segunda-feira, setembro 15, 2014

Um casaco feito de rochas




Há momentos na vida em que gostava de ter o poder de parar o tempo.
Levantar um escudo, uma bolha protectora e não contar dias, horas, minutos. Ser imune ao ruído, ao barulho, aos ataques. Não pensar na próxima vez, não pensar se existirá próxima vez.
Tudo, mas tudo, a bater na bolha que nos envolve. Tudo a passar ao lado. E nós, ali, indiferentes ao movimento...seguindo com a bola, com o lego, com o filme, com a história. Com as nossoas histórias. Aquelas que comecam no primeiro porquê e acabam onde ninguém sabe. A curiosidade é grande. E a imaginacão senhores...a imaginacão! Ouco argumentos repetidos com versões originais feitas há 30 anos. Pela conversa vamos lá. 
Limitar-me a gozar aquele instante. Solto, tranquilo, em paz. Sem angústia.
E poder responder a tudo o que me pergunta. Ter certezas. Poder confiar. Saber o que é o futuro. Saber que ninguém nos quer separar. 
Mas depois chega a vida real. O escudo desce, o céu não é assim tão azul e cá fora tudo parece mais feio, mais esquisito, mais complicado.
Quando o relógio volta a correr sou esmagado pelo tempo. Raras vezes aguento o embate e fico no chão. Não há vergonha nisso. 
Quem ama um filho sabe que não pode viver sem ele. É uma lei da vida. Aplica-se apenas aos Humanos. E não, nem todos pertencemos a essa espécie animal.
A noite é terrível. A angústia vence. Repito para mim mesmo vezes sem conta: "porquê?". Adormeco sem saber como ou quando.
No dia seguinte tudo é diferente. Acordo, mexo os pés e conclúo, como diria o poeta, que afinal estou vivo. Estou pronto para novo embate.
Estou certo que o Buda tem uma frase toda porreira, sobre as pedras onde tropecamos que um dia chegarão para um castelo. Eu, que continuo com pouca fé na Humanidade, limito-me às saudades do Sebastião, um dos mais bondosos Humanos que já conheci. 
Mas é um facto que, como se ouve por aí,  o que não nos mata torna-nos mais fortes, tolerantes e até compreensivos.
Terei sempre pena de quem vive uma vida de frustracão e se entrega ao ódio pelo próximo. Terei sempre pena de quem não encaixa em modelo social algum. Sempre vi no diálogo a ponte entre os Homens.
Mas terei também, em cada manhã, a alegria de viver que partilho com aquele miudo ali em cima e a certeza que somos uma alma só. Nada, mas absolutamente nada, conseguirá mudar isso.
Nós voamos, imaginamos, improvisamos e inventamos. Em cada dia, de cada vez. E o melhor de tudo...sai naturalmente. Sem organizacão ou agendamento. Está no sangue. Percebem? No sangue.
Resolvemos fazer uma casa, um esconderijo secreto. Ele é um espião, eu sou o bad boy da história. O Jaws ou o Goldfinger. Ele pergunta qual o material mais duro do mundo. Eu digo diamante.
Nada disso. Ele está convicto que é a rocha. Pois bem...que seja.
Fazemos as paredes com almofadas. Ele faz a magia com as mãos e agora estão revestidas com rochas.
O escudo está levantado. Nada nos atinge de novo.

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