domingo, janeiro 10, 2010

O fado do 31



Resumo do fim-de-semana: comboio entalado na neve + atraso de duas horas = perdi o barco e lá se foi Riga.


Chateado? Não.

Haja Cartuxa e qualquer tasco parece o chapitô.

Mas adiante, virando o flanco ao jogo para coisas realmente importantes.

Aquele Saviolaaaaaaaaaaaa....não, não, coisas que realmente contam.

No blog do caramarada Ribeiro reparei nesta chamada de atencão para um artigo do Público sobre a geracão que entra agora no mercado de trabalho.

Há por lá vários links sobre o tema (precariedade) e sinceramente vale a pena passar os olhos.

Mais não seja para pensar.

Isto se formos capazes de parar com a lenga-lenga de culpar o governo pelo desemprego e coisas que tal.

Reparo que maior parte das queixas desta geracão, mais coisa menos coisa, são iguais às que saltitavam de boca em boca há 10 anos atrás, quando a minha geracão resolveu pegar na enxada.

Há uma frase que de tão repetida me vai causando náuseas: "Para quê estudar se não há empregos para licenciados?"

Ora...isto é uma aberracão. Há empregos, claro que há. Mas quem dita as necessidades profissionais do país, ao contrário do que parecem julgar, não é o Zé, é a nossa economia.

Pergunta: um gajo que tire uma licenciatura ligada a recursos hídricos e que viva no Dubai, onde cada gota de água é importada, poderá queixar-se da falta de sorte na busca de um emprego?

Poderá dizer que andou a estudar e que agora o Xá lá do sítio não lhe arranja nada?

Pode. Pode muito bem queixar-se. Mas é de ser estúpido.

Em Portugal não é muito diferente. Desde os anos 80 que comecou uma certa corrida às universidades com o objectivo único de ser doutor. Adoro esta ideia de qualquer licenciado em dobradicas de 3 furos ir a correr espetar um Dr. nos cheques. Daqui a umas décadas alguém explicará que Doutor é um grau académico diferente de licenciado (ou mestre segundo bolonha). Vá lá, vá lá que estamos um passo à frente do Brasil onde todo o gajo que meta uma gravata passa a ser doutor.

Avancando.

Universidade nasceram como cogumelos, apresentando cursos que ninguém percebia para que serviam e passámos a ter licenciados em áreas sem qualquer aplicacão na realidade nacional.
Claro está que o facto de se ter um grau académico e garantia de emprego passaram a figurar no prontuário nacional.

Nada contra quem quer seguir uma vocacão ou um sonho, mas convém perceber se o mercado tem espaco ou não antes de seguir para a praxe. Se o sonho for "designer de interiores de Iglús" não se podem queixar que queimaram pestanas a estudar materiais que não resistem ao frio e que agora estão a distribuir douradinhos. Haja bom senso.

O nosso país é dos poucos na UE que anda para trás. É dos poucos onde as condicões de vida (salários, custo, qualidade, etc) não melhoram nem à lei da bala. A classe média vai desaparecendo. Alguns passam a ricos, muitos passam a pobres. No entanto, e mesmo com salários por vezes vergonhosos, há profissões que têm sempre saída. Sempre.

Eu sei que um país não é feito apenas com economistas e médicos, mas convenhamos, as regras são claras e só vai às escuras quem quer.

Não há desculpa para a falta de informacão. Menos facebook e mais jornais e está lá tudo.

As regras são simples...se tirarem medicina, economia, engenharia civil e coisas do género, não precisam de ser os melhores e mais brilhantes do curso. Há lugar para todos. Claro que os melhores terão sempre melhores cargos, melhores salários...é a seleccão natural (excepto para a Fenprof), mas todos têm um espaco. Agora, se quiserem ir para áreas com muito poucas vagas no mercado (acho que todos sabem quais são, não quero ferir susceptibilidades) então têm que ter consciência que só os 3 melhores é que se safam (se não houver cunhas claro...).

