas é a melhor que temos."
terça-feira, abril 24, 2007
A dúvida
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2 comentários:
Eu também sou das que não fica indiferente ao 25 de Abril apesar de nem estar nos planos dos meus pais quando aconteceu a revolução. Mas ouço as histórias dos meus pais e dos meus avós. E a minha casa enche-se de cravos vermelhos todos os anos sem perder a euforia. A liberdade é o maior valor de uma sociedade por isso apesar de nem sempre sabermos usar a democracia é bom saber que ela existe. (isto é comentário à Luís Delgado. Não acrescenta nada mas tinha de concordar com o teu texto :P)
Inês, os teus comentários trazem sempre conteúdo :)
Obrigado.
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