segunda-feira, novembro 17, 2008

Empurre e com forca sff












O espéctaculo proporcionado pelas manifestacões de alunos nos últimos dias, foi das coisas mais tristes que me lembro de ter assistido.


Nada contra o direito que qualquer um de nós tem de se manifestar. Absolutamente nada. Mas, quando vejo miúdos de 10 anos aos berros, a pergunta "mas eles sabem porque estão ali?" ocorre-me.


Não, não sabiam. E faz sentido que não saibam. Se soubessem, não teriam 10 anos...


Agora, os graúdos que os orientaram sabiam bem o que eles estavam a fazer. E não me refiro propriamente aos pais...


Os míudos foram usados como arma de arremesso contra o governo, numa altura em que os professores lutam contra o processo de avaliacão. Não há outra leitura possível. Se assim não fosse, porque reclamariam do estatuto do aluno 10 meses depois da sua aplicacão? Não faz sentido.


Centro-me por isso no busílis da questão. A avaliacão de professores, a Fenprof e o exemplo máximo do pobre sindicalismo português, Mário Nogueira.


Compreendo que os professores não queiram ser avaliados. Todos temos uma certa dificuldade em aceitar novas regras, é humano. Não compreender que essa regra é utilizada pelo resto do mundo há décadas, é que já não fica tão bem na fotografia. Progredir na carreira apenas porque a distância à data de nascimento vai aumentado é claramente mais fácil. Mas também é mais injusto. Espalha-se a mediocridade e não se premeia o esforco. Sou obrigado a concluir que é isto que a classe quer.


E porquê? Porque se assim não fosse, sugeriam uma alternativa e a única coisa que a Fenprof fez até agora (além de não cumprir contratos assinados) foi dizer que esta avaliacão não serve. É burocrática, limita o tempo para ensinar, etc. Tudo muito bem. Todos de acordo. Mas qual é a alternativa? Para a Fenprof é deixar como está. Para os professores que usam o escudo da Fenprof também. Para a oposicão, que à míngua de ideias apanha o que pode deste oásis político, também.


Ora, isto camaradas, é exactamente o que o Zé (Estaline, não o Sócrates) defendia: "o medíocre e o esforcado têm o mesmo pedaco de terra, o mesmo Lada, as mesmas calcas e a mesma racão de comida". E...adivinharam...foi por isso que não funcionou! Um estado socialista é um estado onde todos contribuem para um bem comum. Os mais ricos dão aos mais pobres, através da seguranca social (impostos) e providenciam uma rede que não deixa ninguém debaixo de uma ponte. Isso é o socialismo. Dar caminhos idênticos a quem passa pela vida a dormir ou para quem larga suor, não é justica social, é estupidez! É premiar a mediocridade e é o que a Fenprof faz há anos. Não quererá um professor trabalhador e esforcado, evoluir mais do que um colega que passa o ano a raspar-se na parede? Não é isso legítimo? Não defendo a competitividade do salve-se quem puder, mas deixar que os anos nos levem em igual progressão, apenas porque estamos mais velhos, parece-me extremamente redutor.


Quererá a classe dos professores, provavelmente a classe trabalhadora mais importante em qualquer sociedade, ser associada às palavras de Alberto Poncha João?


"Aqui nenhum professor será avaliado!! Todos foram no passado e com muito bom!!"


Uau. Tudo corrido com excelentes avaliacões. O gajo que se esforca e o outro que traz cafés. Se isto não é motivar um profissional, não sei o que será! Alberto João, esse visionário...


Claro que em última análise, embora ninguém se pareca preocupar com isso, quem vai pagar são os alunos e mais cedo ou mais tarde, a nossa sociedade. Professores pouco motivados significa pior ensino, pior ensino significa estudantes mal preparados. Estes serão profissionais menos produtivos (ou com menos "armas" para enfrentar um mercado global) e isso, traduzir-se-á (uma vez mais), num fraco desenvolvimento económico e social do país.


Pensem nisto. A Suécia (não quero dar uma de emigrante, mas de tão óbvio, tem que ser...), tem menos habitantes do que Portugal, uma área imensamente maior para administrar e conseguiu criar riqueza através de inúmeras multinacionais, ocupando hoje o top 5 de todos os rankings de desenvolvimento. Volvo, Saab, Ericsson, ABB, SKF, Tetra Pak, IKEA, Scania, são alguns dos exemplos. Qual é a principal diferenca para o caso português? A educacão.