A decisão de entrar nesta ou naquela universidade tem que ser tomada em consciência.

Claro que todo este blá-blá não apaga as más decisões dos sucessivos governos, as apostas nas áreas erradas, a corrupcão que mina qualquer hipótese de desenvolvimento, a mentalidade dos empresários que continuam a procurar o lucro através do salário baixo, a falta de aposta em quadros técnicos intermédios, etc. É certo que o nosso crónico e ao que parece, irremediável atraso, não ajuda a que todas as profissões tenham uma oferta que satisfaca a procura.

Mas se já sabemos isso, porque é que nos pomos a jeito?

Se alguém só se consegue imaginar feliz a trabalhar como bailarina...então tem que estar naquela pequena elite que se safa em Portugal ou então fazer as malas e ir para mercados maiores.

Eu respeito toda e qualquer profissão e acho que devemos lutar pelos nossos sonhos. Com unhas e dentes.

O que não consigo perceber é porque é que culpamos os demais pelo nosso fracasso ou porque nos achamos no direito de ter um emprego só porque pagámos propinas ao ministério da educacão?


2 comentários:

João Franco disse...

Enquanto lia este artigo, lembrei-me de um certo dia, há anos atrás, quando no meio de uma negociação para revisão do Regulamento Autónomo dos TTA, com a Administração da ANA,EP, recebi uma chamada dum certo aluno do D.Pedro V, dizendo-me que precisava que eu fosse ter com ele à secretaria da Escola, pois queria anular a matrícula a Física e precisava duma assinatura do encarregado de educação. Fiquei em brasa, mas como não podia gritar no local onde estava, aleguei que por razões familiares tinha que sair, solicitando que se fizessde um intervalo no processo negocial. Assim aconteceu e lá fui ao D. Pedro V, onde um jovem cheio de certezas me esperava. Pretendia este jovem anular Física porque tinha decidido mudar o rumo dos seus estudos. Nada de engenharias, o grande futuro estava no jornalismo. É claro que preguei um grande sermão no sentido de que se no secundário a vida fosse difícil, no mercado de trabalho poderia ser mais fácil encontrar uma boa saída. Mas, se no secundário a vida fosse fácil, de certeza que as saídas profissionais seriam muito difíceis. Lembro-me ainda de enumerar as profissões com saída no mercado, que o Jornalismo era bonito e romântico, mas não ía contribuir para pagar as contas do mês, porque as saídas eram poucas. Não foi fácil chegar a um consenso, mas o poder paternal acabou por fazer valer a sua vontade, e no fim, não se anulou a matrícula a física, arranjou-se uma explicadora, e tudo correu sobre rodas. A grande lição a tirar é que não podemos escolher o caminho mais fácil só porque nos aparece um obstáculo qualquer, ou porque não queremos trabalhar. Estudar é investir na vida, portanto, há que investir bem.
Gostei deste teu artigo, e há já alguns anos que acho que davas um bom jornalista. Agora podes investir nesta área porque já ganhas para pagar as contas.

Anónimo disse...

Por acaso, quando penso nas encruzilhadas da vida (o clássico "se"), imagino sempre como seria o meu quotidiano se há 10 anos atrás, numa entrevista de emprego no "Independente" não tivesse respondido "CDU" qdo me perguntaram "Em quem vai votar para a C.M.L.?
Melhor do que isso só se dissesse "CDS" e a entrevista fosse no "Avante"...
Também me lembro que durante essa entrevista discutímos sobre um artigo referente à antiga URSS (excelente escolha de temas num jornal de direita, eu sei!). O sub-director (Victor qq coisa...) circulava na sala de peito cheio dizendo que "ex-repúblicas soviéticas" é um conceito errado, que não existia. De cada vez que leio "ex-república soviética" num jornal lembro-me do artista. Enfim...as nossas opiniões n se encaixaram como blocos de tetris e p meu desgosto n consegui o emprego. Continuo no entanto a achar que os verdadeiros previligiados são aqueles que pagam as contas a escrever :)

tf