terça-feira, agosto 19, 2014

O dia em que deixei de roer laranjas na falésia...


Carlos Tê passou por lá e escreveu a letra. Rui Veloso cantou-a e atingiu o sucesso antes de conhecer a calma e pitoresca vila de Porto Côvo.
Eu, por um acaso do destino, fui lá passar férias quando tinha 14 anos. Gostei e repeti a dose. Até aos 26.
Para além de boas memórias e excelentes praias, a vila representava para mim o equilíbrio entre o Alentejo à beira-mar, onde qualquer coisa acontece mas a origem prevalece. Uma espécie de outro lado da medalha de Vila Nova de Mil Fontes, de longe a mais horrorosa vila do litoral alentejano.
A principal diferenca entre a costa alentejana e a algarvia, é necessariamente a quantidade de cimento.
A paisagem protegida mantém, na maior parte dos sítios, a cara original e a beleza selvagem. O alojamento é mais dificil e caro, mas as falésias não apresentam aquele selo dos patos-bravos que nos anos 80 destruiram o Algarve.
Porto Côvo era para mim uma espécie de ex-libris disto. A Zambujeira do Mar também. Vila Nova era desde há muito o exemplo do crescimento não sustentado. 
Ao fim de alguns anos voltei a Porto Côvo. Vi caras conhecidas, voltei aos tascos de sempre. E em 20 minutos todo o mito de mais de uma década desapareceu.
Porto Côvo é hoje uma vila insuportável no mês de Agosto, tal a quantidade de gente, e simplesmente feia no resto do ano, gracas ao amontoado de cimento que cresceu em volta das 3 ruas que lá existiam.
Eu compreendo que todos queiram uma fatia do paraíso mas, crescimento não é construir mais 20 bairros e manter as infraestruturas de apoio que existiam no tempo das 3 ruas.
O resultado é um amontoado de gente, filas intermináveis e acessos insuportáveis.
É ver um mini-algarve onde antes se abracava o mar nas baías que iam da Vila até à Samoqueira.
Ao fim de uma hora segui o meu caminho. Já não tinha uma sensacão destas desde Sófia, o Prior Velho dos Balcãs.
As praias continuam lindas, a água cristalina e fresca. Tudo o resto deixou de fazer sentido.
Salvou-se a praia do Malhão, que gracas ao dificil acesso continua selvagem e magnífica.
Quanto ao resto, foi como aqueles namoros de adolescência: foi bom enquanto durou. 





1 comentário:

Anónimo disse...

Nice reading.

/Somali