Sempre que comeco um novo projecto, descubro um novo ambiente, novas instalacões, novos colegas e novas tarefas. A única coisa que se repete é a pergunta inicial: "Porquê a Suécia?"
Acabo sempre a explicar a teoria do compasso.
Estava sentado num sítio carinhosamente apelidado por um amigo meu como "Angel Farm", ali para os lados de Palmela. Fiz um circulo no mapa que apanhava Lisboa e Setúbal e enviei CVs para tudo o que mexia. Nesse período tive algumas das entrevistas mais engracadas desde que comecei a trabalhar. Uns diziam que por vezes era necessário estar acordado 3 noites para acabar um projecto, outros diziam que tinha que baixar o salário para o nível de entrada pois estava a mudar de área (porque os 1000 eur que ganhava já eram um fartote!), outros diziam que faziam contratos de 6 meses e havia também quem achasse que 700 eur em Lisboa era um bom salário porque "sempre poupava as deslocacões para Palmela". Esta última especialmente interessante porque aconteceu numa entrevista na Siemens, em Alfragide. Quando uma empresa como a Siemens (há 100 anos em Portugal e com mais de 500 000 colaboradores em todo o mundo...) ainda está em modo "toca a sugar", ficamos com uma pequena nocão do mercado de trabalho. E claro...na maior parte dos casos a história terminava com um "depois ligamos" que normalmente não acontecia.
Desenhei então novo círculo que ia de Faro ao Porto. Bom...se em Lisboa a coisa estava preta, no Porto então...
Enervava-me durante esse período a ausência de resposta. Nem se dignavam a enviar aquele e-mail automático com o "infelizmente blá blá e por isso adeus e um queijo da serra". Ou então ligavam 12 meses depois com um "então não se lembra que enviou um CV para aqui?". Epá...não, não me lembro. Um destes casos aconteceu com a Vulcano, em Aveiro. Ligaram-me mais de um ano depois para ir a uma entrevista...estava na Suécia há uma semana.
Foi assim que decidi aumentar o raio do círculo. Do cabo da roca até Moscovo.
Mais uma série de entrevistas e não sei quantas tentativas de enrolar. Um camarada ao telefone dizia "1200 eur em Praga é um grande salário...o custo de vista é baixíssimo!" Claro...
Bom, rendi-me aos factos e fiz um círculo que apanhava Wellington e o Alasca. Tirando o Iraque e o Afeganistão, entrei no vale-tudo-menos-arrancar-olhos. Nessa altura coloquei os meus dados em tudo o que era site de emprego. Kuwait, Caraíbas, Mocambique, UK, US, Austrália, Canadá, Dubai, Holanda, Brasil, Japão, China...eu sei lá.
Recebi mails e cartas de todo o mundo a dizer que eu era uma jóia mais que devia dedicar-me à apanha da azeitona. A mais simpática foi de uma empresa em St. Kitts nas Caraíbas que se deu ao trabalho de responder com uma carta manuscrita. Imaginei o camarada debaixo de um coqueiro, pé descalco e pina colada ao lado, ouvindo o bater do mar enquanto escrevia com o seu punho "dear tiago..."
E pronto...ao fim de 2 ou 3 anos nisto recebi uma chamada da Suécia e o resto é salmão.
Desde 2004 que recebo diariamente mails com vagas de emprego, fruto dos 12374898509404 registos que fiz um pouco por toda a parte. Até gostava de apagar os meus dados mas tirando o Monster não faco a menor ideia por onde ando...
Os mais insistentes são os brasileiros e reparo agora que o tipo de emprego vai mudando com os anos. No início recebia vagas para chapar massa e coisas do género, agora, deduzem os camaradas do outro lado do Atlântico, já estou pronto para ser presidente de qualquer coisa.
Por mim tudo bem...mas tenho que explicar a esta malta que ainda não pago quotas no PS/PSD.
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