quarta-feira, setembro 21, 2011

Comi, assobiei e nao me babei

“Você nao pode comer e assobiar ao mesmo tempo” disse ele.
Ele é o professor mais inutil e menos merecedor desse título que alguma vez conheci. 
Conduzia esta manha para o trabalho entre pingos de chuva e, em vez de pensar nas Maldivas como seria lógico, dei por mim a "rever"  o debate quinzenal e a crítica que Seguro fez a Passos a propósito das Novas Oportunidades (subimos no ranking da OCDE), quando, vá-se lá perceber o cérebro humano, me lembrei deste animal.
O único professor, entre centenas, cujo gabinete se resumia a um espaco de 2 m2, onde, 5 minutos antes de cada aula lia o jornal e bebia café. Não tinha computador ou qualquer material de apoio. Também não era necessário já que tempo para os alunos era algo que desconhecia.
Dava a mesma disciplina há 30 anos. Os acetatos tinham sido feitos em 75 e ainda por lá andavam para as curvas. Se bem me lembro nunca o vi escrever uma única palavra no quadro.
Já a terceira geracão móvel despontava e ele ainda falava de tecnologias que ninguém usava há 10 anos. É o típico caso do tachista a quem as universidades arranjam uma cadeira para falar de qualquer coisa que ele saiba, tenha ou nao interesse curricular. Não deve ser caso virgem, imagino eu. No fim, toma lá 12h e passa para cá mais 2000 dele.
Vinha para as aulas fazer gala do sucesso da sua empresa enquanto virava o acetato e, sempre que possível, entalava mais 2 ou 3 alunos.
Numa discussão que tivémos, onde invoquei uma lei (o simples estatuto de trabalhador-estudante que ele se recusava a cumprir), disse-me aos gritos “aqui a lei sou eu”.
Escusado será dizer que fui um dos entalados e ponderei, entre outras coisas, desistir do curso ou pedir transferência para outra instituicão.
Nessa altura trabalhava durante o dia e estudava à noite. A frase com que iniciei o texto foi a crítica deste esterco à minha opcão de vida. Facilidades? Foi a queimar até ao ultimo dia e nao chegámos ao nível seguinte por mero acaso…
Lembrei-me disto, julgo eu, por causa das Novas Oportunidades. Pela primeira vez vejo-me obrigado a concordar com Passos Coelho, o que me dá logo cabo do dia.
Entenda-se, eu acho que as Novas Oportunidades foram uma boa ideia mas convém não confundir estatísticas com conhecimento.
Não defendo dificuldades só porque sim. Como as primeiras linhas indicam, não é salutar ficar com professores entalados para o resto da vida…agora, há que perceber porque razão as Novas Oportunidades foram criadas. O objectivo era aumentar o nível de escolaridade da populacão. Estatisticamente isso foi cumprido.
Outra coisa bem diferente, e acho que foi isso que o ministro Nuno Crato referiu quando saiu o relatório da OCDE, é pensar que o nível de conhecimento da populacao aumentou.
Eu nao conheco todos os programas das NO mas conheco alguns. Honestamente, sem querer desprezar o esforco alheio, nos casos que conheco (aceito que seja uma amostra pequena) há apenas uma tentativa de arranjar um esquema legal para atribuir um certificado do 12 ano. Não há qualquer hipótese de usar o “conhecimento adquirido ao longo da vida” como uma espécie de equivalência. Há apenas um facilitismo gritante para, estatisticamente, aumentar o número de Portugueses com o 12 ano. Existirão certamente casos onde o que escrevo nao se aplica. Acredito que sim. Como disse no inicio, acho as NO uma ideia de base boa, embora a sua aplicacão deixe muitas reticências.
O que Passos e Crato disseram quando saiu o relatório da OCDE foi o óbvio: “Não nos iludimos”. António José Seguro atacou Passos no debate quinzenal e tentou defender o programa. Compreendo mas foi pobre. É a queda para o facilitismo e para a falta de exigência que nos tornam naquilo que somos.
Querem melhorar as estatísticas e o nível de conhecimento? Concentrem o ensino complementar num ano. Os tópicos mais importantes ou uma versão reduzida dos programas. Permitam legalmente o acesso a esse ensino (em regime diurno ou noturno) a qualquer Português e no fim, facam uma simples avaliacão. Quem tiver interesse passará e terá adquirido algum do conhecimento que se espera de uma pessoa com o 12 ano.
Agora…”faz aí um portfolio da tua vida e toma lá mais 3 anos de escolaridade”, epá, estamos a enganar quem?

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