O último bailado entre os galácticos Figo e Zidane Rui Frias
"Sobre Figo, disse Jorge Valdano (o mais aclamado "pensador" actual do futebol) que "joga bem mesmo quando parece que joga mal". Sobre Zidane, escreveu o ex-futebolista argentino que "é um resumo da história do futebol. O disco rígido no seu cérebro parece juntar a história do futebol europeu e a história do futebol sul-americano: o resultado é um jogo universal". Não admira por isso que as duas primeiras opções do dirigente Valdano tenham sido precisamente essas. No Verão de 2000, Luís Figo foi apresentado no Real Madrid como a mais cara transferência de sempre do futebol - 60 milhões de euros. Um ano depois, Zinedine Zidane sucedeu-lhe e entrou no Santiago Bernabéu por 75 milhões. Figo e Zidane deram início a um projecto que marcou o futebol europeu de início de milénio. Agora, neste Mundial, provam a cada jogo que sobrevivem à morte do Real Madrid "galáctico". Nesta meia- -final Portugal-França, amanhã, reencontram-se para um último jogo em conjunto. No primeiro ano em que coexistiram na equipa blanca, o Real Madrid foi campeão europeu e intercontinental (2002). Depois, o projecto galáctico perdeu-se na mania das grandezas - entraram Ronaldo, Beckham, Robinho - entrou em declínio e arrastou Figo e Zidane para baixo: o português foi "empurrado" para o Inter de Milão no Verão passado; o francês esgotou a alegria e anunciou o abandono do futebol após este Mundial.Na voracidade do consumo de novas estrelas no Real Madrid, a velocidade das contratações foi-se incompatibilizando com o futebol requintado de Figo e Zidane, cuja idade (são separados apenas por meio ano, mais novo o português, 33 contra 34) os tornou nos alvos mais fáceis da crítica. Neste Mundial, ambos se têm encarregado de demonstrar que o falhanço dos galácticos não passou por eles. Ou, pelo menos, não lhes cabe a maior fatia da responsabilidade. E o reconhecimento disso chegou. Tarde, talvez, mas ainda a tempo de consagrar dois dos melhores futebolistas da última década do futebol mundial.Sobre Figo, por exemplo, lembrava há dois dias o ex-treinador do Benfica e Real Madrid e candidato derrotado ao lugar de director desportivo dos merengues, José António Camacho, em entrevista ao jornal A Bola: "Figo é um grande profissional, sabe que este é o seu último Mundial e que toda a gente tem os olhos postos nele. Soube assumir as responsabilidades e tem actuado como um verdadeiro capitão." Sobre Zidane, a homenagem de Santiago Segurola, editor-executivo do jornal espanhol El País: "Se um Mundial elege o melhor jogador do ano, então a Bola de Ouro tem de ir para um futebolista que se retira esta semana (...). Zidane reencontrou-se com o jogador que dominou o cenário do futebol mundial durante vários anos."Figo apareceu neste Mundial de espírito remoçado, entrega total ao jogo, futebol refinado nos pormenores - "joga bem mesmo quando parece que joga mal." Zidane esteve em risco de se despedir do futebol pela porta dos fundos (suspenso após o empate com a Coreia do Sul, com a França à beira da eliminação na primeira fase), mas o destino de uma das maiores figuras de sempre do jogo não podia acabar de se escrever assim. Zidane teve uma nova oportunidade e reapareceu em grande contra Espanha e Brasil. Este último jogo contra os brasileiros, então, resgatou o melhor Zidane: não falhou um truque, não errou um passe - "o resumo da história do futebol."A elegância é um dos pontos comuns ao futebol de Figo e Zidane - "parece que bailam sobre o relvado", escreveu-se um dia. Um apenas, em carreiras com percursos paralelos desde aquele Europeu de 2000 em que ambos deslumbraram - Figo foi para muitos o melhor jogador desse Europeu, mas a vitória da França (depois de eliminar Portugal na meia--final) deu o prémio a Zidane. O francês foi eleito o melhor do mundo pela FIFA, nesse ano, Figo foi o Bola de Ouro para a revista France Football. Um ano depois, trocaram os títulos e encontraram-se no Real Madrid, como os dois mais caros jogadores da História. Amanhã, reencontram-se para um último bailado em conjunto dos verdadeiros galácticos - na Alemanha, Figo derrotou Beckham; Zidane deu uma lição de futebol a Ronaldo (e Robinho) e Raúl. "
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