terça-feira, junho 29, 2010

Fish & Chips


Esta história é deliciosa.
E não estou a ser irónico. É mesmo.
Não há qualquer ilegalidade ou incompatibilidade. Há aquele incómodo da moral, mas a moral não paga a renda. E o engraçado de tudo isto é que, sendo um roubo a céu aberto, é protegido por lei e nós, sociedade civil, pouco mais do que um "são todos iguais" mandaremos para o ar.
Em Portugal este caso é apenas mais um, num pais civilizado daria prisão.
E sim, Portugal não é um país civilizado. É um país de terceiro mundo.
Poupo-vos a leitura e deixo a parte sumarenta:

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O único administrador executivo nomeado em outubro de 2009 para a sociedade pública lançada pelo Governo para autorizar, gerir e fiscalizar todo o sistema de chips de matrículas e de portagens exclusivamente eletrónicas nas SCUT tornou-se, em março deste ano, responsável máximo em Portugal da Q-Free ASA, o fabricante norueguês que forneceu os equipamentos aprovados e instalados nos pórticos das três concessões de autoestrada em causa e que vai fornecer também os aparelhos identificadores (ou chips de matrículas) que os automobilistas terão obrigatoriamente de usar para poder circular naquelas vias.
Pedro Bento, de 34 anos, foi assessor do secretário de Estado adjunto, das Obras Públicas e das Comunicações, Paulo Campos, entre 2008 e 2009, antes ser nomeado em outubro do ano passado administrador executivo da então recém-criada SIEV - Sistema de Identificação Electrónica de Veículos S.A., num conselho de administração para onde foram nomeados mais dois administradores, mas ambos sem funções executivas (Alberto Moreno, presidente do Instituto das Infra-Estruturas Rodoviárias, e Jorge Silva, vogal da administração do IMTT.
Licenciado em gestão pela Academia da Força Aérea e com um MBA feito no ISEG, segundo o que o próprio escreveu no seu perfil público da
rede profissional LinkedIn , Pedro Bento manteve-se até 2006 nas Forças Armadas, onde foi capitão. Depois foi senior associate da consultora internacional PricewaterhouseCoopers, antes de ir para o gabinete do secretário de Estado, em 2008, até ser nomeado administrador executivo da SIEV.

Em janeiro, apenas quatro meses depois, abandonou o cargo para uma "licença sabática" de três meses (ainda segundo o perfil público), e em março entrou em funções na Q-Free como
country manager para Portugal. Na SIEV, onde tinha um salário bruto de 6.256 euros, não foi substituído.
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Como português não invejoso que sou, fico feliz por ver um patrício safar-se nestes tempos difíceis. A notícia é tão escandalosa que o salário que o menino recebia enquanto gestor público de uma sociedade que ninguém conhecia, quase passa despercebido.
Não há aqui nada de novo. Quantas histórias destas já conhecemos? Políticos que servem a "causa pública" distribuindo contratos milionários por empresas privadas que mais tarde tratarão de gerir, já sem a fatiota de governante vestida.
O caso dos chips então acho que não apanha ninguém de surpresa. Foi tão martelado, mas tão martelado, que só podia ter caldo.
Noto contudo que já nem se tenta disfarçar...o camarada esperou meses para saltar. É que nem seguiu o roteiro clássico de ir para uma universidade privada mostrar power points durante uns tempos. Quatro meses em funções, três meses a "meditar" e já está. Country manager a gerir contratos por ele assinados uns meses antes. Ah, valente!
Isto é o mesmo que jogar na roleta sabendo que número vai sair.
Então e nós? Tudo beeeeeeem.
Aumentem esses impostos que é necessário pagar 1200 contos por mês a gestores que trabalham o tempo suficiente para trocarem um contrato por um lugar de CEO. É a chamada lei da oferta e da procura.
Malas com dinheiro, robalos, contratos...vale tudo! Força nisso rapaziada! Orientem-se!

3 comentários:

Motonauta disse...

Tu andas atento! É que eu nem desconfiava de nada... (ironia).
Mas é muito agradável ler como tu descreves a situação! É que o teu estilo descontraído de escrita até ajuda a "digerir" a azia que sentimos (pelo menos eu sinto) quando sabemos que "um colega portuga anda a safar-se bem à crise". :)
Boas escritas!

Tiago Franco disse...

Tiago,
é a minha terapia :)
Escrevo para não ficar com isto cá dentro a moer. De cada vez que vejo este tipo de notícias só me apetece partir qualquer coisa...

Helena Barreta disse...

Ainda bem que lhe dá para escrever estas coisas e partilhá-las.

Era com isto e outras coisas mais que nos devíamos indignar.