quinta-feira, fevereiro 05, 2009

O que fará aquele gajo no Bangladesh?

Diz a estatística que somos 5 milhões.
Mais coisa menos coisa.
Eu diria "mais coisa" porque nem todos estão legais e de entre os que estão legais, muitos não passam no consulado para dizer "e aí cara?".
Depois desta estimativa (2002), muitos mais embrulharam a trouxa. Espanha foi particularmente invadida.
Não é por isso de estranhar que os números subam na próxima análise.
Ainda assim, percebe-se a secular frase "há um português em cada canto do mundo".
O mundo até parece pequeno.
As razões para a emigracão no séc.XXI não são as mesmas da metade do séc.XX.
Hoje ninguém sai de Portugal para fugir à fome, a uma ditadura ou a uma guerra. A única ponte comum é a busca de uma vida melhor. Seja lá isso o que for.
Tirando a vontade de experimentar algo novo em passagens breves pelo estrangeiro, ninguém emigra (definitivamente) porque quer. É pelo menos a minha opinião.
É vida é mais fácil quando falamos a nossa língua, comemos a nossa comida e vemos os sorrisos que nos enchem a alma.
Acho que posso dizer por esta altura que "está cientificamente provado".
Sair então porquê?
Porque se constata que há objectivos de vida, padrões de qualidade ou desenvolvimento profissional que estão permanentemente vedados para a maioria.
Sobra uma minoria situada no grupo do "conhece A", "estava no sítio certo na hora B" ou "o meu esforco foi compensado" (estes verdadeiramente raros).
Uma coisa é certa: horários decentes de trabalho, salários competitivos, funcões interessantes, reconhecimento profissional, boas zonas de habitacão, tempo para actividades, dia-a-dia sem trânsito ou empurra-empurra no metro, condicões para criar uma família, saúde e educacão pública de qualidade são factores que dificilmente se interceptam numa mesma vida.
Acho eu que são estas as razões para a emigracão portuguesa do séc.XXI.
Já pensei nisto milhares de vezes, já o disse umas centenas e parece-me que já atinge a dezena, o número de vezes que o escrevi. Nós poderíamos ter tudo isto para o grosso da populacão em Portugal. É isso que mais custa, vendo daqui.
O nosso país é pequeno e por isso fácil de administrar. Tem uma diversidade cultural imensa, uma costa fantástica e uma gastronomia única. O turismo de qualidade deveria por isso estar garantido (não o de massas). Temos gente inteligente em cada canto do mundo desenvolvendo tecnologia de ponta. Porque não o fazem em Portugal criando médias empresas de referência internacional? Temos um clima fantástico (em 70% do ano vá...) e uma boa rede de transportes (se os condutores repeitarem a faixa do "bus"). Porque não usamos bicicletas, andamos a pé ou usamos os transportes públicos (é aqui que se deve exigir ao governo e não nas auto-estradas!) em vez do velho hábito de levar o carro até à sala de jantar? Temos uma oferta cultural (teatro, concertos e espectáculos em geral) que não nos envergonha perante qualquer capital europeia, pelo contrário. Porque passamos uma vida inteira a ver novelas da TVI em vez de sair de casa? Muitas destas actividades são de borla...
Quando acabou a IIGG Portugal era um dos poucos países com dinheiros nos cofres do Estado. Tal como a Suécia por acaso...
Porque não usámos esse dinheiro para desenvolver ("abrir") o país? Porque passámos 30 anos de democracia a criar uma dependência doentia do Estado? Porque nos deixámos envolver pela teia da corrupcão sem qualquer protesto civil?
...
Enfim, o que quero dizer é que não existe razão nenhuma (pelo menos natural) para sermos pobres e atrasados.
E essa é a realidade. Por muito que me custe dizê-lo.
Não fosse a ainda mais miserável Grécia e estaríamos no fundo da tabela em todos os parâmetros de desenvolvimento da UE.
Olhar para Portugal hoje em dia é como olhar para um diamante em bruto que ninguém quer lapidar.
Não me alegra vê-lo daqui. Só me entristece.
Tal como disse lá em cima, a vida é muito mais fácil quando sabemos para que lado o vento sopra.
Perceber que durante o nosso tempo de vida nada mudará, mais do que a constatacão de um facto, é um pequeno pesadelo.

1 comentário:

Pia disse...

Tás lá Franco!!!!