terça-feira, julho 18, 2006

O cálice da morte




Fez este mês 11 anos ( 7 de Julho de 1995) que, as Forças Servo-Bósnias lideradas pelo general Ratko Mladić (na foto à esq. bebendo com o Cor. holandês Ton Karremans a 12 de Julho, na véspera do massacre) ocuparam o enclave de Srebrenica, a primeira zona de protecção da guerra civil bósnia (1992-1995), cuja protecção havia sido entregue aos capacetes azuis holandeses. A maioria dos civis fugiram para Potočari, a principal base das forças da ONU no território, ou foram metidos em autocarros para o território controlado pelo governo. Na base, que havia sido tomada pelas forças sérvias, estas dividiram a população civil em grupos de homens, mulheres e crianças. Uma parte da população masculina, incluindo soldados, idosos e jovens, formaram uma coluna e tentaram forçar caminho para Tuzla situada no território controlado pelos Bósnios. Um "exodus" similar ocorreu na cidade de Zepa, igualmente tomada pelos Sérvios. Foram contadas cerca de 12,500 pessoas no total. Na tentativa de fuga, estas foram cercadas pelas forças Sérvias, que abriram fogo sobre a população, usando canhões anti-aéreos e metralhadores de grande calibre. Centenas foram mortos na emboscada, com muitos outros feridos e sistematicamente executados mais tarde. Aqueles que escolheram render-se foram levados pelas forças Sérvias e igualmente executados. O exército sérvio continuou a perseguir o restante grupo, matando centenas de homens, até aos limites do território controlado pelo governo bósnio. De 12,500 homens estima-se que apenas 5000 conseguiram escapar em segurança.Em Srebrenica, o exército Sérvio separou as mulheres e crianças dos homens (civis). A definição para a idade que os qualificava como homens ia mudando rapidamente, e cedo passou a incluir todos desde os 14 anos aos 65 anos de idade. Eram entregues doces às crianças enquanto que os homens eram reunidos e executados. Devido à natureza destes eventos, à muita confusão e propaganda de ambas as partes, o número exacto dos vítimas ainda hoje é discutido. Apesar dos Servo-bósnios desde logo terem sido acusados do massacre, foi apenas em Junho de 2004, após um relatório preliminar da Comissão de Srebrenica, que os oficiais sérvios admitiram que foram as suas forças que levaram a cabo o massacre. O relatório final da Comissão Sérvia sobre o que ficou conhecido como o "Massacre de Srebrenica", dizia que, em 1995, cerca de 7800 bósnios, homens e rapazes, foram executados pelas tropas sérvias.O processo de descobrir os corpos da vítimas na região de Srebrenica, muitos em valas comuns, exumá-los e finalmente identificá-los, tem sido relativamente lento. Por volta de 2002, cinco mil corpos haviam sido exumados, mas apenas 200 haviam sido identificados. No entanto, desde essa data, já se procedeu à identificação de cerca de 2000 corpos, e o número de exumações subiu para seis mil. O massacre de Srebrenica surpreendeu as tropas da ONU presentes no terreno. O comandante dos capacetes-azuis holandeses em Srebrenica aquando do genocídio de Julho de 1995 garantiu só ter percebido as intenções dos sérvios da Bósnia "três ou quatro dias" após a invasão do enclave muçulmano. "De início, as ordens eram para protegermos os refugiados", mas depois, "confrontámo-nos com um facto consumado: as tropas sérvias invadiram a cidade e evacuaram os refugiados colocados sob a nossa protecção", explicou Ton Karremans numa audiência preliminar no Tribunal de Haia, acrescentando que os seus superiores lhe pediram para "observar e apoiar" a evacuação. A investigação judicial sobre a actuação dos capacetes-azuis holandeses durante o massacre de Srebrenica destina-se a apurar se as famílias das vítimas podem apresentar uma queixa contra a Holanda. Karremans surgiu no tribunal na defensiva, explicando ao pormenor as decisões que tomou durante a invasão da cidade e o massacre que se lhe seguiu. O ex-comandante dos capacetes-azuis holandeses recordou ainda os encontros com o chefe militar dos sérvios da