quinta-feira, setembro 11, 2014

87 anos que passaram a correr...


11 de Setembro.
Estamos lá de novo.
Obama pergunta ao rapaz do pentágono se aqueles aviões roubados em Tripoli, pelos rebeldes no mês passado, já estão no ar, quicá em direcão aos EUA? O rapaz do pentágono pergunta onde fica Tripoli. Obama diz que é um sítio com petróleo. O outro pergunta como é que alguém consegue roubar 11 aviões e desaparecer? Não é bem como ir ao Carrefour e sacar uma palete de leite. Obama pisca o olho e diz: "se eu te disser prometes não contar?"
Ao mesmo tempo a esquerda europeia ignora os 3000 que morreram nesse dia em Manhattan e relembra os milhares abatidos por fogo americano, nas operacões da CIA nos governos fantoche da América Central, no Vietname, na Coreia, no Japão e por aí fora, numa lista que deixa de fora Serpa, Borba e pouco mais. Falam do 11 de setembro do Chile, o de 73, o dia em que Salvador Allende morreu, pela própria mão, quando sabia que os seus executantes, com o apoio dos EUA, estavam a caminho.
Visto por mim, que duvido um pouco da justica divina nestas coisas, diria apenas que morrer é uma chatice. Imagino pelo menos. 
Concordo que a política externa americana fabrica e precisa de guerras (fica para outro dia os porquês que hoje não me apetece), concordo que serão provavelmente o país com mais sangue nas mãos, mas bolas, que culpa tinham aqueles desgracados que estavam a trabalhar ou a visitar as torres naquele dia?
Desde esse dia tudo mudou. Os aeroportos passaram a ser uma dor de cabeca, viajar ao lado de um árabe, por muito bom rapaz que seja, é sempre motivo de alerta. Há mais restricões para passar fronteiras e, se as contas não me falham, mais 10 guerras surgiram.
Não ficou o mundo melhor, disso tenho a certeza. Nem quando o primeiro avião bateu na torre, nem quando o atrasado mental do Bush resolveu bombardear o Afeganistão como resposta.
Sempre que me perguntam onde estava nesse dia, a resposta é fácil. Com a minha avó. Como sempre nesse dia, nesse 11 de setembro que já era nosso antes de ser do mundo.
Os 3000 km actuais de distância não colaboram muito para manter a tradicão mas, mesmo que ela não saiba, o pensamento está sempre lá.
Ela bem diz: "depois de velhos já ninguém quer saber!". É uma frase recorrente na terceira idade. Isso e o concurso de doencas que fazem na sala de espera do centro de saúde.
Mas não, não é assim. E nunca será enquanto eu me lembrar quem me criou, quem olhava pela janela até eu entrar na escola, ali mesmo ao lado da Academia Almadense, e quem lá estava, no mesmo sítio quando eu saía.
Não será assim enquanto eu me lembrar quem me trazia aqueles bonecos de futebol que serviam para decorar bolos e que sobravam no Sino Doce, o café onde ela trabalhava na Capitão Leitão.
Não será assim enquanto eu me lembrar de a ver correr Almada inteira porque eu, com 6 anos de idade, achei boa ideia ir sozinho a pé para a Cova da Piedade jogar à bola e, muito menos será, enquanto eu me lembrar da paciência, disponibilidade e persistência que teve para me aturar até aos 8 anos, idade em que parti para outras paragens.
Portanto Maria Francisca, claro que não quero saber dos velhos em geral, agora de ti, sim, quero e muito.
Aqui entre nós, até podes fazer 87 anos hoje, mas eu não te dava mais do que 73. E foi porque arranjaste o cabelo ontem.
Parabéns.

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