terça-feira, junho 02, 2009

A arte de falar sem dizer nada


Tenho recebido no correio pequenos panfletos com as propostas que os partidos suecos defendem para as eleicões europeias. Todos os partidos adoptam uma estratégia semelhante que se prende com a simplicidade das palavras. Um pedaco de papel com 3 ou 4 medidas que querem levar ao parlamento europeu. Propostas concertas, descritas de forma simples e que qualquer eleitor consegue compreender. De certa forma assumem um compromisso pelo qual poderão ser julgados no fim do mandato. Há falta de melhor adjectivo diria, eficaz.
Hoje recebi o papelito do PSD local. Concorde-se ou não, as 3 propostas apresentadas são:
1. Uma pessoa deve saber o que está a comer - exigir que todos os estados membros tenham etiquetas descritivas nos productos alimentícios que exportam. O conteúdo do producto deve ser rigorosamente o que está na etiqueta.
2. Política de imigracão europeia - exigir que se crie uma lei para a imigracão comum a todos e não por estado membro. Isto evita que países que não querem receber determinado tipo de imigrantes se vejam obrigados a aceitá-los depois de estes entraram na UE através de outro estado membro.
3. Direito do cidadão da UE a cuidados médicos sem fronteiras - (exemplo) se um francês tem que esperar 2 anos para ser atendido numa especialidade que em Itália não tem qualquer lista de espera, deve ter o direito de se tratar em Itália como se fosse um cidadão local.
Posso concordar ou não. Mas percebo o que querem dizer e quais serão as suas propostas ou direccão de voto.
Por curiosidade (e sim, as insónias dão-me cabo da cabeca...) resolvi dar um salto à página do PSD português.
O compromisso europeu resulta em 10 pontos. Vagos como convém.
O primeiro:
"1. REPRESENTAR PORTUGAL
Para nós, eleger 22 Deputados ao Parlamento Europeu representa eleger 22 embaixadores do interesse nacional. Acima das querelas partidárias e da inserção em famílias políticas europeias colocamos a defesa dos interesses dos portugueses"
Muito bem. Mas quais são os interesses dos portugueses? E como é que se defende algo que não se descreve?
Mas pode ser que seja só o aquecimento...
Continuando.
"2. GARANTIR O EMPREGO E CRIAR RIQUEZA: APOSTAR NA ECONOMIA
A nossa prioridade é mais e melhor emprego. Precisamos de robustecer a nossa economia tirando mais partido do mercado interno.
Apostamos no investimento no capital humano, na formação, educação, ciência e inovação. Defendemos políticas activas de incentivo às Pequenas e Médias Empresas. Vamos valorizar a agricultura e os agricultores, que têm hoje uma importância estratégica reforçada. Acompanharemos de perto toda a política de combate à actual crise e à forma como o governo português aplica a estratégia europeia, designadamente no que diz respeito à utilização dos fundos comunitários
."
Nesta proposta resolvi pôr a bold apenas o que não era concreto.
Foi relativamente fácil.
Analisando: como é que se cria mais emprego? Que eu saiba parlamentos não criam empregos, isto claro, se descontarmos os que lá se sentam a dizer banalidades.
Como é que se fazem incentivos às pequenas e médias empresas? Como é que se valoriza a agricultura? Como é que pretendem usar os fundos comunitários?
Mais generalista do que isto é impossível. Não há qualquer compromisso e responsabilidade porque não há qualquer proposta. Claro como água.
Não é dificil imaginar que até ao fim da lista se podem ler mais 8 pontos generalistas sobre justica, liberdade, seguranca, etc. Se o PSD tivesse uma só linha a dizer "Queremos um mundo melhor" o efeito seria o mesmo do que o conseguido com o "compromisso europeu".
Em todo aquele enche-chourico de lugares comuns há uma e uma só proposta concreta: o voto favorável para a reconducão de Durão "isto está mau vou dar à sola" Barroso no cargo de presidente da comissão europeia.
É pouco. É muito pobre.
Eu sei que ninguém vai ler os programas dos partidos, mas com declaracões "Miss América" destas como é que querem gerar um debate? Como é que esperam que os portugueses discutam ideias, diferencas e propostas, se tudo o que fazem é apresentar uma mão cheia de nada?
É assim tão difícil?
Vá lá rapaziada. Eu ajudo.
Peguem num papel e numa caneta e sentem-se numa sala.
Todos juntos e a fazer alguma forca.
Não muita para não dar asneira.
Mal apareca uma ideia brilhante ( do género - "criacão de uma lei europeia para planeamento e controlo urbano daqueles mesmo difíceis de alterar e vigiados pelos senhores de Bruxelas ") tomem de imediato nota, não vá a coisa esfumar-se.
Repitam isto meia-dúzia de vezes e têm um programa de campanha honesto.
Depois é só esperar que o Portas não copie.

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