sexta-feira, setembro 10, 2010

O 11 de Setembro da Bia

Alguém me disse em tempos que "quanto mais conheço o Homem, mais gosto dos animais".
O passado recente obriga-me a acreditar na máxima. Lembro-me de repente do Sebastião. Nunca me desiludiu. Do primeiro ao último dia foi sempre o mesmo. Carinhoso, fiel e presente.
Já do Homem não posso dizer o mesmo. Quem nunca teve uma desilusão com outro bípede que levante a mão. E não, não me refiro aos cangurus...
É em tempos destes que reconheço a importância de alguém como a senhora que está ali em cima na fotografia. É a minha avó.
Pertenço a uma geração criada pelos avós. Os tempos eram outros e as licenças de maternidade/paternidade eram ainda mais miseráveis do que são hoje em dia. Aliás...tenho impressão que nem havia licença de paternidade.
A opção era sempre deixar uma criança com meses no meio de estranhos ou com um dos pais dos progenitores. Os meus pais optaram pela segunda hipótese e ainda bem que o fizeram.
Até fazer 8 anos, altura em que fui viver para os Açores, passei maior parte do meu tempo com a minha avó.
Com fraldas, no regresso da creche ou a caminho da escola primária. Parece que para comer era um castigo mas o resto lá andava.
Tenho, como é natural, maior parte das memórias dos meus primeiros anos de vida, associadas a ela. Acho que este é um percurso mais ou menos comum na minha geração. As avós desempenhavam um papel importante.
Durante muitos anos admirei a pessoa pelo que era. O percurso de vida. Sair de uma pequena aldeia no Alentejo, com dois filhos, a caminho de Lisboa, a "cidade grande". Os sacrifícios feitos, o trabalho árduo, as voltas que deu para criar uma família. De certa forma a história de muitas das famílias que na década de 50 abandonaram o interior alentejano em busca de uma vida melhor.
A minha ligação ao Alentejo começou por estas raízes e por esta forma de estar na vida. "Para a frente é que é caminho" ouve-se por ali.
Mas, hoje, já com mais de 3 décadas de encontros, não é só o percurso de vida que merece a minha admiração. É a presença. O saber que, seja qual for o vento ou a maré, ela estará lá. Não vai virar costas, não vai deixar de acreditar, não vai desaparecer no silêncio. Ela estará lá, sempre. Como está desde o primeiro dia. E isso, nos dias que correm, não só é de assinalar mas também de agradecer.
Acho-lhe uma certa piada quando me conta as histórias daquela "velhota" ou do outro "velho". A minha avó nunca passou dos 30 anos. O resto do mundo é que envelheceu. E fá-lo com o sotaque alentejano que nunca perdeu.
É curioso reparar como algumas das suas características vão passando de geração em geração.
Toques muitos específicos de personalidade que levam a determinados gestos. Durante anos vi o meu pai com semelhantes gestos e atitudes, noto agora que também eu vou seguindo o mesmo caminho. Deve ser qualquer coisa nas migas.
O bilhete de identidade da minha avó diz que ela nasceu a 11 de Setembro de 1927.
Estás fresca Bia!
Parabéns.

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