Desde o fim de maio que não trabalhava. Com adultos entenda-se.
A licença de paternidade e uns dias em Portugal limparam da minha memória o rengo-rengo da labuta diária. Se voltar ao trabalho depois de uma paragem longa é sempre uma esfrega daquelas, deixar que isso coincida com o início de um novo projecto, é um "Deus nos acuda".
Aí está...a minha vertente religiosa escondida durante décadas a vir ao de cima.
Regressei esta semana e à minha espera estava um projecto com 7 anos de desenvolvimento que me vão tentar ensaboar em 2 semanas. Pelo que percebi mete bluetooth, telemóveis e carros. Os do costume e aquela marca que faz as carripanas do Bond.
Sim, já deito carros pelos olhos. E depois do Alentejo?? Quem é que quer saber de carros ou bluetooth??
O meu esforçado colega, que bem me tenta passar 3 toneladas de informação por hora, esbarra na parede da minha mente, dona de uma capacidade de concentração digna de uma formiga. Vagueio.
De 5 em 5 minutos lembro-me das palavras de um camarada que conheci ali para os lados da Zona J: "Mas porque é que não recuperamos um monte alentejano para turismo rural???"
Era isso.
Já me estou a ver na cozinha, com o belo do avental, uma bossa nova a embelezar o espaço enquanto saltavam as migas e a vinagrada.
É no exacto momento em que o meu colega deambula sobre a componente DOS que o Windows ainda apresenta, que me volto para mim mesmo com um "que faço eu aqui?".
Ele está no sítio certo. Diverte-se a contar os segundos de execução do linux ou a fazer legos. Não gosta de sol e não partilha as meias brancas turcas com ninguém. Aquela molhada de fios com 3 monitores são uma paixão.
Ele pertence aquele quadro. Eu não.
Pode ser uma fase ou uma necessidade, mas decididamente não ando com paciência para bytes e fios, algoritmos e erros.
Claro que, dado o actual quadro (que apesar de tudo já é bem melhor do que o de 2009), o mais importante é ter um emprego e estabilidade. Não quero ser mal-agradecido, e lembro-me regularmente de todos os meus colegas que foram postos a andar, mas também não consigo deixar de pensar na sorte de quem preenche as 8 horas do dia a fazer algo sem olhar para o relógio.
É só mais este. Depois mudo de vida.
Palavra de escuta.
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