segunda-feira, novembro 05, 2007

Ready? Set...Go!



Não temos tempo uns para os outros.
Pode ser impressão minha, mas parece-me que tudo aparece antes do momento em que dedicamos atencão a alguém importante.
Primeiro os exames, depois os trabalhos, um pouco mais à frente os empregos, depois quem sabe os filhos, a vida familiar e por aí fora.
Tempo, que no fundo é a única coisa que temos, parece ser o elemento não existente. Uma questão de gestão dirão os especialistas.
Quem sabe.
Qual é afinal o objectivo de correr sem saber para onde? Há uma reunião, há um exame, há um acontecimento, há uma série de coisas onde é necessário marcar presenca.
Tudo muito bem.
Mas alguma vez deixará de haver? Chegará o dia em que seremos donos do nosso tempo? De todo o nosso tempo?
Acho que não. E sinceramente espero que não. A vida tem mais cor quando alguém nos quer ver.
Mas na impossibilidade de chegar a todo o lado, não devemos nós dar mais atencão a quem realmente importa?
Um telefonema, um jantar, uma concessão de tempo.
Uma simples linha para que do outro lado se perceba que essa pessoa conta. Pelo menos para nós.
Dir-me-ão que a vida é um caderno de responsabilidades.
Ser adulto significa ter contas para pagar. Para tal é necessário um emprego, que por sua vez exige que alguém no departamento de recursos humanos diga "parece-me que este gajo é o tal". Para encontrar esse artista dos recursos humanos é necessário pedalar e 800Km passam a correr. Sem darmos por isso já tentámos tudo até Badajoz.
Acreditamos que esta coisa do "sem fronteiras" é mesmo verdade e dizemos "porque não?".
E é aqui que aparecem algumas supresas. Temporais.
O corre-corre desaparece e por razões óbvias a vida fica mais calma. Páro para pensar.
Constato que distando alguns milhares de quilómetros, vejo o mesmo número de vezes algumas das pessoas que não estavam a mais de 20 Km da minha porta. Daquelas importantes.
A diferenca é que agora percebo isso. Não correr dá-me tempo para pensar.
E pensar dá sempre jeito para compreender. Coisas.
Do outro lado ainda se corre.
Lembro-me de como há uns anos atrás, combinar um simples jantar no B. Alto com um grupo de 10 pessoas era um pesadelo. Comecávamos com um dia e entre "nesse dia não estou cá" e "aí vou ao casamento daquele primo em 3 grau" acabávamos 3 meses depois.
Não tínhamos muito mais do que 20 anos. O que é que a vida pode exigir de tão complicado a miúdos de 20 anos? No entanto, todos achavam normal aquelas agendas preenchidas. Agendas. E 20 anos. Não combinam.
Cheguei a combinar dos dois lados da ponte V. da Gama com 5 min. de diferenca e achar no mais ingénuo dos sonhos que isso seria possível.
No que me diz respeito estou cansado de correr. Não faz sentido.
Sento-me aqui e observo quem corre. 1 dia, 2 dias, uma semana, 1 mês, 1 ano.
O tempo passou a ter mais valor. Tal como o Sol, finalmente consegui dar-lhe algum valor. O mar sem ondas sente-se só e nós, por muita correria que consigamos encaixar no mesmo dia, não criaremos momentos se não lhe dispensarmos atencão suficiente.
E o que nos puxa belo brilho no olho?
Um bom momento com quem nos acompanha diariamente?
Uma boa conversa com um amigo que seguiu outra estrada?
Um jantar num ambiente familiar?
Tudo. Eu diria que tudo.
E criamos nós as condicões para tal?
Olhe que não. Olhe que não.

1 comentário:

Inês disse...

Eu não dispenso certas coisas no meu dia-a-dia como o café todas as noites no sítio do costume. É verdade quem nem todos os dias aparecem todos, há sempre quem tenha que fazer, mas vou-me cruzando com todos, todos os que me fazem falta :)