Faltavam pouco mais do que 15 minutos para entrar em licenca de paternidade quando me foi atribuída uma nova tarefa. O meu novo chefe perguntou-me "podes dar uma ajuda?".
Comeca sempre tudo com esta da ajuda...
Mas enfim. 'Não' continua a não ser parte das opcões por estes lados.
O rapaz comecou a desfiar o novelo e lá me explicou que estamos a concorrer a um novo projecto dentro da minha área de conhecimento e que por isso, dava jeito uma mãozinha.
Uma mãozinha aqui significa ler centenas de folhas com especificacões técnicas, imaginar como transformar todas essas especificacões em software, calcular o tempo de implementacão para cada uma dessas especificacão, o tempo necessário para validar o SW, o equipamento necessário, o número de pessoas e os conhecimentos que devem ter, enfim, o como e com quem necessários para a realizacão do projecto. No fundo, no fundo, um caderno de encargos.
Ele queria receber toda a informacão detalhada numa folha de cálculo (aka excel!!) para depois enviar o preco para o cliente.
A primeira pergunta que fiz foi "qual é a tua parte?" ao que ele respondeu "assim que tiver os teus dados, multiplico o tempo pelo custo por hora e calculo o custo total do projecto".
Ou seja, o gajo faz uma multiplicacão. É esta a parte dele. O resto é a "mãozinha".
Ainda se fizesse a conta de multiplicar à mão e com 5 casas decimais, mas nem isso.
Bom...explicada que estava a ajuda, restou-me fazer e não bufar.
Quem me conhece sabe que nasci para trabalhar com papel. É algo que me fascina. O tipo de folha, a forma como se cola às mãos, os relatórios, as tabelinhas com cores em excel, os power points...é todo um mundo de cor e alegria. E sempre muito organizado. Também aí sou um mimo. O power point como ferramenta de todos os sonhos daria uma tese de mestrado.
Há quem acredite que escrever uma série de generalidades num power point é um grande contributo para a sociedade. Normalmente, qualquer semelhanca entre o que se escreve no power point e a realidade, é apenas pura coincidência. Talvez por isso, ou também por isso, acabo sempre por cair no lado dos cépticos. Menos conversa e mais accão. A paciência já não abunda.
Mas...adiante.
Comecei a descascar a coisa e ao longo da semana tive sempre uma sensacão de familiaridade com tudo o que lia. Já mais para o fim, com quase todos os cálculos feitos e lembrando-me que a equipa onde trabalho tinha sido arrasada, resolvi perguntar: "olha lá, se conseguirmos ganhar este projecto, quem é que o vai fazer?"
O camarada olhou para mim e disse "pois, essa era outra coisa que eu queria falar contigo...".
Não há forma de uma frase destas ter um final feliz.
Simplesmente não há.
"Tínhamos pensado em ti, mas como estás em licenca tivémos que falar com outro colega menos experiente e assim sendo, dava jeito que trabalhasses pelo menos um dia por semana para dares algum apoio. É possivel?"
Ora...a minha intencão era desligar totalmente e esperar que com alguma sorte aquilo pegasse fogo.
O que disse eu?
"Claro, não há problema!"
Então e o preco para o cliente? Está despachado?
Estava, por acaso estava. Mas lembrei-me agora que me esqueci de uns zeros.
Pelo menos três.
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