segunda-feira, outubro 02, 2006

O Buda e a Peste

Não sei se passou um ovni, se alces resolverem atravessar a linha ou se procuravam um gajo de turbante com uma bomba na cintura.
Sei que o comboio parou, sei que esteve imóvel uns bons minutos, sei que me atrasei. O que foi bom.
Fiquei até chateado quando aqui cheguei. Não por ser segunda-feira ou o início da semana, ou qualquer outra coisa do género. Fiquei aborrecido porque não consigo andar no meio de pessoas e ler ao mesmo tempo sem tropeçar. Foi por isso que me custou chegar ao trabalho e ter que, a contra gosto, fechar o "Budapeste".
O livro está no seu último capítulo e o enredo envolve-me cada vez mais. Sentia-me tão "dentro" da história que não estranharia ouvir húngaro quando entrasse nestas portas. Foi até estranho ter que falar inglês. Vizualizava palavras húngaras cuja pronúncia nem sequer imagino e da boca, queriam sair apenas legendas de Camões com sotaque de Vera Cruz.
De volta à realidade, o desejo expresso de que o almoço venha rápido. Ninguém me tira da mesa enquanto não perceber o que vai acontecer ao (K)Costa :)
Depois de olhar para o cartão de ponto pensei nos "profissionais-da-inpiração". Escrevem, cantam, desenham quando querem ou quando a musa criadora dá sinal. Não têm horários, não têm regras rígidas. Esperam pelo momento. A música certa, a paisagem exacta, o acontecimento específico, tudo, mesmo tudo pode funcionar como o "click" criador. E depois, é soltar e deixar ir.
Admiro e invejo essas pessoas. Imagino-os sempre de roupão vermelho, a despertarem num "loft" nova iorquino com chão de madeira, espreguiçando-se enquanto pelas longas janelas vislumbram o corre-corre dos aflitos. Táxis circulam, pessoas correm, toda uma azáfama em torno de um objectivo, prazo ou horário do momento. Esses momentos somados formam os dias, que repetidos originam meses, anos e vidas. O corre-corre garante o salário, denominador comum da sobrevivência e quem sabe algo mais. Mas para ele (o escritor), esse salário também aparece. Só que para isso, não necessita de exercer algo que um diploma lhe diz que sabe, que um CV obriga a saber ou que o mercado necessita desesperadamente. Tem um dom e usa-o. Tão só.
E é por isso que os admiro. Fazem o que realmente gostam, são pagos por isso e não têm horários para falar com a inspiração.
Inventam histórias. Pode existir algo melhor do que inventar histórias? Não o fazemos a toda a hora por toda e qualquer razão? Mesmo que não seja em público ou voz alta, não andamos sempre a contar histórias ao nosso imaginário?
Já admirava o Chico Buarque enquanto "escritor de canções" e acho-o extraordinariamente imaginativo neste seu romance, "Budapeste".
Admiro este tipo de pessoas, admiro muito. Invariavelmente, ocorre-me a mesma pergunta: "Como se entrará neste mundo?"
Bolas...até a Margarida Rebelo Pinto escreve livros.

4 comentários:

Anónimo disse...

E quem não gostaría de ser um profissional-da-inpiração?

Essa "profissão" aqui para a mesa do fundo, ó se faz favor :)

Sim, apesar de estar de férias, já estou acordada! Acho que dormir é enganar a vida ;)

PS: Epá, não migrem esta porra do blogger para a versão Beta. Epá que eu fiz isso no sábado e dei um grande tiro no pé!

Tiago Franco disse...

"Equipa que joga bem não se mexe", é a minha forma de estar na vida :)
Até agora o blogger não chateou muito, por isso...
Toca a despertar e tomar um belo pequeno almoco de sushi. Depois, o capitulo de hoje da clotilde, vá toca a andar :)

Anónimo disse...

Não será tão assim como nos parece à primeira vista. Já ouvi (li) de vários escritores que, ao contrário do que muitos pensam, trabalham cumprindo horários e rotinas. Sentam-se de manhã na sua secretária e 'trabalham' (sim, trabalham)arduamente por 8 e mais horas por dia.
É mto poética a visão de q acabámos de ler um romance fruto de uma inspiração arrebatadora e escrito em 2 ou 3 semanas de noites em branco, mas a verdade é bem mais crua. (pelo menos, em mtos casos)

Tiago Franco disse...

Mas sonhar n faz mal a ninguém :)
certo?