terça-feira, abril 07, 2009

Ouvir para aprender

Em conversa com uma amiga a quem gosto de chamar Woody, abordei o tema da situacão laboral na Suécia. Discutíamos as consequências desta crise no país, especialmente aqui em Gotemburgo.
Os despedimentos não param e de uma forma ou de outra, toda a cidade está afectada.
Confessava-lhe algum receio sobre a situacão no estaminé que me paga as contas. Ainda as cadeiras estão quentes da segunda leva e já se fala numa terceira ronda de sangue antes do verão.
Antes do verão? Isso é daqui a 2 meses pá!
Por outro lado relatava algum do cansaco acumulado desde que cheguei à Suécia. Digo-o com uma certa vergonha afinal deveria estar contente, acima de qualquer outra coisa, por manter o meu emprego.
Mas a realidade não é essa. A realidade é que o nível de exigência que já era grande, aumenta e muito com a crise. A competitividade é agora selvagem e os critérios para os despedimentos, são em alguns casos, detalhes. Ninguém quer ceder, ninguém quer ficar por baixo. Todos sabem que cada passo é avaliado. Não há espaco para asneiras ou borregadas em directo.
Não mata, mas mói.
E por esta altura do campeonato, dizia-lhe, só me apetece parar com tudo, meter o puto às costas e ir viver uns meses para o meio de aborígenes australianos sem qualquer contacto com a civilizacão.
Em linguagem corrente da minha avó: "a cabeca já não quer".
Para um sueco este é um conceito de vida normal. Perguntam-me se antes de comecar a trabalhar não fui de mochila às costas ver o mundo e pensar o que queria fazer da vida. Explico que em Portugal são os pais que normalmente suportam os custos da educacão. Não há bolsa do governo para estudar e passear 6 meses a fazer o trilho do Che. São uns felizardos estes vikings, embora não tenham consciência disso. Mesmo no mercado de trabalho este conceito também existe. Até há bem pouco tempo qualquer empresa era obrigada a dar um ano de licenca sem vencimento a qualquer trabalhador que quisesse parar de trabalhar por esse tempo determinado. O governo de direita, pouco dados a filosofias, acabou com isso.
Sinto que tenho que fazer algo para folgar as costas e digo-o ao Woody. É tempo de parar.
Ela, sueca e fria diz-me: "em vez de grandes revolucões, porque não fazes como nós e tiras férias regularmente, com espacos curtos entre elas?"
No verão vamos para Espanha, no outono para a Tailândia, no inverno para os Alpes e na primavera para onde calhar.
Desta forma o carregar de baterias é uma constante.
Tirando os destinos não me parece uma má estratégia.
Eles não são parvos, há que admitir.
A conclusão é óbvia. Chegar ao pólo é fácil, o difícil é aprender a ser esquimó.

1 comentário:

Incrédulo anonimato... disse...

Grande Tiago!
Confesso que pouco leio o que escreves. Mas lembro-me bastante....
Vou andar mais por aqui...

O que ela diz é sábio e eu comprovo-o.
Não vou para a Jamaica nem para a Costa da Caparica, mas a mim ninguém me tira os fins de semana "grandes".
E não é em época alta quando todo o Tuga se lembra de ir. Dispenso mais confusão...

Não há nada como mini ferias de 2 em dois meses. E falo a sério!
Há 5 anos que é assim que giro!
Turnos, criançada, stress citadino... NADA!!!
Um fim de semana na Serra da Estrela, em Porto Covo, na Marmeleira.... Descobri cantos em Espanha que não imaginava.
Qualquer coisa é fundamental para carregar baterias.
Deixar dois meses para o Verão.... morria antes ou tinha um "blue screen of death".

Um abraço
Xico
(este ano dá para ir à Holanda e a Bélgica. Para o ano é na Suécia...)