Tenho recebido no correio pequenos panfletos com as propostas que os partidos suecos defendem para as eleicões europeias. Todos os partidos adoptam uma estratégia semelhante que se prende com a simplicidade das palavras. Um pedaco de papel com 3 ou 4 medidas que querem levar ao parlamento europeu. Propostas concertas, descritas de forma simples e que qualquer eleitor consegue compreender. De certa forma assumem um compromisso pelo qual poderão ser julgados no fim do mandato. Há falta de melhor adjectivo diria, eficaz.
Hoje recebi o papelito do PSD local. Concorde-se ou não, as 3 propostas apresentadas são:
1. Uma pessoa deve saber o que está a comer - exigir que todos os estados membros tenham etiquetas descritivas nos productos alimentícios que exportam. O conteúdo do producto deve ser rigorosamente o que está na etiqueta.
2. Política de imigracão europeia - exigir que se crie uma lei para a imigracão comum a todos e não por estado membro. Isto evita que países que não querem receber determinado tipo de imigrantes se vejam obrigados a aceitá-los depois de estes entraram na UE através de outro estado membro.
3. Direito do cidadão da UE a cuidados médicos sem fronteiras - (exemplo) se um francês tem que esperar 2 anos para ser atendido numa especialidade que em Itália não tem qualquer lista de espera, deve ter o direito de se tratar em Itália como se fosse um cidadão local.
Posso concordar ou não. Mas percebo o que querem dizer e quais serão as suas propostas ou direccão de voto.
Por curiosidade (e sim, as insónias dão-me cabo da cabeca...) resolvi dar um salto à página do PSD português.
O compromisso europeu resulta em 10 pontos. Vagos como convém.
O primeiro:
"1. REPRESENTAR PORTUGAL
Para nós, eleger 22 Deputados ao Parlamento Europeu representa eleger 22 embaixadores do interesse nacional. Acima das querelas partidárias e da inserção em famílias políticas europeias colocamos a defesa dos interesses dos portugueses"
Para nós, eleger 22 Deputados ao Parlamento Europeu representa eleger 22 embaixadores do interesse nacional. Acima das querelas partidárias e da inserção em famílias políticas europeias colocamos a defesa dos interesses dos portugueses"
Muito bem. Mas quais são os interesses dos portugueses? E como é que se defende algo que não se descreve?
Mas pode ser que seja só o aquecimento...
Continuando.
"2. GARANTIR O EMPREGO E CRIAR RIQUEZA: APOSTAR NA ECONOMIA
A nossa prioridade é mais e melhor emprego. Precisamos de robustecer a nossa economia tirando mais partido do mercado interno.
Apostamos no investimento no capital humano, na formação, educação, ciência e inovação. Defendemos políticas activas de incentivo às Pequenas e Médias Empresas. Vamos valorizar a agricultura e os agricultores, que têm hoje uma importância estratégica reforçada. Acompanharemos de perto toda a política de combate à actual crise e à forma como o governo português aplica a estratégia europeia, designadamente no que diz respeito à utilização dos fundos comunitários."
A nossa prioridade é mais e melhor emprego. Precisamos de robustecer a nossa economia tirando mais partido do mercado interno.
Apostamos no investimento no capital humano, na formação, educação, ciência e inovação. Defendemos políticas activas de incentivo às Pequenas e Médias Empresas. Vamos valorizar a agricultura e os agricultores, que têm hoje uma importância estratégica reforçada. Acompanharemos de perto toda a política de combate à actual crise e à forma como o governo português aplica a estratégia europeia, designadamente no que diz respeito à utilização dos fundos comunitários."
Nesta proposta resolvi pôr a bold apenas o que não era concreto.
Foi relativamente fácil.
Analisando: como é que se cria mais emprego? Que eu saiba parlamentos não criam empregos, isto claro, se descontarmos os que lá se sentam a dizer banalidades.
Como é que se fazem incentivos às pequenas e médias empresas? Como é que se valoriza a agricultura? Como é que pretendem usar os fundos comunitários?
Mais generalista do que isto é impossível. Não há qualquer compromisso e responsabilidade porque não há qualquer proposta. Claro como água.
Não é dificil imaginar que até ao fim da lista se podem ler mais 8 pontos generalistas sobre justica, liberdade, seguranca, etc. Se o PSD tivesse uma só linha a dizer "Queremos um mundo melhor" o efeito seria o mesmo do que o conseguido com o "compromisso europeu".
Em todo aquele enche-chourico de lugares comuns há uma e uma só proposta concreta: o voto favorável para a reconducão de Durão "isto está mau vou dar à sola" Barroso no cargo de presidente da comissão europeia.
É pouco. É muito pobre.
Eu sei que ninguém vai ler os programas dos partidos, mas com declaracões "Miss América" destas como é que querem gerar um debate? Como é que esperam que os portugueses discutam ideias, diferencas e propostas, se tudo o que fazem é apresentar uma mão cheia de nada?
É assim tão difícil?
Vá lá rapaziada. Eu ajudo.
Peguem num papel e numa caneta e sentem-se numa sala.
Todos juntos e a fazer alguma forca.
Não muita para não dar asneira.
Mal apareca uma ideia brilhante ( do género - "criacão de uma lei europeia para planeamento e controlo urbano daqueles mesmo difíceis de alterar e vigiados pelos senhores de Bruxelas ") tomem de imediato nota, não vá a coisa esfumar-se.
Repitam isto meia-dúzia de vezes e têm um programa de campanha honesto.
Depois é só esperar que o Portas não copie.
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