segunda-feira, outubro 23, 2006

O movimento

A vida não pára.
Os momentos sucedem-se e ainda bem.
O preenchimento de espaços retira o tempo de lágrimas e ensina-nos a aceitar a mudança.
A semana que passou foi vivida num misto de emoções, praticamente desconhecidas para mim e também por isso, complicadas de gerir.
Descobrir algo que não me agradou no emprego levou-me aos píncaros da raiva. Ouvir: "o Sebastião morreu", deixou-me numa tristeza como nunca tinha vivido. Já na madrugada de Sábado, as primeiras imagens da Mariana e um sentimento de ternura enorme. Uma alegria a encher-me o coração e uma lágrima no canto do olho quando aqui cheguei e vi o relato fotográfico do seu primeiro dia de vida. Já percebi que vai ser um sufoco até lhe poder tocar...
No meio disto tudo, as entrevistas já agendadas anteriormente, resultantes da tal descoberta, seguem. Não me sinto com grande paciência para dizer aquelas tretas que os empregadores gostam de ouvir, acompanhado do sorriso e olhos a brilhar, mas o facto de existir movimento ocupa e prende-me o cérebro. Para já é tudo o que desejo.
Neste mundo frio dos números, apanhei o meu chefe na curva da desonestidade e não esperei 1 dia para enviar o meu CV. Foi com alguma supresa que constatei que experiência na minha área por estes lados é equivalente a 20 litros de água na Faixa de Gaza. Pede-se e muito.
O percurso normal de um sueco depois do secundário é ser "hippie". Faz biscates, corre mundo, aprende sobre o que quer e sobretudo o que não quer e mais tarde, já na casa dos 20 e qualquer coisa vai tirar um curso. Isto significa que no fim dos "vintes" chegam ao mercado de trabalho. É normal uma pessoa com 28 anos estar a trabalhar na sua área pela primeira vez. Claro que sendo uma prática frequente o mercado tem a flexibilidade para os receber, o que é bom.
O mesmo é dizer que encontrar pessoas com 5 anos de experiência e menos de 30 anos, não é nada frequente. Coisa que eu não sabia. Até agora!
Talvez seja uma altura boa, talvez seja um pequeno "boom", talvez tenha sido sempre assim...não sei. Noto apenas que áreas técnicas de engenharia como Informática (desenvolvimento), IT,Electrónica, Aeronáutica, Mecânica, Qualidade, Desenho (CAD/CATIA/UG), etc "saiem" como pãezinhos quentes .
A necessidade de contratar é tal, que a cada sítio onde vou me perguntam se conheço mais Portugueses (Hugo, Rui e companhia: isto até não é tão frio :)) que queiram vir para a Suécia ou Alemanha, onde estão maior parte das vagas (se bem que também já pedem para a China).
Isto deixa-me numa posição nunca experimentada até aqui. Em vez de sorrir e relatar todas as minhas epopeias; como "aquela vez que estive na Lua com o Nelo Braço Forte" ou a outra em que "construí a Muralha da China ao pé coxinho"; para tentar convencer o empregador que sou a pessoa certa, basta-me estar quieto a ouvi-los publicitar a empresa, explicando porque razão ela é a maior do mundo e quem sabe, até de Gotemburgo!!
Agrada-me. Deixa-me mais descansado.
No entanto, não me livro de algum sentimento de culpa por querer sair da minha empresa. Não lhes devo nada, mas sou assim. Gosto de agradar a gregos e troianos (como se o meu chefe perdesse mais do que 5 seg a pensar nisso..). Mas não fui eu o desonesto da história, portanto, que se lixe a taça!!
Hoje vou a duas entrevistas e se o meu chefe for esperto, dispensa-me de grandes explicações.
Basta olhar para mim e ver que estou de camisa. A última vez que tal aconteceu foi quando o conheci e lhe contei como tinha chegado à América na Nina, Pinta e Santa Maria :)

7 comentários:

Anónimo disse...

com um mercado assim tão promíscuo, qq dia até te estou a bater à porta para te cravar um raminho de salsa ;)

PS: Já sem pachorra para fazer login no cabrão do Blogger Beta para depois voltar a entrar no teu blog, fazer paste daquilo que já foi copy (e quando me lembro) e escrevinhar novamente a "word verification", já entretanto diferente. bahhh!

Tiago Franco disse...

Hugo: A Xana repetia-me uma frase há uns anos: "Coragem é ficar em Portugal!"...e acho q ainda se aplica. Eu não derreto nada, preferia estar quieto no meu canto, mas qdo me sinto enganado fico aqui com aquela vozinha no ouvido: "nha nha nha nha" o dia todo e isso é que já não pode ser.
Larga mas é a boina,alista-se como civil na Ericsson, compra uma antena da TV cabo e aparece que eu já tenho as Bohemias:))

Florenca (tem mesmo que ser este nome?): É favor aparecer porque o mercado é um verdadeiro deboche e quem recomenda, que neste caso seria eu :), recebe um bónus no valor de 300 bilhetes de cinema no WarnerLusomundo,portanto, toca a andar $$$$$

Anónimo disse...

Eu já tenho desculpa, os meus putos têm de ir para Alcochete.

Aí é só podões!!!

Um abraço.

Rosa disse...

E jornalistas, não precisam?? [eu não sou nada friorenta!] :D

Boa sorte para as tuas entrevistas!

catarina disse...

"O percurso normal de um sueco depois do secundário é ser "hippie". Faz biscates, corre mundo, aprende sobre o que quer e sobretudo o que não quer e mais tarde, já na casa dos 20 e qualquer coisa vai tirar um curso."

só agora é que descobriste isto? de facto, os engenheiros sao um bocado lentos da mona... qualquer dia vais-me dizer "ah e tal, só agora é que descobri que dos 170 e tal mil sócios que o slb angariou com a treta da venda dos kits, só aproximadamente 70 mil é que têm as cotas em dia"

rapaz: o mundo nao pára. tens que ser mais rápido.

PS: "o quê?!?!?!? tens 23 anos e estás a fazer o doutoramento?!?!?!? na tua idade eu estava a meio do curso!!! mas de que raio de planeta completamente anormal és tu?"
"gente: é assim quem desce à esquerda - é um rectangulo bonito que cheira a maresia e sol."

(foi assim que eu descobri a primeira coisa. a segunda li n'O Jogo.)

Tiago Franco disse...

Catarina:
Eu já tinha percebido que eles chegavam tarde ao mercado (o facto de o escrever agora, não quer dizer que o tenha descoberto há 15 minutos :)), a novidade para mim, reside apenas nos niveis salariais...não é o tipo de discussão que eles tenham a torto e a direito.

Tiago Franco disse...

Rosa: quem sabe, quem sabe :)