segunda-feira, outubro 26, 2009

Sunday bloody sunday



De cada vez que o domingo à noite se aproxima comeco a fazer contas de cabeca.
Vejo se tenho alguma perna partida, febre altíssima, um braco ao peito ou uma súbita dor intestinal. Nada. Rigorosamente nada. Estou para as doencas como o Sócrates está para os professores, não lhes ligo.
Raramente estou doente, nunca fui operado e 90% das vezes que entrei num hospital estava a acompanhar alguém. É óbvio para mim que morrerei saudável.
Estes cálculos num domingo à noite significam que, se nada de mal me acontecer durante a madrugada, na 2f de manhã terei que ir trabalhar.
E é aqui que tudo se encrava. Nada contra a labuta honesta, nada disso. Gosto de contribuir com a minha parte para uma sociedade produtiva e gosto de ser útil. O problema é quando cada uma, das oito horas, é um sacrifício.
Eu sei que estamos em crise, eu sei que 1000 colegas meus já estão a cantar no metro, eu sei que esta cidade tem milhares de pessoas como eu no desemprego e também sei que temos que fazer qualquer coisa, sem olhar a nomes. Mas, aqui entre nós que conseguimos ler dialecto de Camões, já estou com esta m**** pelos cabelos.
Já não vejo carros, ECUs, especificacões ou fornecedores à frente. O chefe do meu departamento tem que enviar todas as 6fs um mail com a informacão da companhia, novos projectos, etc. Desde janeiro que o mail é o mesmo com datas diferentes. Não corre uma pequena brisa de ar. É ver o barco afundar na incompetência de quem o comanda e constatar isso semana após semana. Algures neste processo de saturacão decidi mudar de vida. Quero trabalhar com coisas diferentes e de preferência, sem jantes. Quando a minha licenca de paternidade terminar, lá para o verão de 2010, farei o que estiver ao meu alcance para sair desta àrea. Até já decidi para que lado me quero virar (aeronáutica ou telecomunicacões). Não sei se conseguirei mas prefiro ir virar frangos do que voltar a ver um carro despido (especialmente americano) à frente.
Também não percebo por que raio gostaria de trabalhar com aviões se fujo deles como diabo da cruz. Deve ser pelo fascínio tecnológico que encerram. De qualquer forma, calculo que se trabalhe com o pássaro no chão, por isso…
A dica para a airbus seria: "que tal um estaminé em Gotemburgo ou Lisboa?"
Espero, se não for pedir muito, que 2010 dê uma ajudinha e leve esta crise para a Papua Nova Guiné que eles bem precisam.
Por agora é cerrar os dentes mais um bocadinho. Dezembro está mesmo aí.

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