A educacão é o pilar desta sociedade. Grátis, exigente, com qualidade. Estou aqui há 2 anos e ainda não encontrei uma pessoa que não falasse inglês melhor do que qualquer professora que eu tive no secundário. Todos. Do repositor no supermercado à senhora da cantina. A taxa de pessoas com cursos superiores é muito elevada. O espírito empreendedor é grande. O país cresce com gente assim. Nós temos todas as condicões para ter idêntico sucesso. A aposta é a mesma, a educacão. Distinguir os bons dos maus professores é apenas o primeiro passo.


3 comentários:

Anónimo disse...

Está tudo dito, não falta nada.
Dar o nosso melhor e sermos avaliados de forma justa qualquer que seja o nosso trabalho, nada mais natural.Não consigo perceber os professores.

catarina disse...

meu caro:
a distância, acredito que mais do que a física, turva-te a visão dos factos. a nossa sociedade sempre tratou injustamente os professores, situação que está prestes a atingir um extremo, agora que o próprio governo os desautoriza em praça pública. os professores, como qualquer classe que durante anos e anos gozou do privilégio de uma progressão na carreira quase automática, não estavam a morrer de vontade de serem avaliados. mas NÃO se opõem à ideia de avaliação. e ao contrário do que dizes, já houve alternativas propostas ao ministério (não pelos sindicatos - concordo que o papel deles têm sido embaraçoso, to say the least - mas pelos movimentos independentes de professores). o que os professores deste país se opõem, e eu estou inteiramente do lado deles, é a uma avaliação que na prática resulta no seguinte: és um excelente professor se passares toda a gente; és um péssimo professor se realmente distinguires os bons dos maus alunos e fizeres progredir aqueles que efectivamente sabem ler e escrever. tu, como todos os portugueses que se apressam a mandar bocas e a julgar precipitadamente os professores, desconhecem a real essência da verdadeira aberração que a ministra está a propor. eu conheço as tuas palavras há já algum tempo, e leio nelas muito bom senso e um saudável espírito crítico. por isso mesmo, quase que juro que mostrarias mais empatia pela classe dos professores se pousasses os olhos numa das so-called grelhas de avaliação, um verdadeiro sacrilégio e um INSULTO à sociedade portuguesa em geral. eu mando-te um presentinho desses para o e-mail, se quiseres. sim, porque eu, antes de me pôr para aí a mandar bitaites e postas de Cynoscion steindachneri, tive o cuidado de reunir e analisar alguma informação.
[sim, isto foi uma boca ao sr. engenheiro emigrante:))]

cumprimentos da pátria-mãe,
catarina, a chata

PS: eu por acaso até vou dar uma aula hoje de tarde, mas é a meninos maiores do que os que andam nas ruas a protestar, e é com o lindo título de "professora convidada" [ou seja, pessoa-que-tem-imenso-trabalho-a-
preparar-uma-aula-mas-não-ganha-
nem-um-tostão-por-isso...:))],
mas NÃO sou professora!
defendo a classe, por convicção pura e simples de que eles têm toda a razão!:)

Anónimo disse...

Camarada,
como entenderás, acompanho a realidade do rectângulo como posso. Jornais e noticiários da RTP, entenda-se. É com base nessa informacão que mando os meus "bitaites". Nunca vi ou ouvi qualquer movimento independente de professores. Vejo Nogueira e seus pares até à náusea. A distância não me permite ir para o meio da manifestacão discutir professor a professor o que os move, assim, sou obrigado a confiar na comunicacão social. Por outro lado, e este é um ponto importante, nada me move contra professores. Bem pelo contrário (como tb já escrevi), considero-os a base de qq sociedade pq poucos têm a responsabilidade de ensinar muitos e garantir futuras geracões. Isto é senso comum. Agora, tal como tu, eu tb conheco professores e em alguns casos, o amor ao trabalho é tão grande como o teu amor ao Barbas :) Também já escrevi que a avaliacão pode ser injusta (ainda estão para inventar uma que não seja), mas a resposta sindical não a critica construtivamente. Diz apenas que não a quer e isso, compreenderás que é pouco. Eu admito (manda lá a grelha sff!)que o modelo possa estar errado. Não concordo com facilitismos na educacão a bem das estatísticas (basta lembrar a prova de matemática deste ano). Isso não é educar, é iludir. Ainda bem que há movimentos de professores a lutar pela credibilidade da carreira. Ainda bem mesmo. Fico contente de ler isso. Contudo, enquanto a Fenprof for a voz, pouco importam os sussurros.
Boas intencões não adiantam, quando a voz da classe (Nogueira) os enche de lama e descrédito.
Se o caminho for este tudo fica na mesma. Quem quer ser avaliado (de forma justa, segundo as tuas palavras) n será. Quem quer continuar a arrastar-se, poderá.

TF

Ps - Espero que a aula tenha corrido bem :)