terça-feira, novembro 07, 2006

O Delgado

Há duas profissões que particularmente admiro: professor e jornalista.
Professor pelo lado romântico da coisa. Sobre os seus ombros têm as sucessivas formações das gerações seguintes. São eles a base do sistema de ensino e é o sistema de ensino (e os seus resultados) a base de qualquer país. Em teoria parece-me algo fantástico, na prática não lhes consigo dar o crédito devido por achar que a classe está desgastada com os seus contra-producentes dirigentes sindicais. Tudo o que um sindicato não deve ser está representado nas Fenprof e companhia. Não são parceiros sociais, são apenas pragas.
Se tivesse que criar um manual do sindicalista perfeito, colocaria como exemplos a não seguir aquele gajo que há 20 anos aparece nos jornais a reclamar de tudo e nunca deve ter dado uma aula na vida e no capítulo "trampolim para uma bancada parlamentar (qualquer desde que seja dentro da assembleia e com direito a ajudas de custo)" o Torres Couto. Bom, mas já me estou a desviar do assunto e o sindicalismo ficará para outra oportunidade...mas enervam-me, é isso, enervam-me...e depois custa-me mais a parar....bolas....agora é que é!
Admirando muito a profissão, nunca a quis seguir. Paciência exige-se e eu não consigo explicar a um peixe onde encontrar água. Não tenho jeito e por isso nunca pensei nisso. Percebo agora que ao fazer isso prestei um enorme serviço à comunidade e não engrossei a lista de professores-não-tenho-jeito-nenhum-para-isto-mas-não-sei-que-curso-tirar-e-este-até-não-tem-matemática-e-depois-logo-se-vê-afinal-sempre-me-dão-emprego-para-a-vida-e-se-os-putos-não-perceberem-paciência!
Professores sim senhora...mas com jeito para a arte. Sim, porque ensinar é uma arte.
Agora jornalista já é outra conversa. Isso sempre me pareceu uma profissão apaixonante. Aliás, naquele caderninho das profissões que nos distribuíam aos 18 anos (na altura das decisões...que injustiça!) a profissão de jornalista aparecia com um coração e a legenda: "profissão de paixão".
Traduzindo para o mercado de trabalho queria dizer desemprego...isto na versão lá de casa.
No entanto, para aqueles que a podem exercer livremente, com alguma criatividade e sem muita censura, deve ser verdadeiramente fantástico. Um autêntico Indiana Jones no mundo das profissões. Se o cheque permitir uma vida descansada, então é ouro sobre azul.
Mas é aqui que o entusiasmo pára. O mundo dos media parece-me, visto de fora, bastante fascinante, mas depois constato que abre espaço para verdadeiras aberrações sob forma de opinião válida. Uma pequena feira de vaidades na nossa pequena praça.
Concorde-se ou não com a posição defendida, ler textos do Sousa Tavares, Prado Coelho, Clara Ferreira Alves, etc são um estímulo ao nosso próprio pensamento. Podemos até estar em total oposição, mas há que reconhecer a argumentação e defesa de uma ideia.
Já casos como o do Luis Delgado, e cito este isoladamente porque o acho o mais escandaloso, deixam-me um pouco confuso.
Costumava ler a Clara F. Alves no Diario Digital quando escrevia por lá. Na coluna de baixo estava o Delgado e comecei a ler também os textos dele (até aqui pouco sabia deste personagem).
Ao fim de uns quantos artigos percebi que não era coincidência e que o homem não desenvolvia muita mais do que aquilo. Depois reparei que também escrevia no DN e até aparecia como comentador convidado em alguns noticiários.
Ora, isto causa-me mesmo algum espanto porque até ao dia de hoje, ainda não vi 3 linhas escritas por este rapaz que saíssem da sua própria cabeça.
As análises que faz são do maior senso comum que se pode imaginar....dignas de um concurso Miss Mundo: "Quero paz para o Mundo" e "Guerra é mau"
Dei por mim a ficar tão irritado depois de o ler, que semana após semana o voltava a fazer esperando por algo saído do cérebro...mas nada.
De forma que ganhei uma certa "irritação" de cada vez que este gajo aparece a dizer uma baboseira (tenho impressão que é ele que escreve os discursos do Bush).
No último artigo no DN, usa uma biografia não autorizada do Fidel para criticar toda a esquerda e por pouco dizia que a vida dos cubanos era faustosa nos tempos do Baptista. Assume como verdade divina uma biografia não autorizada e toca de relatar as palavras de quem escreveu o livro (esse pelo menos tem uma opinião e defendeu-a...).
Enerva-me...este gajo enerva-me....
Com tantos jornalistas com dificuldades em arranjar emprego e com um cérebro fresquinho para usar, dão tempo de antena a um mono destes.
De qualquer forma, e mesmo admitindo a existência de uns quantos Delgados por essas redacções fora, tenho que reconhecer que a profissão de jornalista tem um brilho que me continua a encantar.

7 comentários:

Sandrinha disse...

Eu acho que tens razão só pode mesmo ser ele que escreve os discursos do Bush!!
HAHAH
;o)

Rosa disse...

Em Fevereiro, temos aqui uma vaga! ;)

Tiago Franco disse...

Rosa: correspondente na Escandinávia, pode ser? :)

Anónimo disse...

Eu já fui professora e até tinha imensa vocação. Acredito que apenas gostanto muito de leccionar, fazemos com que os outros gostem de aprender. Mas depois quis comprar casa em Lisboa e foi preciso mudar de emprego ;)

Jornalista é que já não era nada compatível com o meu curso e limitava-me a olhar a profissão pelo jornal ou TV.

Rui Silva disse...

Não conheço a figura, não me vou pronunciar sobre os seus textos. Mas se for como o Luís Sobral, esse génio que escreve artigos de opinião à tonelada para o MaisFutebol, então percebo-te perfeitamente.

catarina disse...

;)
durante muitos anos quis ser escritora. que é uma espécie de versao poética de jornalista. quando cheguei aos 14 anos e tive que optar entre ciências e letras, a paixao pela biologia falou mais alto. e depois, pensei na quantidade de pessoas "das ciências" que escreviam, e bem. pensei que podia ser as duas coisas. bióloga para mim e para o resto do mundo, escritora no meu mundinho nas horas vagas. às vezes o trabalho aperta, mas escrever, para mim, ainda é o melhor exercício de relaxamento.
por isso entendo o teu post às mil maravilhas.
se bem que, como embirracao pessoal, em vez do Delgado escolho a Rebelo Pinto e outros que tais. os que produzem literatura fácil de casa de banho e lhe chamam "romances".
nao me enerva: dá mesmo cabo de mim ver a profissao do Lobo Antunes e da Sophia rebaixada àquele nível.
oh well...
tenho que ir brincar aos biólogos mais um bocadinho:)

catarina disse...

quase me esquecia: também já dei aulas na faculdade. habituar-me a ser tratada por "professora" por pessoal que encontrava à noite nos bares e que era, na maioria, da minha idade ou mais velho que eu, foi o exercício mais complicado:) de resto, a sensacao que estás a passar uma paixao, como numa corrida de estafetas, é maravilhosa.
para além disso, subscrevo a tua admiracao pelos professores. nao tivesse eu na minha casa portuguesa a melhor professora de matemática do mundo:)

(mesmo!)