Bósnia, Ratko Mladic, e com representantes dos refugiados muçulmanos para preparar as evacuações. As famílias muçulmanas de Srebrenica foram obrigadas a abandonar o campo de refugiados em autocarros controlados pelas tropas sérvias. Nos dias seguintes à invasão da cidade, cerca de oito mil muçulmanos foram massacrados, sem que as tropas holandesas interviessem. Esta é uma tragédia que o Tribunal Penal Internacional (TPI) para a ex-Jugoslávia classificou como genocídio. Os dois principais acusados pelos crimes de guerra em Srebrenica, Mladic e Radovan Karadzic, continuam em fuga. Oito outros oficiais sérvios foram transferidos para o TPI nos últimos meses. Em 2002, o genocídio de Srebrenica levou à demissão do Governo holandês chefiado por Wim Kok, após a divulgação de um relatório que sublinhava a sua incapacidade para dar meios aos capacetes-azuis que garantissem o sucesso da sua missão. Causa alguma estranheza no entanto, que os capacetes azuis holandeses não tenham colocado observadores internacionais da cruz vermelha (presentes nos território nessa altura) no autocarros que os sérvios "disponibilizaram" para transportar os bósnios-muçulmanos para território sob controlo das UN. Como puderam "entregar" no meio de uma guerra civil a presa ao predador? Terá sido ingenuidade? Terá sido cobardia? Pouco importa se os capacetes azuis estavam em menor número, se tinham menos armas que o exército sérvio ou se o apoio aéreo da Nato falhou. A missão deles era proteger vidas a todo o custo e o que aconteceu foi precisamente o contrário. Não se adivinhava uma tarefa fácil para os soldados holandeses, qualquer pessoa com senso comum percebe isso. No entanto, tendo escolhido essa profissão de risco (e muito bem paga no quadro das UN diga-se...), não deviam em situação alguma fugir das suas responsabilidades. Se não estavam preparados para o perigo e risco da profissão, não seguiam a voluntária carreira militar... Nas reportagens de então, pode ver-se o comandante holandês Karremans brindando com um dos líderes do massacre, Ratko Mladic, enquanto este alegadamente fazia um ultimato às tropas da UN (exigindo a rendição dos bósnios-muçulmanos). Como se pode "beber um copo" com o agressor? Estaria Karremans tão dominado pelo medo que não esboçou a mínima resistência à entada dos sérvios em zona "segura" das UN? Estariam os responsáveis das UN a dormir que não perceberam o que se estava a passar? Quando os primeiros relatos chegaram pela voz dos sobreviventes as UN ainda foram negociar com os sérvios para lhes pedir "por favor" não matem mais ninguém? Onde estavam desta vez os "polícias do mundo", que aparecem do dia para a noite sempre que há um poço de petróleo por perto? Os sérvios são responsáveis pelo maior genocídio ocorrido na europa no período pós-II guerra mundial. Srebrenica recorda-nos a todos como a comunidade internacional depende dos EUA e como estes fazem depender os seus movimentos, do lucro que daí podem retirar ou não. Srebrenica provou que vivemos num mundo desumano, onde respeito pelo próximo e solidariedade entre povos são apenas utopias. Ratko Mladic e Radovan Karadzic, entre outros, por serem a face do genocídio devem enfrentar o seu destino em Haia e o actual governo sérvio, 11 anos depois do massacre, não deve poupar esforços para os entregar à justiça. Os capacetes azuis holandeses e os responsáveis das UN não podem simplesmente "assobiar para o ar". Eles também são culpados.


Tiago Franco

3 comentários:

Nuno Sousa disse...

Á esquerda não !

Á direita !

Ou na Suécia é ao contrário ??

Tiago Franco disse...

Jovem, o "à esquerda" refere-se não ao posicionamento da fotografia na página, mas sim ao posicionamento do general sérvio na fotografia.
À esquerda está o general sérvio e à direita o coronel holandês.
Ahhhhhhhhhhhhhh...tenho que explicar tudoooooooooooo :)

Anónimo disse...

É terrível como certas decisões (ou indecisões) tomadas num gabinete distante influenciam e determinam a tragédia de milhares de seres humanos!!