terça-feira, abril 06, 2010

Já te calavas...

Um camarada sueco, entretido com aquele desporto de quem se aproxima dos 30 chamado ”casar”, resolveu fazer de mim uma espécie de padrinho ou qualquer coisa desse género.
A razão é simples. Pelo menos para ele. A respectiva cara-metade (nunca percebi esta expressão...terá alguém só uma bochecha antes de se casar? A nossa língua é de facto (ou será fato??) complicada) vem da ilha do Fidel e para ele, tudo o que não é louro, fala a mesma lingua. Ou seja…sendo eu português, certamente que percebo a maneira de pensar de cubanos, equatorianos, venezuelanos, peruanos e toda essa malta que toca flauta com tapetes de Arraiolos nas costas.
Expliquei-lhe que não era bem assim mas de pouco serviu. Ela não fala qualquer outra lingua que não seja castelhano, ele fala várias mas nenhuma delas vem de Espanha. Tocou-me a parte da traducão mais interpretacão da mente latina. Fiquei com aquela sensacão do entalado que não sabe dizer “não”.
No meio de toda aquela descoberta o rapaz comecou a ficar fascinado com o continente Americano, a sul do Rio Grande, entenda-se.
Certo dia, bastante entusiasmado diz-me: “Sabias que no Brasil não falham espanhol??”
Ele estava tão contente com a recente descoberta que achei de mau tom despejar a lista de impropérios que acumulei naqueles segundos. “Ai sim?? Já tinha ouvido dizer que sim…num documentário acho eu.” E pronto. Todos felizes.
Passado algum tempo a coisa deu para o torto. Alívio. Já deitava espanholada pelos olhos e não me parece que tenha nascido para estas tarefas.
Algum tempo depois, de volta à estrada, novas telefonadelas para aconselhamento matrimonial. Dei-lhe a morada do Pinto da Costa, que ao que parece é muito bom nisso, mas não pegou.
Os suecos são relativamente simples nestas coisas do casamento. Se encontram uma escandinava, a coisa dá-se, se não encontram e o BI já comeca a indicar mais do que 3 décadas de lavoura, recorrem ao plano B. Compram um bilhete de avião para a Tailândia e dois de regresso para a Suécia. Raras são as vezes em que, por acaso claro está, não encontram por aquelas paragens o amor da vida, sendo que, também por acaso, essa pessoa está sempre pronta para imigrar para a Suécia. O amor tem coincidências fantásticas.
Em todo o caso, esta solucão não é a mais bem vista, convenhamos. É mesmo só para a fase do vale-tudo-porque-estou-desesperado.
Sabendo isso disse: “Porque é que não vais para um curso de qualquer coisa? Podias conhecer gente nova e….”
“Mas cursos de quê pá?? Não sei fazer nada!!”
“Mas os cursos comecam pelo início, não pelo fim. Não precisas de saber…eles ensinam. Por isso é que é um curso!”
”E de quê? De quê? Só gosto de carros!!”
”Epá...eu evitava cursos de mecânica automóvel, carpintaria e coisas do género. A não ser que não sejas muito esquisito…”
“Então de quê? De quê?”
”Sei lá....de cozinha, dancas, pintura”.
“Ahhh…só sei fazer almôndegas no micro-ondas, pintar esquece e dancar, é como se vestisse um escafandro.”
Comecei a perceber que tão cedo o camarada não desamparava a loja.
Insisti….”Vai tirar um curso de dancas latinas. Os exercícios são sempre feitos com uma mulher, bem perto por sinal, quem sabe não conheces alguém??”
E assim foi. A paz voltou ao reino.
Passado umas semanas liga eufórico: “Uma miúda convidou-me para ir dancar, até me deu o telefone!!”
“Fico muito contente por ti. Diverte-te e manda-me depois um postal da lua-de-mel em Santorini. Então adeus que vou mudar ali uma fralda”
”Espera, espera, espera...agora preciso da tua ajuda!!”
”Então...queres que segure nas vossas mãos enquanto dancam?”
“Não, não…preciso que me expliques como é que “entro” na música??”
“Ahhn??”
“Sim…de cada vez que troco os pés já não consigo entrar! Fico ali parado e perdido!”
“Conta 1,2,3,4 e atira-te!”
“Já tentei!! Não consigo!!”
“Alinha-te com a bateria…normalmente eles dão umas valentes castanhadas naquilo antes de iniciar ou mudar o ritmo”.
“Não consigoooooo….não consigo sentir a musicaaaaaaa!!”
“Mas o que é que queres que eu faca??”
“Que me expliques como é que se pode sentir a músicaaaa!!”
“Mas isso é o mesmo que explicar como é que se sente frio, fome, alegria ou prisão intestinal. Não faco mesmo ideia de como te ajudar...mas olha, lembrei-me agora, ouvi dizer que na Tailândia há muito amor.”

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