segunda-feira, janeiro 07, 2008

O gajo dos condensadores

Poucos dias depois do natal, num convívio daqueles que enchem a alma desta vez na Casa da Morna (que cachupa meus amigos, que cachupa!), pergunta-me uma amiga se o meu terror de voar se prendia com alguma má experiência.
Define "má experiência".
Para quem não gosta de voar um poco de ar pode ser a pior coisa do mundo, para quem dorme e baba a viagem toda, é apenas mais um minuto. É a sensacão de nada poder fazer e de entregar o destino ao gajo que apertou os parafusos, ao outro que testou o sistema de navegacão e rezar para que o responsável pelos testes no motor não tenha adormecido. É psicológico. Aceito.
Ainda assim, foi com espirito de "vamos a isto" que entrei no Porto, esta 5f, no vôo de regresso para Estocolmo.
A Ryan Air não é muito diferente da Barraqueiro. Aterra, encosta bem longe de uma manga, mete o lixo num saco e enquanto saiem uns, já estão outros a subir a escada. Mete 1a e segue.
O gajo da gasolina mal tem tempo para desengatar o tubo.
Entro no avião e parece que estou no cinema da Luisa Todi. Não há lugar marcado.
Na dúvida opto pela fila da esquerda. Sai-me mais natural.
Já eu estava sentado quando se abate um dilúvio no Sá Carneiro.
Neste cenário o avião levanta vôo.
Comeca a furar as nuvens e após 30 seg no ar vê-se um clarão seguido de um barulho de rebentamento sobre a asa esquerda.
Aqui abro espaco para a retórica: um doce para quem adivinhar o nome do artista que se sentou nesse lugar.
As pessoas no avião assustam-se e gritam. Eu vejo o clarão e digo: "#¤%&% o motor rebentou!!!"
Ao meu lado, uma voz calma acrescenta: "Não foi o motor. Repara que o avião continua a subir."
Sempre quis ter uma discussão sobre rebentamento de motores no ar. Descontrai-me.
Passado algum tempo e já com o avião direito, o comandante veio explicar que tinha sido um relâmpago e tal, por isso agora relax e vamos seguir viagem.
Relax?
Nessas 3,5h a única coisa que fiz foi olhar para o motor.
Ah...e pedir aquele tinto manhoso que eles por lá vendem.
Ao meu lado vejo gente a ler, a dormir, a ressonar. Já não estão assustados.
Tudo bem.
Eu fico agoniado por todos.
Tenho a sensacão que disse "nunca mais vou a Portugal com nuvens" o que é uma coisa com um sentido que um dia conseguirei perceber.
Agora dizem vocês, ou dizes tu Hugo, mas não sabes que o avião quando leva com um raio tem um comportamento de gaiola de Faraday ?
Essa é a parte bela da ciência. Todos acreditam mas ninguém quer testar. Numa esplanada, a beber um café e com os pés no chão tudo faz sentido. A 5Km do chão até em Deus acredito.
...
Acho que isto conta como má experiência.

6 comentários:

Beta disse...

lol
Eu sou daquelas que gostam MUITO de andar de avião! provavelmente porque nunca tive uma má experiência desse género..... mas até ao dia que tiver, vou continuar adorar de viajar nesses "brinquedos".
quanto ao avião tipo autocarro.... deve ser tipo os da Tunisair..... ja me aconteceu andar nessa companhia.... aquilo parecia que se ia desfazer a qualquer momento... mas correu bem! ;)

Anónimo disse...

Gostei particularmente de te imaginar a dizer "#¤%&% o motor rebentou!!!". Só isto deu para andar com o sorriso parvo nº15 durante uns 30 min, enquanto os meus colegas pensam: Do que se ri este gajo?
Conselho para viagens semelhantes: Confirma se hà nuvens em Lisboa :), ou leva fralda ,hehehehehe. Pensa nas coisas positivas, desta vez ninguém mexeu no teu IPod e sempre podes ouvir uma música para descontrair!
Um abraço

snowgaze disse...

Já me cheguei a enfiar dentro do carro durante uma trovoada (estava no campismo, e a tenda mesmo debaixo de uma árvore) a meio da noite por causa da tal gaiola de faraday. Mas o carro não foi atingido (e ainda bem). Há uns tempos vi um tipo na televisão enfiado numa gaiola de metal (era mesmo uma gaiola) e apanhar com descargas de muito alta voltagem, e depois disso convenci-me. Até aí ainda estava na dúvida se se podia estar em contacto com o metal no momento da descarga. Mas o tipo sobreviveu sem um arranhão ou queimadura. O Faraday era um gajo fixe.

Unknown disse...

Essas coisas chamadas de electrões são lixadas... nem sei como é que alguém consegue gostar delas... e até estudá-las!... E ser ENGENHEIRO dos electrões!...

Agora a sério... sabias que os relâmpagos tiveram um papel fundamental na criação da vida na Terra?

As descargas eléctricas na atmosfera possibilitaram a constituição de moleculas de carbono complexas, nomeadamente de aminoácidos, que são os pilares da constituição orgânica dos seres vivos!

Anónimo disse...

Epá Hugo, sendo assim, fico quase tentado a agradecer ao "criador" que largou lasca na asa pelo previlégio do encontro!
:)

Rita. disse...

Como eu detesto andar de avião. Não é racional, mas detesto. Não consigo dormir, não consigo ler, fico maldisposta. O pior vôo que fiz foi LA-Sidney, nunca na vida senti tanta turbulência e só conseguia pensar que ia morrer no Oceano Pacífico. Jurei que não entrava num avião tão cedo. 2 meses depois fazia mais 14 horas, Kuala Lumpur Londres. Necessidade a quanto obrigas... e no meio disto tenho a agradecer ler esta história... para tds os que não gostam de aviões é mesmo para dizer "$&&%$"&%&!!!!!!!"